Por Rosiene Carvalho, Da Redação
MANAUS – O deputado estadual David Almeida (PSD), presidente eleito da ALE (Assembleia Legislativa do Estado do Amazonas) para o biênio 2017/2018, disse que as Eleições de 2018 permeara o pleito interno da Mesa Diretora. Nas próximas eleições, os cargos em disputa serão de governador e vice, deputados estaduais, federais e senado. Em uma entrevista dada ao ATUAL logo após a eleição da mesa diretora, David revelou detalhes da composição política que o levou a vitória, admitiu que irá presidir num cenário de maior fortalecimento da oposição e negou ter sido procurado na véspera do pleito pelo senador Eduardo Braga: “Comigo ele não teria êxito”, reagiu.
David vai ser o gestor de um orçamento independente que, em 2016, foi de R$ 264,8 milhões. E será uma espécie de representante dos outros 23 deputados, o que amplia nele um “status” mais pleno do poder em relação às limitações do cargo parlamentar por dar maior trânsito no governo.
A influência sobre o comando da ALE é importante porque, além de decisiva para a governabilidade do executivo estadual, é o palco de uma possível eleição indireta para governador do Estado. A eventual eleição indireta pode ocorrer caso o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) confirme a cassação do governador José Melo após o segundo ano de mandato.
Confira a entrevista.
ATUAL: Qual dos 17 votos lhe surpreendeu?
David Almeida (DA): Qual voto?
ATUAL: Sim. As manifestações públicas na quarta-feira somavam onze votos para o senhor. O deputado Bosco Saraiva (PSDB), que apresentou candidatura de oposição à sua, disse que a manteria em consideração a deputados, cujos nomes fez questão de citar. No entanto, parte destes mesmos deputados votaram no senhor e ele, que dizia ter doze votos, ficou com dois. Qual destes votos mais lhe surpreendeu?
DA: A base tinha cinco candidatos. De um lado tinha um candidato com doze votos. De outro lado, havia cinco candidatos. O que é mais fácil: os cinco se entenderem num lado com nove eleitores e cinco candidatos? O que é mais fácil, pegar esses candidatos que estão divididos ou mudar a cabeça de 12 que já estão decididos por um? E esses que não tem chance de serem eleitos …
ATUAL: Correrem para algum lado …
DA: É… Aderirem à candidatura. Foi isso que aconteceu. Eu não me surpreendi (com os votos que recebeu). Me surpreendi com os votos que poderia ter recebido.
ATUAL: Quais votos faltaram, nas suas contas?
DA: Faltou o deputado Sidney, que votou em branco…
ATUAL: O deputado Wanderley Dallas, após lhe elogiar na quarta, votou em branco também.
DA: É. Votou em branco também, até porque ele é do PMDB.
ATUAL: Não acha que este voto em branco, na condição dele, é quase um voto no senhor?
DA: (Risos) É, então, eu acreditava em 19 votos como foi a eleição do Josué. Josué teve 19 votos e eu tive 17. Portanto, não me surpreendi com nenhum voto. Até porque os que votaram em mim são deputados da base aliada. Já tivemos votação de matéria aqui com o placar de 19, 20, 21 votos. A base momentaneamente esteve dividida em busca, cada um, de seus espaços.
ATUAL: Em que momento os demais candidatos da base governista cederam suas candidaturas para o senhor na quarta? O senhor conversou com eles ou foi o governador?
DA: Olha, eu conversei, conversei… Eu sou líder do governo e até ontem tinha três deputados do PSD, três do PTN, dois do DEM, dois do PR, um do PSB e um do PRB. Eu tinha doze. E não tinha nenhum voto do partido do governador, o Pros. Então, era mais fácil o governador falar com os candidatos de seu partido. O governador falou.
ATUAL: O que acertaram?
DA: Nesta conversa, ficou acertado que deveriam conversar com os deputados da base. E, sendo assim, o deputado Belão, o deputado Bi Garcia, que não estavam no grupo dos doze. Deputado Dermilson, Sinésio,que são da base e votam com a base, entenderam que era mais fácil mudar, aderir aos doze do que os doze largarem uma candidatura que está posta para apoiar um que ninguém sabia quem era.
ATUAL: Desde o início do desenho desta disputa, quem mexeu, para não dizer bagunçou, a base governista, foi o deputado Sidney Leite que saiu do Governo, contrariando a vontade do governador e flertando com PMDB, e ajudou a incentivar este grupo de coalizão. Aí, ele volta, retira a candidatura e vota em branco. Qual o olhar do Governo para ele, diante disto, na sua opinião?
DA: É bem vindo na base. É do partido do governador, nós o queremos juntos aqui na ALE. Tem espaço no Governo, se precisar e desejar. Te garanto isso e ouvi isso do governador. Ele acreditava que poderia ser presidente da ALEAM, não deu certo, mesmo diante das composições que ele articulou. Mas é um quadro muito qualificado e nós não abrimos mão do apoio político dele.
ATUAL: O senhor falou que um dos principais compromissos como presidente será garantir que as emendas impositivas sejam executadas pelo governo. Dá para garantir isso? O governador em entrevista ao ATUAL destacou preocupação de onde tirar esse dinheiro.
DA: Vamos buscar isso. Esse é o maior desafio da Casa. Já indicamos a fonte da receita. Por exemplo, para a Educação, o Governo destinou para o município tal aquele recurso. Aí o deputado indica para o Governo onde aplicar. O investimento já estava no orçamento.
ATUAL: Tem algumas emendas que tratam sobre obras como academia ao ar livre, por exemplo. Como lidar com propostas que estão fora das prioridades de investimento do Governo?
DA: Exatamente isso é o nosso desafio. De buscar essa convergência. É o maior dos desafios.
ATUAL: O senhor vai voltar a se reunir com o secretário de Fazenda?
DA: Hoje é o último dia de votação. Encerro no plenário minha participação. Mas espero, voltando para a ALEAM, fazer uma administração participativa. Ouvindo os deputados mais experientes e menos experientes que eu. Não vou abrir mão da experiência do deputado Serafim Corrêa, Belarmino Lins, do deputado Sabá Reis. Do deputado Francisco Souza. Todos do poder legislativo.
ATUAL: Como o senhor observa a alteração da opinião de seus colegas em relação ao seu desempenho como liderança do governo. Havia críticas abertas e veladas de que o senhor não fazia bem nem a defesa e nem a interlocução com o Governo. Nos últimos dias, elogios à sua liderança. O que mudou?
DA: A minha atuação como líder do governo foi meu passaporte para a presidência da ALEAM. Então, a minha atuação como líder no pior momento da história da ALEAM me credenciou a disputar e vencer a eleição. As críticas, se foram feitas, foram de forma legítimas e autênticas. Mas temos que levar em consideração, que estávamos diante de um processo eleitoral. E que as pessoas que estavam criticando também queriam o mesmo cargo que eu almejava. Então, é natural.
ATUAL: A sua eleição tem um contexto, que não é igual a do presidente Josué. Vem circundada pelas emendas impositivas, a promessa de garantia de execução das mesmas, movimentação para dissudí-los do flerte com a oposição. Após tudo isso, na votação para a vice-presidência, Alessandra Campêlo teve um desempenho expressivo com nove votos, ainda que tenha perdido. A sua gestão será marcada por um momento de maior força da oposição?
DA: É o grupo que almejava estar na presidência. Estamos diante de uma cenário de dificuldade e desafios, fortalecimento sem dúvida da oposição. Vamos buscar unidade e convergência. E eu vejo um cenário que se vislumbra para 2017 e 2018. É ano pré-eleitoral e a disputa começa a partir de já. São desafios que precisamos tomar e enfrentar.
ATUAL: Qual compromisso que a sua gestão pode assumir com a população? Há uma dificuldade deste poder com a transparência de atos e gastos.
DA: Tudo é publicado. Pelo que conheço está tudo no portal da transparência.
ATUAL: O senhor acha que o modelo atual é o adequado?
DA: Eu vou me informar e estudar melhor isso. Se precisar de alteração que seja para melhor nós vamos fazer.
ATUAL: Como fazer com que a população esteja mais presente e informada das matérias votadas na ALEAM?
DA: Uma das minhas propostas é utilizar a programação da TV ALE e da Rádio. Buscar espaços maiores para trazer a população aqui para dentro. Igrejas, associações. Já tivemos aqui projetos como Jovem Cidadão, Assembleia Cidadã. Vinham assistir palestras sobre o que é o Poder Legislativo, havia isso num cenário com mais recursos. Acreditamos que podemos buscar essa participação mesmo com a atual dotação orçamentária.
ATUAL: O senhor acha que os deputados que não votaram no senhor seriam perseguidos, como insinuou o deputado Bosco Saraiva?
DA: Claro que não. Professor José Melo é uma das figuras mais dóceis e fácil de lidar. Pessoas de bom trânsito, bom relacionamento. Nunca ouvi alterar a voz para nenhum deputado. Ele não faria isso com o deputado Bosco. Vamos levar para conversar e buscar a unidade da base.
ATUAL: O senador Eduardo Braga chegou a lhe procurar, como fez com vários deputados da base
DA: Não chegou, não. Comigo ele não teria êxito.