Teófilo Benarrós de Mesquita, da Redação
MANAUS – A paixão, milenar, existe desde o surgimento da humanidade. E o futebol, secular, é passional. Sempre foi e sempre será.
O torcedor xinga.
Xinga por tudo. Xinga por nada.
Xinga o árbitro. Xinga o assistente.
Xinga o time rival. Xinga o torcedor do time rival.
Xinga com razão. Xinga sem razão.
Mas, em raras ocasiões, a paixão se transforma em amor. Pelos gramados do Amazonas, o amor também está no ar.
Nesse Dia dos Namorados, 12 de junho, o AMAZONAS ATUAL apresenta uma história com final feliz, embora quase improvável.
Frequentador de estádios desde criança, Israel Bacelar de Melo, 33 anos, operador de abastecimento, é fastiano ferrenho, desses que xinga árbitro, assistente, time adversário, torcedor de time adversário… Vanessa Silva e Silva, 30 anos, turismóloga, começou a assistir jogos de futebol um pouco mais tarde e tem quase o mesmo perfil, com uma diferença fundamental – é nacionalina.
Nacional e Fast Clube protagonizam um dos mais charmosos clássicos do futebol brasileiro, o Pai&Filho, em razão do Tricolor de Aço ter surgido de uma divisão do Mais Querido. Historicamente, o Nacional é o pai do Fast Clube. Mais um elemento para aumentar a rivalidade.
Israel é mais frequente nos estádios e lembra bem da primeira vez que assistiu a um jogo de futebol. “Foi no Vivaldo Lima, antes da reforma de 1995. Ainda tinha o relógio e a arquibancada do lado da Constantino (avenida Constantino Nery) estava interditada”, rememora.
Vanessa começou a assistir jogos de futebol aos 20 anos. Um ano depois, conheceu Israel, de forma virtual, através do futebol. Logo veio a amizade, que evoluiu para o namoro.
A distância nas arquibancadas e o peso da rivalidade não foram maiores que o sentimento. “Eu e o Israel nos conhecemos em 2012 primeiro nos grupos (de internet) relacionados ao futebol amazonense e depois nos estádios. Na época éramos apenas colegas e mesmo com a grande rivalidade, tudo mudou em 2017, quando começamos a sair, nos conhecemos melhor e passamos a namorar”, lembra Vanessa.
Na agenda do casal, apenas um clássico Pai&Filho, juntinhos, em local neutro na arquibancada do Estádio Carlos Zamith, com vitória do Fast Clube. “Inúmeros clássicos que o Nacional ganha, quando eu vou com o Israel o Fast leva a melhor”, diz a nacionalina, rindo.
Da união nasceu Diana Silva Bacelar, que vai completar 3 anos em agosto. Tal pai, tal mãe, tal filha; Diana já demonstra gostar de futebol. “Em 2018 tivemos uma filha chamada Diana, que adora jogar futebol. Ela não tem time ainda, vamos deixar ela escolher mais tarde, mas cada um puxa sardinha pro seu time do coração, óbvio”, afirma a nacionalina Vanessa.
“Ela gosta de jogar futebol com a gente. Grita gol também”, narra Vanessa. “Quando melhorar (a situação da Covid-19) queremos levar a Diana para os estádios. Ainda não levamos. Ela já assistiu alguns jogos pela TV”, completa Israel, com a concordância de Vanessa.
“Assim como o Israel cresceu acompanhando os times daqui, também queremos mostrar para ela a emoção que só o futebol pode trazer”, planeja a mãe.
Enquanto espera a estreia em arquibancadas, Diana se diverte nas peladas familiares. Por enquanto, Israel tem levado vantagem na influência sobre a preferência da futura paixão futebolística da menina.
“A Diana é Tricolor”, incentiva o pai.
“Não”, responde a mãe de pronto.
Diana, que ainda ensaia as primeira palavras solta um bordão de arquibancada “um, dois, é Tricolor”, com sua voz fina.
“Eu mereço, olha”, reage Vanessa, finalizando com um “muita calma nessa hora “.