Da Redação
MANAUS – O pesquisador Carlos Nobre, presidente do Comitê Científico do International Geosphere Biosphere Progamme, afirmou em webconferência do TCE (Tribunal de Contas do Amazonas) nesta sexta-feira, 17, que o desmatamento da Amazônia está próximo de alcançar níveis irreversíveis.
Com o tema ‘Desmatamentos e Queimadas na Amazônia’, os conferencistas discutiram o aumento das queimadas e do desmatamento na região. Para Carlos Nobre, se a devastação da floresta continuar avançando, a região sofrerá transformações permanentes.
“Não estamos, infelizmente, longe desse ponto de não retorno. Se em meados de 2050 este cenário com a mudança climática, o desmatamento em 20%, e os efeitos do aumento nos incêndios florestais, teremos uma parte de savana que tornaria as consequências irreversíveis na Floresta Amazônica”, alertou o pesquisador.
Carlos Nobre falou sobre as peculiaridades da floresta, que consegue gerar umidade e chuva para si mesma, diferente de outros biomas, sendo fator importante para a sua preservação.
“A Floresta Amazônica existe porque não existe uma estação seca, como é o exemplo do cerrado. A floresta gera condições para sua própria existência, gerando chuva, tornando a estação seca muito curta. Essa evolução biológica faz um solo super úmido e, portanto, quando tem uma descarga elétrica, não propaga fogo. Por isso o tamanho da biodiversidade na Amazônia”, explicou o pesquisador.
Nobre afirmou que as queimadas estão convertendo uma grande parte da Amazônia em espécies de savanas, o que irá refletir diretamente na condição climática da região, podendo influenciar, negativamente na biodiversidade do bioma amazônico.
Dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) mostram, segundo o pesquisador, que o país tem falhado em conter o desmatamento, com a ausência de ações efetivas de fiscalização.
Desde 2015 os números de desmatamento vêm aumentando, mostrando uma tendência de continuidade para os próximos anos. Segundo ele, o desmatamento tem relação direta com o aumento no número de queimadas. Para o pesquisador, é possível contornar esse ponto de não retorno previsto pelos estudos. Porém, é necessário que se aumentem as ações de controle e combate aos desmatamentos e queimadas na floresta.
Ricardo Galvão, ex-diretor do Inpe, afirmou na webconferência que as negativas do governo federal em relação aos índices de desmatamento e queimadas na Amazônia interferem no trabalho de combate às ações e colocam em risco os biomas brasileiros.
Galvão, eleito pela revista científica Nature como a pessoa mais importante da ciência em 2019, defendeu os dados fornecidos pelo Inpe. “Quando o governo diz, por exemplo, que os dados do Inpe não servem para monitorar desmatamento, isso não é verdade. Nós temos exemplos claros do sucesso do monitoramento para embasar as ações de combate”, afirmou.
Segundo o governador do Amazonas, Wilson Lima, a Amazônia está entrando no período de estiagem, época do ano em que historicamente mais se registram focos de calor na região, exigindo atenção redobrada das forças de vigilância do Estado. “O Amazonas começa a se mobilizar e tem o comitê permanente de controle de desmatamento e queimadas, e aí a gente começa a trabalhar com mais intensidade a partir de maio, montando rodas de conversa e capacitação nos municípios”, afirmou.
De acordo com Lima, em junho houve redução nos índices de desmatamento em relação ao mesmo período de 2019. “Tem alguns movimentos que já fizemos nesse ano, como a adesão à GLO, que é a Garantia da Lei e da Ordem, com ajuda do Exército. Lançamos o nosso plano de controle de queimadas e prevenção, e já temos uma boa notícia, que é a redução de 12% nos alertas de desmatamento nesse mês de junho, em relação ao mesmo período do ano passado”, pontuou.