Por Bianca Gomes e Karina Ferreira, do Estadão Conteúdo
BRASÍLIA – O desempenho do MDB nas urnas no primeiro turno das eleições e projeções para o segundo turno, no domingo (27), levam PT e PL a tentar atrair a legenda.
O MDB foi o segundo partido com mais prefeitos eleitos, vencendo em 847 cidades na primeira fase da disputa. O PSD, partido do ex-ministro e secretário de Governo de São Paulo, Gilberto Kassab, foi a legenda que mais obteve votos no primeiro turno: a sigla elegeu 878 prefeitos no primeiro turno.
Publicamente, petistas afirmam que Lula deve ampliar o arco de alianças para 2026, incluindo o MDB. Conforme publicado pelo colunista do jornal O Globo Lauro Jardim, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, citou o partido de Nunes como um a ser incorporado à aliança petista durante uma conversa com a diretoria da XP, em São Paulo.
Mas o bolsonarismo também está de olho na legenda. Na terça-feira (22), em coletiva de imprensa após participar de um evento de campanha de Nunes, o próprio ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foi questionado se buscaria o apoio do MDB em uma eventual candidatura em 2026 e respondeu: “É lógico”.
O fato de a sigla estar à frente da capital paulista e se equilibrando entre o governo federal e o estadual levanta dúvidas sobre qual rumo tomará em 2026: se continuará alinhada a Lula ou se embarcará num projeto de centro-direita.
Disputa
Caso vença a Prefeitura de São Paulo, o MDB vai travar uma disputa acirrada com o PSD pelo título de partido que governa o maior número de brasileiros. No primeiro turno, a legenda de Nunes perdeu a liderança que mantinha há anos no número de prefeitos, ficando atrás do PSD por uma diferença ínfima de cerca de 30 cidades.
Será também a primeira vez que o MDB conquistará a Prefeitura da capital paulista por voto popular – o único prefeito do MDB em São Paulo foi Mário Covas, nomeado em 1983 pelo então governador Franco Montoro, durante a ditadura militar. Nunes foi vice na chapa do prefeito Bruno Covas (PSDB), que morreu no exercício do cargo, em 2021.
Fator Tarcísio
Embora haja pouca disposição no MDB para apoiar Bolsonaro em 2026, a ideia de seguir um projeto liderado pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) é vista com entusiasmo. Segundo apurou o Estadão, desde que assumiu a Presidência, Lula não chamou o deputado federal Baleia Rossi, líder do MDB, para uma conversa, o que incomodou o dirigente nacional. Esse distanciamento contrasta com a postura de Tarcísio.
O MDB teve um papel decisivo na vitória de Lula em 2022. Embora a sigla tenha declarado neutralidade, a direção nacional liberou seus filiados para apoiar tanto o petista quanto o então presidente Jair Bolsonaro. Essa decisão abriu espaço para que a emedebista Simone Tebet, que alcançou cerca de 4% dos votos no primeiro turno do pleito, apoiasse Lula, ajudando a garantir a vitória apertada do petista sobre o então candidato do PL.
Se, no governo Bolsonaro, o MDB não ocupou o primeiro escalão, sob Lula, conquistou o comando de três ministérios: Cidades, com Jader Filho; Transportes, com Renan Filho; e Planejamento, com a própria Simone Tebet.
Apesar do alinhamento com a esquerda em nível federal, em São Paulo, Estado mais populoso do país, o MDB se aproximou de Tarcísio durante as eleições deste ano, com o governador se tornando um dos principais entusiastas do projeto emedebista na capital.
A articulação de Baleia Rossi com Tarcísio levou o PL a desistir de lançar uma candidatura própria e aderir à coligação do prefeito. A relação entre os dois partidos – PL e MDB – se tornou mais estreita com a indicação de Bolsonaro para a vice de Nunes, o que colocou a digital do bolsonarismo na principal vitrine do MDB no Brasil. No primeiro turno, a legenda garantiu as prefeituras de duas capitais: Boa Vista (RR) e Macapá (AP).
No domingo, aposta em vitórias em Belém (PA), Porto Alegre (RS) e São Paulo (SP). Na capital paulista, Nunes é apoiador de Bolsonaro e chegou a ameaçar deixar o MDB em 2022, quando Simone Tebet subiu no palanque de Lula.
‘Bolsonarização’
Na eleição deste ano, Baleia Rossi foi coordenador da campanha de Nunes e trabalhou para evitar uma “bolsonarização” da candidatura, fazendo o meio de campo para que o prefeito não entrasse em embates diretos com o governo federal, conforme aliados. Nunes, de fato, pouco falou sobre Lula durante a campanha, mantendo a rivalidade apenas com Boulos.
Pesquisa Quaest sobre o segundo turno em São Paulo divulgada ontem mostra Nunes com 44% das intenções de voto e Boulos com 35%. O cenário se mantém com alterações apenas dentro da margem de erro. Segundo o levantamento, 19% dos eleitores afirmaram que votariam em branco ou anulariam o voto caso o pleito fosse hoje; outros 2% se disseram indecisos.
Na pesquisa anterior do instituto, divulgada na quarta-feira da semana passada, 16, Nunes apareceu com 45% das intenções de voto, ante 33% das menções para Boulos. Eram 19% os votos em branco, nulos e quem disse que não vai votar, e 3% dos eleitores entrevistados não responderam.
Oscilação
Comparado ao novo resultado, Nunes oscilou um ponto para baixo, enquanto Boulos oscilou dois para cima. O levantamento da Quaest entrevistou 1.200 eleitores paulistanos entre os dias 20 e 22 de outubro, tem margem de erro de três pontos porcentuais, índice de confiança de 95% e registro no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob o protocolo SP-06257/2024.