
O aprofundamento da crise ambiental e sanitária no país repercute de modo impactante sobre a economia e afeta as condições de segurança pública.
A degradação do meio ambiente no Brasil alastra-se sem controle. A partir dos últimos três anos, os registros científicos atestam significativo aumento das ocorrências de violações ambientais e delitos ecológicos. Os desmatamentos e as queimadas têm ampliado como nunca o desflorestamento, principalmente na Amazônia brasileira.
O sistema Deter de análise de imagens de satélite, empregado pelo INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Especiais), aponta que o desmatamento na Amazônia aumentou neste ano (2020) quando comparado ao ano passado (2019). Segundo esse registro, em junho de 2020, ocorreu derrubada de 1.034 Km2 de área de floresta na Amazônia Legal, equivalente a uma cidade de Belém-PA. Esse dado indicou uma alta de 10,65% em relação a junho de 2019, ocasião em que o sistema Deter verificou a perda de 931,81 km2 de floresta na Amazônia.
De acordo com o INPE, apenas no primeiro semestre de 2020 foram desflorestados 3.069,57 Km2 na Amazônia, ou seja, 25% mais que no primeiro semestre do ano passado. Se for considerado um período um pouco maior, de agosto de 2019 a junho deste ano, o Deter evidenciou a devastação de 7.566 Km2, isto é, 65% a mais do que no período entre agosto de 2018 a junho de 2019. Os dados do INPE revelam ainda um período de 14 meses consecutivos de alta no desmatamento da floresta amazônica.
Os apelos nacionais e internacionais multiplicam-se e se amplificaram, contudo, não se fizeram ouvir pela “surdez” governamental. Em resposta, associada aos efeitos da pandemia, investidores começaram a abandonar o país. Em 12 meses, a fuga de capitais já havia alcançado o estratosférico montante de US$ 50,9 bilhões do mercado financeiro brasileiro. A maior retirada líquida ou fuga de investimentos de toda a série histórica do Banco Central (BC), conforme os dados divulgados no dia 24 de junho desse ano. Mesmo assim, a insensibilidade ambiental e a irracionalidade sanitária persistiram como base das posturas governamentais.
Em 08 de agosto de 2020, a “gripezinha” simplesmente ultrapassou o número de 100 mil vítimas fatais. A maior tragédia sanitária de que se tem notícia e registro histórico no país. Não precisava ter sido um resultado tão trágico, segundo Oxford. O ambiente social, econômico e político-institucional tornou-se muito mais inseguro. E contribuiu para tanto, sobretudo, a atitude do governo federal, em especial do atual titular da Presidência, seus auxiliares e aliados imediatos.
Enfim, não é à toa a trágica situação ambiental e sanitária do país. Um ponto muito próximo da curva da irreversibilidade dos danos ambientais, dentre outros, num contexto sem melhores horizontes políticos nem perspectivas econômicas. E os platôs da pandemia não cedem, apenas seguem… fatais.
*Pontes Filho é doutor em Sociedade e Cultura na Amazônia (UFAM), mestre em Direito Ambiental pela Universidade do Estado do Amazonas (UEA), bacharel em Direito pela Ufam, bacharel e Licenciado em Ciências Sociais pela Ufam. Professor, exerce a docência desde 1996. É pesquisador de história da Amazônia e direitos socioculturais na região com livros publicados sobre esses temas, dentre os quais: "Logospirataria na Amazônia", "História do Amazonas", "Vicio e criminalidade", "Terceiro ciclo". Professor da Universidade Federal do Amazonas. Servidor público do Estado do Amazonas. Escreve frequentemente artigos para jornais, revistas e veículos eletrônicos de jornalismo.
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