A subestimada ‘gripezinha’, segundo alguns elementos sem noção, converteu-se rapidamente num fator de insegurança planetária e num grande desafio às sociedades.
Insegurança e quarentena
A pandemia global de Coronavírus (Covid-19) constitui uma grave ameaça à vida humana, à qualidade de vida, à economia, aos mercados, ao modelo político aberto ou tendente à democracia, à continuidade dos serviços públicos, à viabilidade da administração pública e às instituições de um modo geral. Enquanto não houver uma vacina, um antídoto à moléstia, todos estão ameaçados e sujeitados a uma quarentena sem data certa pra acabar.
Insegurança econômica
A vida segue em meio ao suspense, ao medo, às ansiedades com tamanhas incertezas. O ritmo dos mercados e da economia mundial sofreu uma abrupta interrupção. Não apenas desacelerou como vai estacionando rapidamente. Ações de empresas “âncoras” nas bolsas de valores derreteram. Negócios em geral simplesmente estagnaram ou despencaram. Projeções de desemprego, quebradeiras e falências em massa. A recessão global, em 2020, é dada como certa, uma consequência inevitável da dimensão dos impactos do Covid-19.
Insegurança política
O atual modelo político aberto, vigente na maioria das nações ocidentais, também corre riscos e já sofre abalos em seus sistemas de direitos e garantias às liberdades civis e individuais. Nesse cenário, não se pode prever o quanto resistirão os regimes democráticos às provações impostas por uma crise sanitária e estrutural que não pode ainda ser dimensionada.
Coronavírus e insegurança no Brasil
Enquanto o Covid-19 se expande e causa perdas e danos pelo mundo, no Brasil, o governo federal continua a passar mensagens dúbias à sociedade brasileira, com o presidente fazendo o inverso do que recomendam seus ministros e as autoridades da área da saúde. Convoca protesto de rua a favor de si próprio (egolatria), vai ao encontro de populares para abraça-los e fazer “selfs” quando deveria estar de quarentena.
Em meio ao estado de calamidade, consegue-se produzir uma crise diplomática com a China, principal parceiro comercial do país. Hesita-se em tomar providências para evitar que o Coronavírus se difunda nos Estados, levando os governadores a adotar medidas descoordenadas com o poder central. O governo federal demora a decidir, a programar e a implementar as ações que visem atenuar os efeitos da pandemia nas periferias, nos sertões, nas favelas e nos lugares longínquos distribuídos pelo território brasileiro, onde está a grande massa de pessoas pobres, vulneráveis sociais e mais expostas à pandemia do novo vírus.
Aliás, ainda não está claro como será gasto, em que mesmo será investido, quem fiscalizará e fará o controle social do emprego dos recursos ampliados com a aprovação do estado de calamidade no Brasil. Fundamental é a transparência à sociedade da gestão das verbas públicas, a eficaz aplicação das mesmas e a ampla participação dos organismos sociedade civil no controle social dos recursos públicos.
Grande parte da insegurança com o contexto de pandemia do Covid-19, no Brasil, resulta da crescente sensação de desgoverno e de incompetência para com a classe política brasileira, principalmente em função das trapalhadas e crises desnecessárias protagonizadas pelo atual chefe do Executivo federal e sua prole.
A preocupação das autoridades médicas e da saúde aumenta à medida que a contaminação viral se expande no país e infecta regiões menos assistidas, mais vulneráveis, expostas à pobreza e à exclusão social, nas quais os meios são muito mais escassos, e cuja demanda pode levar ao colapso do sistema único de saúde (SUS), afetando de maneira significativa a segurança pública, inclusive com a possibilidade de aumento da criminalidade.
O que aprender com o novo Coronavírus?
A dramaticidade do atual cenário de insegurança sanitária no planeta, gerada pela pandemia do Covid-19, exige um maior compromisso com questões fundamentais à qualidade de vida.
O aspecto trágico da difusão do novo Coronavírus é também bastante didático ao revelar o quão essencial é a segurança alimentar, a proteção do meio ambiente, a promoção da justiça social e da solidariedade, o fortalecimento das instituições democráticas, a relevância do Estado como agente organizador da proteção e de assistência à vida humana em sociedade, insubstituível pelo mercado. São ensinamentos imprescindíveis para que se possa viver em sociedade, de modo sustentável, e com respeito à dignidade humana.
A insegurança global gerada pela ainda descontrolada pandemia do novo Coronavírus, nestes tempos de medo, de quase pânico, de irresponsabilidade governamental e ambiental sem precedentes, tem muito a nos ensinar. Talvez assim não haja mais necessidade de uma pandemia para ver o azul do céu na China ou a transparência das águas nos canais de Veneza. Resta saber se realmente iremos tentar aprender e aplicar essas lições ou apenas fazer de conta que foi mais um infeliz caso fortuito ou mera má sorte.
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