MANAUS – Cenas vergonhosas e lamentáveis marcaram, na tarde desta quinta-feira, 3, a eleição da Mesa Diretora da Assembleia Legislativa do Amazonas. Os deputados rolaram na lama, com acusações e decisões inimagináveis em um processo democrático.
A primeira ação foi mudar a Constituição do Estado para atender a interesses de um grupo, exatamente o grupo que venceu a disputa eleitoral para a presidência do Poder Legislativo.
Os deputados apresentaram, sem autoria, uma emenda à Constituição estadual que flexibilizou as regras da eleição para a Mesa da Assembleia. Pela Carta Constitucional, a eleição deveria ser feita na última sessão deste ano, entre os dias 16 e 17 deste mês. Com a mudança, pôde ser realizada nesta quinta.
Os deputados que apresentaram a PEC (proposta de emenda à Constituição) colocaram a autoria em nome da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça), mesmo que boa parte dos deputados que compõem a CCJ não tenham participado.
A Tramitação da PEC foi relâmpago: em três minutos, segundo a deputada Alessandra Campêlo (MDB), foi aprovada na CCJ. Em seguida, o presidente criou uma comissão especial para analisar a PEC, e mais três minutos foram suficientes para a análise e aprovação. Mais alguns minutos, e a PEC foi aprovada em plenário, promulgada e publicada no Diário Oficial Eletrônico da Casa Legislativa. Tudo pronto para a eleição.
No Congresso Nacional uma PEC leva semanas, às vezes meses para ser aprovada.
Feita a mudança na Constituição, os deputados formaram uma chapa encabeçada por Roberto Cidade, que venceu a eleição e vai ser o novo presidente do Poder Legislativa do Amazonas.
Mas até a eleição, muita lama rolou no plenário da Assembleia. A deputada Alessandra Campêlo acusou os deputados de venderem o voto para o grupo que estava, segundo ele própria, “dando um golpe no governador Wilson Lima”.
Nas palavras da parlamentar, o grupo que se elegeu para a Mesa Diretora, aposta na cassação do governador e do vice-governador para assumir o Poder Executivo. Cassados o governador e o vice, quem assume o governo é o presidente da Assembleia Legislativa.
Teve mais: Belarmino Lins (PP), que disputou a presidência na chapa derrotada, previu que a Polícia Federal poderá fazer uma varredura na Assembleia Legislativa, como já fez em outros Estados. Ele não explicou os motivos, mas deixou no ar que algo errado estava acontecendo.
Houve, ainda, acusações de troca de cargos, de venda de voto, de negociatas de bastidores, de traição de deputados que até ontem estavam com o governador Wilson Lima e que hoje sentaram-se à mesa com seus adversários na Assembleia entre outros.
Os xingamentos e palavrões proferidos foram tão incômodos quanto o silêncio daqueles que se comportaram como quem faz coisa errada. O candidato a presidente abriu mão de usar a tribuna para defender sua candidatura, assim como o atual presidente Josué Neto (PRTB), se manteve imóvel e mudo diante das ofensas que recebeu.
As cenas produzidas pelos deputados são a prova cabal de que os eleitos não representam os cidadãos, mas apenas seus próprios interesses.