Da Folhapress
SÃO PAULO – O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) disse nesta quinta-feira, 28, que será natural se a população recorrer às Forças Armadas caso esteja insatisfeita com o desempenho do Congresso Nacional e do STF (Supremo Tribunal Federal).
Apesar de dizer que um golpe militar não vem sendo discutido, o filho do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) citou o golpe de 1964 como exemplo de “clamor popular” por uma intervenção dos militares para dirimir problemas entre os Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário.
Em entrevista à Rádio Bandeirantes, o deputado afirmou que o STF vem interferindo no Poder Executivo e que isso poderia levar a uma insurgência por parte da população. “E vou me valer de novo das palavras de Ives Gandra Martins: o poder moderador para restabelecer a harmonia entre os Poderes não é o STF, são as Forças Armadas”, disse Eduardo. “Eles (Forças Armadas) vêm, põem um pano quente, zeram o jogo e, depois, volta o jogo democrático. É simplesmente isso”, afirmou.
O filho do presidente lembrou o golpe de 1964 – que impôs a ditadura militar, que durou 21 anos, com restrição de direitos e perseguição a opositores. Ele disse que a população foi às ruas e que era um período de grande instabilidade, fazendo indiretamente uma associação com a fase vivida atualmente.
“Os militares só entraram em ação depois do clamor popular. Ninguém quer isso. No entanto, as pessoas que não conseguem enxergar dentro do STF e no Congresso instrumentos para reverter esse tipo de desarmonia entre os Poderes, eles se abraçam no artigo 142”, afirmou.
O citado artigo da Constituição Federal – promulgada em 1988, após o período de ditadura- diz respeito aos direitos, deveres e organização das Forças Armadas. Nele, fica esclarecido que as Forças Armadas são subordinadas ao presidente e que compete a elas a garantia dos poderes constitucionais.
Eduardo criticou o Supremo por causa do inquérito que investiga uma suposta interferência do presidente Bolsonaro na Polícia Federal e pela ação desta quarta-feira, 27, autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes, que determinou busca e apreensão em casa de apoiadores e deputados bolsonaristas, no âmbito do inquérito das fake news. “Nesse momento ninguém deseja conflito, mas os ministros (do STF) estão esgarçando essa corda”, disse Eduardo.
“Muita gente acha que é tudo arquitetado. O gabinete do ódio é falácia”, continuou. “Gabinete do ódio” foi uma expressão cunhada durante a CPI das Fake News. Segundo opositores do governo, servidores de dentro do Planalto promovem fake news e ameaças contra autoridades na internet. O palácio nega.
Eduardo ainda fez críticas diretas a Alexandre de Moraes, a quem acusou de extrapolar limites. “Não é todo o Supremo. Mas eu, como deputado, ainda acredito que tenho direito para falar o que penso. O Alexandre extrapolou todos os seus limites. Isso é uma vergonha para o STF. A população enxerga a atuação como um todo”.
Referindo-se ao pai, o parlamentar continuou: “A população elege um presidente para quebrar uma década de corrupção. Todos estão enxergando que ele é vítima. Hoje [quinta] ele fez um desabafo. E o golpe final do Alexandre Moraes contra os conservadores foi a busca e a apreensão”.
Eduardo afirmou ainda que “daqui a pouco ele tá exigindo o celular do presidente sem motivo. O STF é guardião da Constituição, mas não está acima dela”.
O presidente Bolsonaro não é investigado formalmente no inquérito das fake news, e nenhuma das ações da operação autorizada pelo STF envolveu diretamente o presidente, apenas aliados seus e apoiadores.
Em live na noite desta quarta-feira ao lado de alvos da ação do Supremo, Eduardo defendeu uma reação enérgica a ministros da corte e tratou uma ruptura como inevitável.
“Até entendo quem tem uma postura moderada para não chegar num momento de ruptura, de cisão ainda maior, de conflito ainda maior. (…) Mas falando abertamente, opinião de Eduardo Bolsonaro, não é mais uma opinião de se, mas de quando isso vai ocorrer”, afirmou o deputado.