Por Teófilo Benarrós de Mesquita, da Redação
MANAUS – O desfile de tanques, caminhões e armamento militares na manhã desta terça-feira (10) em Brasília foi repudiado pelos senadores do Amazonas Omar Aziz (PSD) e Eduardo Braga (MDB), em sessão da CPI da Covid. Os blindados foram usados para entregar ao presidente Jair Bolsonaro convite para evento da Marinha a ser realizado no dia 16 deste mês. Aziz classificou o ato como “ataque à democracia”. “Democracia sim, golpe não”, afirmou o senador.
O ato aconteceu no mesmo dia em que a Câmara dos Deputados vai analisar a proposta de Emenda à Constituição que prevê o voto impresso para as eleições já a partir do ano que vem.
Omar Aziz, presidente da CPI da Covid, afirmou: “O Brasil passa por um momento grave e aqui do nosso lado, no eixo monumental, o presidente Jair Bolsonaro comanda um lamentável desfile de blindados das Forças Armadas em uma clara tentativa de intimidar parlamentares e opositores”, disse.
Omar relacionou o desfile à votação da Emenda Constitucional que quer a implantação do voto impresso. “Não haverá voto impresso. Não haverá golpe e as instituições, Congresso à frente, defenderão a democracia. A democracia tem instrumentos para defender a democracia. Quem defende o fim da democracia deve ser punido com os rigores da lei”.
Para o presidente da CPI, o uso dos equipamentos militares é uma clara ameaça à democracia. “O presidente cria uma encenação, uma coreografia para mostrar que tem o controle das Forças Armadas e pode fazer o que quiser com o país. Não é um teatro sem consequência, mas um ataque frontal à democracia, que precisa ser repudiado”.
Omar também lamentou que a máquina pública seja usada pelo presidente. “O papel das Forças Armadas é defender a democracia e não ameaçá-la. As Forças Armadas jamais podem ser usadas para intimidar sua população… Não há nenhuma previsão constitucional para isso (o desfile de tanques)”, disse. “A democracia é inegociável. Aqueles que usam todos os meios para apoiar o golpe estão cometendo crime inconstitucional. Quem apoia esse tipo de arroubo golpista é contra a democracia”.
Guardiões da Constituição
Também na reunião da CPI, Eduardo Braga (MDB) lembrou da função constitucional do Senado Federal de ‘guardião da Constituição’ e da votação na Casa da extinção da LSN (Lei de Segurança Nacional) no mesmo dia do desfile promovido por Bolsonaro. “Neste dia vemos o presidente da República querer dar demonstração de força desfilando com tanques e aparatos bélicos. Neste dia eu fico com a democracia. Fico com o artigo da Consitituição que diz que ‘todo poder emana do povo e em nome do povo será exercido'”.
O senador classificou a defesa de Bolsonaro pelo voto impresso como retrocesso democrático. “Comecei na vida pública há 40 anos e sei da deficiência do voto impresso. Já fui vítima disso. As urnas brasileiras são seguras e podem ficar ainda melhores. Voto impresso é retrocesso”, disse Braga, que nas Eleições de 1998 deu entrevista como governador eleito e no dia seguinte, com o final da apuração, acabou derrotado por Amazonino Mendes pela diferença de 28 mil votos.
O deputado federal Sidney Leite (PSD) lamentou a atitude do presidente, afirmando que o Congresso não vai se intimidar. “O Brasil enfrenta uma grave crise econômica, falta de planejamento na vacinação contra a Covid e o presidente faz questão de inverter a pauta, forçando o voto impresso”, declarou o deputado.
“O Congresso não vai se intimidar. A maioria acredita na democracia. O processo eleitoral no Brasil permite que partidos e coligações fiscalizem todo o processo, desde a conferência do lacre da urna”, disse Sidney Leite, que lembrou que o voto impresso favorece a fraude. “Sou a favor de qualquer auditoria, mas sou contra o retrocesso ao voto impresso. Já vivemos isso num passado recente e o histórico era de escândalos”.
Normal
Bosco Saraiva (Solidariedade) analisou a situação como normal e relacionou o desfile e a votação sobre o voto impresso como “infeliz coincidência” que não afetará as ações do Congresso Nacional. “Quero crer que o desfile militar de hoje seja somente uma infeliz coincidência e pelo que percebo daqui da Câmara o Congresso Nacional não se intimidará com isso”