MANAUS – O senador Delcídio Amaral (PT-MS) disse à Polícia Federal que em 2003 foi consultado pela então ministra de Minas e Energia Dilma Rousseff “acerca da possível nomeação” de Nestor Cerveró para a Diretoria Internacional da Petrobras. Na ocasião, Delcídio cumpria seu primeiro mandato no Senado.
Seu depoimento de anteontem foi dado na sede da Polícia Federal, onde está preso, em Brasília. “A então ministra Dilma já conhecia Nestor Cerveró desde a época em que ela atuou como secretária de Energia no governo Olívio Dutra (1999-2002), no Rio Grande do Sul”, afirmou o senador. “Como a área de exploração de gás era bastante desenvolvida naquele Estado, havia contatos permanentes entre a Diretoria de Gás e Energia da Petrobras e a Secretaria comandada pela Dilma Rousseff”, disse.
O senador afirmou que “se manifestou favoravelmente” à indicação de Cerveró para o cargo “em face da experiência que (eles) tiveram conjuntamente no âmbito da Diretoria de Gás e Energia” da Petrobras. Cerveró era então gerente subordinado a Delcídio. O senador disse que em 1999 foi nomeado diretor de Gás e Energia da estatal petrolífera “atendendo a convite do então presidente da República, Fernando Henrique Cardoso”.
Ele foi preso na quarta-feira sob suspeita de tentar barrar as investigações da Operação Lava Jato. Segundo a Procuradoria-Geral da República, em conluio com o advogado Edson Ribeiro, ele pretendia comprar o silêncio de Cerveró, preso e condenado por corrupção e lavagem de dinheiro. O temor do senador, segundo a Lava Jato, é de que o ex-diretor o implique em temas suspeitos, como o da compra da refinaria de Pasadena, nos EUA, que gerou prejuízo de US$ 792 milhões, segundo o Tribunal de Contas da União.
Outros dois delatores, Paulo Roberto Costa e Fernando Soares, o Fernando Baiano, já o citaram. Baiano disse que o petista recebeu US$ 1,5 milhão em propinas do esquema de corrupção instalado na Petrobras.
Temer e Cardozo
No depoimento prestado à Polícia Federal, Delcídio Amaral também mencionou o vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB), e o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, filiado ao PT. Delcídio disse que, em conversa com o ministro da Justiça, comentou com Cardozo “que possivelmente haveria decisão favorável a Marcelo Odebrecht (empreiteiro preso desde 19 de junho na Lava Jato) em habeas corpus que tramitava no Superior Tribunal de Justiça”.
O senador relatou ainda suposta “preocupação de Michel com Zelada”. “(Delcídio) Se referiu ao vice-presidente Michel Temer que, segundo informações que se tinha na época, mantinha relação com Jorge Zelada (ex-diretor da Petrobrás, sucessor de Cerveró, que também foi preso na Lava Jato)”, registrou a PF.
A PF quis saber das relações de Delcídio com o banqueiro André Esteves. Num primeiro momento do depoimento, o senador disse que “não se via em condições de afirmar se o André citado no diálogo é o empresário André Esteves”. Em seguida, quando o delegado federal mostrou a ele trecho do diálogo gravado por Bernardo Cerveró, à altura de 27 minutos e 14 segundos até 28 minutos e 24 segundos da gravação, em que faz menção a “André” e a “banqueiro”, Delcídio confirmou que se tratava efetivamente de André Esteves.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
(Estadão Conteúdo/ATUAL)