Da Redação
MANAUS – Colaboradora premiada no processo da Operação Maus Caminhos, a enfermeira Jenifer Nayara Youchabel, que presidiu o Instituto Novos Caminhos, afirmou que o ex-governador e senador Omar Aziz (PSD) foi beneficiário de propina do esquema que desviou mais de R$ 150 milhões da Susam (Secretaria de Estado de Saúde), informou o procurador da República, Alexandre Jabur.
“Ela mencionou algumas vezes o nome dele, salvo engando, como beneficiário em alguma medida de propina. Mas isso precisa ser apurado. Inclusive já existe um inquérito no Supremo Tribunal Federal e provavelmente isso vai ser encaminhado para lá”, disse Jabur, na tarde desta terça-feira, 14, ao final dos depoimentos de três réus do caso na Justiça Federal.
Segundo o procurador, por causa da citação do nome do senador, a Justiça encaminhará o processo para o Ministério Público. “As pessoas com foro de prerrogativa de função não são investigadas em 1ª Instância. Então os fatos serão encaminhados a quem de direito”, disse o procurador.
O procurador ressaltou que por ser colaboradora da Justiça no processo, Jenifer tem o dever de falar a verdade. “Ela não pode mentir, e nós entendemos que ela cumpriu com esse dever. Respondeu a todas as perguntas feitas pelos advogados, pela acusação e pela própria juíza”, declarou Jabur. O depoimento de Jenifer foi realizado na manhã desta terça-feira, 14.
No mesmo depoimento, Jenifer implicou ainda dois ex-secretários de Saúde. Segundo a enfermeira, Wilson Alecrim, assim como Omar, recebia altas quantias de dinheiro do médico e empresário Mouhamad Moustafa, apontado pelo Ministério Público como comandante do esquema de corrupção.
A enfermeira disse ainda que o médico pagava um apartamento para o filho de Pedro Elias, que assumiu a Susam após Wilson Alecrim sair da pasta. Jenifer presidiu o INC (Instituto Novos Caminhos), utilizado para realizar os desvios dos recursos da saúde.
A ré também disse que Mouhamad tinha proximidade com a ex-primeira-dama Nejmi Aziz (PSD) e com o irmão de Omar, Murad Aziz, e que chegou a comprar carro e terrenos da esposa do senador e do irmão dele.
Jenifer disse que presidia o INC, mas quem comandava o instituo era o próprio Mouhamad. A enfermeira alegou que sabia do esquema, mas não abandonava o trabalho por medo. O médico fazia ameaças, disse ela.
Faltou ao depoimento
À tarde, estavam previstos os depoimentos do médico, da advogada apontada como braço direito de Mouhamed, Priscila Marcelino, e do empresário Alessandro Pacheco.
Mouhamad não compareceu para o depoimento. Segundo informou a Justiça, não houve escolta para levá-lo da prisão até a sede da Justiça Federal. Priscila não respondeu nenhuma das perguntas feitas pela juíza e por um advogado de um dos réus.
Alessandro foi o único a responder as perguntas no período da tarde. O empresário repetiu o que já declarou no processo. Disse que no período de três anos repassou valores a Priscila.
Segundo Jabur, o empresário não foi muito claro ao informar os valores repassados, mas que poderia ter chegado a R$ 10 milhões. No depoimento, Alessandro admitiu serem verdadeiras as acusações feitas contra ele.
Alessandro tinha uma empresa denominada Amazônia Ltda., que prestava serviço à Susam de faturamento e manutenção e limpeza.
“Desde a época da prisão na Polícia Federal, meu cliente decidiu colaborar com a Justiça, falando o que realmente ocorria. E aqui ele só veio ratificar o que já havia falado no interrogatório dele na Polícia Federal”, disse o advogado do empresário, advogado Sérgio Augusto.
O depoimento de Mouhamed foi transferido para a próxima sexta-feira, 17. Após esta fase de depoimentos, os envolvidos no processo poderão pedir para juntar novas provas aos autos. Depois, iniciará a fase de alegações finais e em seguida o caso segue para a definição das sentenças dos réus.
O ATUAL fez contato com a assessoria do senador Omar Aziz, mas não houve resposta aos questionamentos. A matéria será atualizada caso haja manifestação do senador.
A seguir, trecho da entrevista do procurador da República Alexandre Jabur, após os depoimentos:
Enquanto isso não muito longe daqui… o povo do Amazonas sofrendo nas filas dos hospitais e a falta de material devido os desvios…
O que me deixa mais impressionada é ver o quanto os nossos órgãos de controle são ineficientes ( TCE e Ministério Público Estadual ). Havia quadrilha e ninguém quis perceber. O pior de tudo é que muitas pessoas morreram por falta de atendimento.