Por Felipe Campinas, do ATUAL
MANAUS – O prefeito de Manaus, David Almeida (Avante), candidato à reeleição, se definiu como de centro-direita, disse que Lula e Bolsonaro não irão influenciar em Manaus nesta eleição e acenou para o governador Wilson Lima (União Brasil) em eventual segundo turno. David foi sabatinado pelo UOL (Universo Online) na tarde desta sexta-feira (16).
“Tenho respeito por todas as alas. Me defino um candidato de centro-direita, dentro das minhas convicções. Sou cristão, evangélico, conservador, isso é fato, mas respeito todas as correntes ideológicas. Por exemplo, agradeço muito ao presidente Lula, que tem ajudado Manaus. [Em 2026], a população que vai escolher, da mesma forma como vai ser em 2024”, disse David.
O candidato do Avante também falou sobre a crise de oxigênio em Manaus no pico da pandemia de Covid-19, sobre a fumaça que encobriu a capital nos últimos dias e sobre problemas relacionados ao saneamento básico e à mobilidade urbana.
Ausência em debate
Ao ser questionado a respeito da ausência no debate da TV Band Amazonas, no dia 8 deste mês, David alegou “estratégia” para evitar desgaste com ataques pessoais. “Totalmente avaliada positiva a minha ausência em função da falta de propostas dos meus adversários. Ninguém tinha plano de governo registrado. Ia entrar em uma discussão onde só eu seria atacado. Então, nós optamos por não participar”, afirmou David.
No debate, o prefeito foi o principal alvo dos adversários, que criticaram a ausência dele, apontaram falhas na gestão, mas não deram soluções concretas para problemas crônicos de Manaus, como a mobilidade urbana, segurança pública e saúde.
Lula e Bolsonaro
David afirmou que tem “alinhamento de direita”, mas que essa questão não irá influenciar na eleição de Manaus por ser um pleito em que as questões locais deverão pesar. Dos seis adversários, dois se apresentam como representantes da direita no Amazonas: Alberto Neto (PL) e Roberto Cidade (União).
“Eu tenho alinhamento de direita em função da minha vida, da minha opção cristã. Eu vejo que a cidade de Manaus tem outros candidatos. Por exemplo, o partido do presidente Bolsonaro tem um candidato. O próprio governador Wilson Lima com seus candidatos também tem um alinhamento. Então, essa questão ideológica de direita ou esquerda dentro da cidade de Manaus nós não estamos tendo tanta influência em função de ser uma eleição local”, afirmou David.
O prefeito também negou que a eleição deste ano em Manaus sofra influência da polarização Lula x Bolsonaro, como ocorreu em 2022. “Eu estou buscando tratar a eleição dessa forma, sobre as questões locais, porque as questões nacionais, elas que fiquem para daqui a dois anos e sem essa intervenção. Nem Lula, nem Bolsonaro são candidatos a prefeito de Manaus”, afirmou o prefeito.
David foi questionado sobre o alinhamento com o presidente Bolsonaro e sobre as críticas que fez ao ex-ministro da Economia, Paulo Guedes. O prefeito justificou que o ministro havia assinado decreto que “feria de morte” a Zona Franca de Manaus e que não é “daqueles que baixa a cabeça”, independente de ser um aliado. “Os interesses de Manaus são superiores”, afirmou.
Covid
Sobre a crise de oxigênio em Manaus no pico da pandemia, em janeiro de 2021, David afirmou que os episódios de falta do produto ocorreram em hospitais do estado. Ele reconheceu, entretanto, que a prefeitura não estava preparada para o aumento repentino da demanda por atendimentos na atenção primária. “Naquele momento a prefeitura não estava preparada”, afirmou.
“Quando assumi, Manaus tinha apenas 47% de sua área com cobertura de atenção primária. Esse foi um dos grandes problemas. A rede estadual de média e alta complexidade não estava preparada para uma elevação dos casos de Covid e consumo de oxigênio. E nós sofremos muito. Inclusive, nós fomos a cidade do mundo que mais sofreu com a pandemia”, completou David.
De acordo com o prefeito, em quatro anos a prefeitura dobrou a capacidade de atendimento. “Hoje, nós temos um outro cenário. Estou com quase 97% da cidade com cobertura de atenção primária. Nós dobramos praticamente a atenção primária da cidade de Manaus. Nós tínhamos as UBSs fechadas naquele momento em virtude da pandemia. Muitos médicos afastados. Nós conseguimos fazer concurso público para 2.001 profissionais. Entreguei 81 unidades reformadas, ampliadas e construídas”, disse o prefeito.
David negou que a prefeitura tenha adotado o “tratamento precoce” da Covid-19 com o “kit Covid”. O prefeito afirmou que todos os protocolos adotados para atender a população obedeceram a ciência.
“Nossa secretaria é comandada por médicos, pesquisadores e professores universitários na área de saúde e nós não aplicamos aqui o tratamento precoce. Nós tínhamos os nossos protocolos, seguimos a ciência, obedecemos e conseguimos passar por aquele momento difícil. Hoje a cidade de Manaus vive uma nova realidade”, disse.
Wilson Lima
O prefeito também reafirmou que o governador Wilson Lima não lhe deve nada, mas que “ainda falta cumprir o restante do compromisso” firmado em 2022. Ele não especificou quais promessas estão pendentes. David disse que naquele ano Wilson estava em uma “situação política complicada” e ele o apoiou.
“A gente fez aliança em 2022. Eu fiz uma aliança por Manaus. Nós viemos da pandemia e naquele momento ele estava em uma situação política complicada e nós estendemos nosso apoio. Ele não me deve nada. O compromisso que eu tive com ele foi por Manaus”, afirmou David. “Ele cumpriu parte do compromisso. Ainda falta cumprir o restante do compromisso”, completou David.
David também fez um aceno ao governador em eventual segundo turno. Nas pesquisas eleitorais, o prefeito aparece como o favorito para ir para o segundo turno junto com o deputado federal Amom Mandel (Cidadania), que aparece em segundo lugar. Roberto Cidade, apoiado por Wilson Lima, tem aparecido em terceiro lugar.
“Ele [Wilson Lima] decidiu por apoiar um candidato do partido dele, eu não vejo problema. É uma eleição de dois turnos. Quem sabe a gente possa conversar em um futuro próximo. Porém, eu faço política pensando na minha cidade, diante das necessidade da minha cidade”, afirmou David.
“Naquele momento [2022], ele foi importante nessa composição para ajudar a cidade de Manaus. Nesse momento, eu vejo que ele partiu por um caminho diferente do meu. Eu respeito a decisão dele, porém, vendo que o caminho certo é ajudar Manaus. Então, eu não me vejo como inimigo, mas nesse momento nós não estamos no mesmo caminho”, afirmou David.
Queimadas , saneamento e segurança
Ao ser questionado sobre a fumaça que encobriu Manaus nos últimos dias, David afirmou que a capital está “sendo penalizada desde o ano passado porque os entes federados, governo estadual e governo federal, não fazem a sua parte”.
Segundo ele, a fumaça é resultado do avanço do desmatamento decorrente a falta de eficiência do estado e da União em fiscalizar o Sul do Amazonas.
David também falou sobre segurança pública. Ele lembrou que a região é um “corredor de passagem de droga” e disse que foi responsável por armar a guarda municipal e por aumentar o número de viaturas de 2 para 70.
Sobre saneamento básico, o prefeito afirmou que elevou de 16% para 32% a cobertura do serviço em Manaus. Até o fim do ano, a prefeitura quer atingir 35%.
Mobilidade urbana
David disse que o número de veículos em Manaus tem aumentado a cada ano e que a malha viária não cresce na mesma proporção.
“Manaus é uma ilha, não tem estrada para quase lugar nenhum Nós temos Boa Vista, mas o fluxo é muito pouco. Esses carros estão sempre dentro dessa malha viária que não cresce na proporção que cresce os carros. Por ano, entram 60 mil carros na cidade de Manaus. São 5 mil veículos licenciados por mês”, afirmou David.
O prefeito lembrou que tem construído viadutos, que alargou vias e que recapeou 3 mil ruas.
Sobre o transporte público, David disse que “Manaus é inviável para esse tipo de transporte”. “Além de ser um transporte muito caro, é inviável dentro dos recursos. O custo da passagem do transporte coletivo na cidade de Manaus é R$ 7,50. O preço da passagem é R$ 4,50. A prefeitura subsidia R$ 3 dessa passagem. E ainda dá o passe estudantil para os estudantes. Nós gastamos mais de R$400 milhões por ano para manter o transporte coletivo”, afirmou.
David também disse que a frota de ônibus estava envelhecida e que a gestão dele comprou 408 ônibus novos de 800 ônibus circulantes.
Sobre ônibus elétricos, David afirmou que o modelo precisa ser melhor estudado para a região, que é quente e demanda uso de ar-condicionado.
“Os ônibus elétricos aqui infelizmente ainda não são uma realidade. Temos 3 ou 4. Fizemos licitação para comprar mais 12. Só que aqui é muito quente, muito calor. Um ônibus elétrico com a carga total, para que seja viável economicamente, ele precisa andar pelo menos 280 quilômetros na cidade. Aqui ele não está conseguindo fazer nem 60 quilômetros”, afirmou David.
“Os ônibus elétricos precisam ser testados melhor. Na nossa região eles ainda não estão sendo uma realidade. Ainda é um risco fazer um investimento tão alto nesse sentido”, completou o prefeito.
David também respondeu sobre temas polêmicos em entrevista estilo pingue-pongue.
Confira o posicionamento do candidato sobre temas locais e nacionais abordados pelo UOL no “pinga fogo”.
UOL: A favor ou contra câmera no uniforme dos policiais?
David Almeida: É uma medida favorável. Possibilidade real de ser implementada. A favor.
UOL: A favor ou contra manter a guarda municipal armada?
DA: A favor. Totalmente armada e equipada.
UOL: A favor ou contra o pagamento de subsídio às empresas de ônibus?
DA: Aqui é uma necessidade. Inclusive, no Brasil, o transporte coletivo não se paga.
UOL: A favor ou contra tarifa zero no transporte público?
DA: Aqui eu tenho tarifa zero para o transporte público na questão do passe libre estudantil. O estudante paga zero. Porém, inviável para todos os públicos. Isso iria quebrar os cofres das prefeituras.
UOL: A favor ou contra restringir o porte e posse de arma?
DA: Todo aquele cidadão que queira adquirir arma e que se encaixe nos padrões, eu sou a favor do porte e posse de arma.
UOL: A favor ou contra a possibilidade de aborto legal?
DA: Sou a favor da forma como está hoje previsto na lei atual.
UOL: A favor ou contra a legalização da maconha?
DA: Totalmente contra
UOL: A favor ou contra a liberalização de jogos de azar?
DA: Tem que ver a questão econômica. Nesse momento, eu ainda não tenho uma definição com relação a essa questão. Mas posso me colocar contra.
UOL: A favor ou contra as cotas raciais?
DA: A favor
UOL: A favor ou contra à Zona Franca de Manaus?
DA: Totalmente a favor. Um projeto ambientalmente correto, economicamente correto e tributariamente correto.