Da Redação
MANAUS – Há 134 anos Manaus entrava para a história como a segunda cidade brasileira a assinar a abolição de seus escravos, no dia 24 de maio de 1884. Para celebrar data tão importante e como forma de conscientizar sobre o respeito ao negro, à sua identidade cultural e à igualdade intrínseca a todo ser humano, a terceira edição do projeto Arte Comunidade foi especial, ao abordar o tema “Contando e Recontando a Abolição”.
Promovido pela Prefeitura de Manaus, por meio da Semjel (Secretaria Municipal de Juventude, Esporte e Lazer), em parceria com o Fundo Manaus Solidária, o Arte Comunidade é um projeto que leva cultura, entretenimento e mensagens de cidadania a estudantes de escolas públicas municipais, a usuários dos Cras (Centros de Referência da Assistência Social) e de outros projetos sociais existentes em Manaus.
Nesta edição, realizada no Les Artistes Café Teatro, Centro, nesta quarta-feira, 23, participaram 60 estudantes das escolas municipais Antônio Matias Fernandes e Vicente de Paula. Atentos a apresentação do conto africano “A história da galinha de Angola”, montado pelos recreadores do Parque Cidade da Crianças, os alunos obtiveram referências sobre a luta negra pelo reconhecimento de sua identidade cultural, social e histórica.
Para a estudante da escola Vicente de Paula, Karine Gonçalves, 14 anos, o assunto deveria ser mais abordado nas escolas e em público, por isso a iniciativa é importante e pode ajudar muitos alunos a aprenderem mais sobre respeito e igualdade, independente, da cor da pele e do tipo de cabelo.
“As pessoas falam ‘ah, tem que ter respeito’, mas quase ninguém realmente fala sobre isso, então esse tipo de peça, de evento é muito importante. Já vi preconceito de cor, de ficarem zoando a pessoa pelo modo de falar, por causa do cabelo, que as vezes é bem cacheadinho, e isso é uma coisa bem feia de se ver. Acho que esse tipo de iniciativa pode sensibilizar as pessoas de que cor não importa, o que importa é que todos somos iguais por dentro e o caráter que a pessoa tem”, afirmou.
Trabalho multidisciplinar
Conforme a professora de educação física da escola Antônio Matias Fernandes, Renata Araújo a apresentação foi muito válida e um crescimento para todos, especialmente porque utiliza o lúdico para ensinar as crianças como impedir o preconceito, o bullying e incentiva o respeito ao outro sempre.
“Infelizmente ainda vemos um xingar o outro por causa da cor, da religião e essa atividade aqui vai permitir que a gente comente sobre ela na volta, no ônibus, e nós vamos fazer o reforço sobre tudo o que foi trabalhado aqui na escola. As crianças são a base da nossa nação, então é por meio delas que a gente vai mudar e é com educação sempre que as mudanças são possíveis”, pontuou.
Renata destacou ainda o trabalho que vem sendo desenvolvido ao longo do ano na escola, por meio da coordenação de diversidade da Semed (Secretaria Municipal de Educação), que motivou a realização do evento, por meio de um trabalho multidisciplinar, em que foi exposta a cultura africana por meio da dança, da culinária, da música e das artes.
“Nossa escola teve uma evolução muito grande em relação ao aspecto da violência, do bullying e do preconceito. Tínhamos muitos problemas e foi feito um trabalho escalonado, progressivo com as crianças, com os professores, com o corpo discente da escola. Trabalhamos a respeito do preconceito em relação a cor, a religião e a orientação sexual nas aulas de artes, de ensino religioso e em outras disciplinas. Nós temos um trabalho multidisciplinar fantástico”, enfatizou.
As máscaras com referências africanas que ambientaram o Les Artistes Café Teatro foram confeccionadas pelos alunos da escola Antônio Matias Fernandes, sob a coordenação da professora de artes Doriana Rudiah.
Valores
Vice-presidente do Fundo Manaus Solidária, Mônica Santaella ressaltou que a edição especial sobre a abolição da escravatura foi uma orientação do prefeito Arthur Virgílio Neto e da presidente do Fundo Manaus Solidária, a primeira-dama Elisabeth Valeiko Ribeiro com o intuito de enfocar valores da convivência em sociedade, igualdade entre as pessoas, fraternidade e respeito.
“Esses são valores que precisam prevalecer sempre, trazendo-os dentro das histórias, dos contos, mostrando que todos somos iguais, que não existe diferença de cor, de raça. As crianças dessas escolas possuem uma matéria chamada ‘Cultura Africana’ e lá elas aprendem os valores que a cultura africana trouxe para o Brasil, neste Arte Comunidade nós reforçamos isso”, resumiu.
Subsecretário da Semjel, Milton Silva enalteceu as parcerias com o Fundo Manaus Solidária, Semed, Semmasdh (Secretaria Municipal da Mulher, Assistência Social e Direitos Humanos) e Manauscult (Fundação Municipal de Cultura, Turismo e Eventos), que permitem a realização do Arte Comunidade. Segundo ele, essa transversalidade possibilita a inserção escolar e a integração com a comunidade.
“Já realizamos essa atividade no CEL Amadeu Teixeira, na Minivila Olímpica do Santo Antônio e o que procuramos é integrar a comunidade, trazer as crianças para participar da cultura, permitir que elas tenham esse contato tão importante com a cultura. Nesta edição o tema foi sobre a importância da igualdade que precisa existir entre todos os seres humanos, é bom que as crianças aprendam esses valores tão importantes”, finalizou.