EDITORIAL
MANAUS – Uma onda de grosseria, intolerância e ódio começou a se formar há pelo menos sete anos no Brasil. As primeiras manifestações começaram a aparecer no movimento “verde e amarelo” que tomou conta das ruas em 2015.
Naquele período, políticos de esquerda ou apoiadores do governo de Dilma Rousseff e do PT viraram alvos em locais públicos de pessoas que se arvoraram a destratá-las, filmar e divulgar nas redes sociais.
Entre os alvos desses “manifestantes” estavam ministros do Supremo Tribunal Federal, senadores, deputados e ministros de Estado.
Uma das vítimas de agressão foi a então senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB). No dia 31 de agosto de 2016, depois do processo de impeachment da presidente Dilma, ela foi xingada por um grupo de integrantes do MBL (Movimento Brasil Livre) dentro de um avião pelo fato de ter votado e defendido a ex-presidente. Quanto tentou filmar as agressões, foi agredida fisicamente pelo advogado Paulo Henrique da Rocha Loures Demchuk.
Esse tipo de agressão verbal, desrespeitosa e covarde promovida por pessoas que não aceitam que outros tenham posicionamento político e ideológico contrários aos seus, passou a ser tolerada pela sociedade e aplaudida pelos chamados “conservadores”, “de direita” e defensores do presidente Jair Bolsonaro (PL).
Neste ano, um desses “conservadores”, que se identifica como “um bolsomínion”, atacou o deputado federal Marcelo Ramos e o senador Omar Aziz, ambos do PSD, dentro de um restaurante no município de Tefé, no Amazonas.
Depois, se descobriu que ele estava ali a serviço de um movimento que apoia o presidente da República. Aos gritos, o homem desfere xingamentos e faz inputa crimes aos parlamentares.
Esse tipo de comportamento patético, que deveria ser repudiado, é aplaudido por centenas de pessoas nas redes sociais. E os agressores se saem como heróis, os heróis modernos da decadência humana.
Os fanáticos defensores do presidente e o próprio Jair Bolsonaro vinham repetindo aos quatro cantos do Brasil que Lula não poderia sair às ruas porque seria hostilizado pela população, ao contrário do presidente, que é aclamado pelas multidões.
Em um dos primeiros eventos públicos de Lula neste ano, em Uberlândia, Minas Gerais, no dia 15 de junho, um drone foi usado para jogar fezes em apoiadores do ex-presidente.
Uma mulher, que estava com a neta e foi atingida por fezes, disse que partidários de Bolsonaro fizeram “terrorismo” na cidade de Uberlândia na tentativa de esvaziar o evento.
No dia 7 deste mês, um homem detonou uma bomba de fabricação caseira em evento com a participação do presidente Lula, no Rio de Janeiro. O artefato foi jogado em um local onde havia menos pessoas e antes da chegada de Lula. Ninguém ficou ferido. Uma pessoa foi presa e a polícia investiga o caso.
Esses atos e tantos outros da mesma linhagem formam um ambiente perigoso, que avança para casos mais graves, como o que ocorreu no último sábado, quando um homem chegou armado a uma festa de aniversário e atirou contra o aniversariante que usou o PT e Lula como tema da comemoração de seus 50 anos.
A própria esposa do assassindo do militante do PT confessou que ele chegou ao local da festa colocando música que exaltava Bolsonaro e gritou da janela do carro: “É Bolsonaro!”.
O Brasil não pode aplaudir a barbárie. Xingar uma pessoa publicamente não é um ato heroico, mas uma atitude covarde. A grosseria e a intolerância são armas dos ignorantes.
O debate político precisa ser feito em outro nível. Com argumentos, com informações verdadeiras.
A violência de qualquer tipo é inaceitável e precisa ser repudiada, sem relativismo, por toda a sociedade.