Por Leon Ferrari, do Estadão Conteúdo
BRASÍLIA – A ministra da Saúde Nísia Trindade afirmou nesta segunda-feira (11), exatos quatro anos desde que a OMS (Organização Mundial da Saúde) declarou a Covid-19 como pandemia, que, embora não seja mais uma emergência sanitária, a doença é ainda um problema de saúde pública não superado no Brasil. A fala ocorreu na abertura do evento destinado à criação do Memorial da Pandemia de Covid-19.
“Ao falar de um memorial e de uma política de memória, não circunscrevemos a pandemia de Covid-19 ao passado”, frisou. “A despeito de termos superado a emergência sanitária, não superamos a Covid-19 como um problema de saúde pública”.
“Em função é dos últimos números, a Covid ainda permanece como uma doença de preocupação”. De acordo com os dados do ministério, em 2024 foram notificados 381.446 casos e 1.789 óbitos de Covid-19 até 2 de março.
Os casos de SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave) aumentaram 75% nas últimas quatro semanas, de acordo com boletim InfoGripe da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz). O país ultrapassou as 700 mil mortes pela doença.
O tom da abertura do evento que se estende até terça-feira (12) foi de críticas à gestão anterior do governo federal e de cobrança de responsabilização pelas mortes evitáveis. As autoridades também reforçaram a importância da memória – “lembrar para aprender” – e a necessidade de avançar tecnologicamente.
“Há exatos quatro anos, a Organização Mundial de Saúde elevava a Covid-19 à categoria de pandemia. Mais de 6 milhões de vidas foram ceifadas pela doença em todo o mundo, sendo 710 mil brasileiros, graças a uma gestão negligente das ações sanitárias de prevenção e cuidados com a população brasileira”, leu o cerimonialista, antes de passar a palavra à ministra, que pediu um minuto de silêncio às vítimas.
A ministra agradeceu a todos aqueles que estiveram juntos na “resistência”, palavra que usou para classificar o combate à pandemia da Covid-19, em especial os trabalhadores do SUS (Sistema Único da Saúde).
“A pandemia deixou marcas de profundo sofrimento na população brasileira. Isso nos impõe promover a defesa da dignidade humana e da vida”, disse Rosângela Dornelles, representante da Rede Nacional das Entidades de Familiares e Vítimas da Covid.
“Dessas mais de 710 mil vidas que foram tiradas de nós, sabemos que a maioria delas ainda poderiam estar conosco”, afirmou o presidente do Conselho Nacional de Saúde, Fernando Pigatto.
Segundo estimativas do Grupo Alerta, formado pelo Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor), a Oxfam Brasil, a SBPC (Sociedade Brasileira pelo Progresso da Ciência) e a Anistia Internacional Brasil, cerca de 120 mil mortes ocorridas no primeiro ano da pandemia (de março de 2020 a março de 2021) poderiam ter sido evitadas se o Brasil tivesse adotado medidas preventivas, como distanciamento social e restrições a aglomerações. “Como nada foi feito, verificou-se 305 mil mortes acima do esperado no período”.
“Temos muito trabalho ainda a fazer, mas vamos continuar. Memória é para aprender e para que nunca mais aconteça”, finalizou Pigatto.
Em março, o CNS voltou à PGR (Procuradoria Geral da República) para pedir a responsabilização de agentes públicos por omissão na condução da pandemia. O documento “Denúncia de Violações dos Direitos à Vida e à Saúde no contexto da pandemia da Covid-19 no Brasil” já havia sido apresentado à PGR em 2021.
Para Márcia Rollemberg, secretária de cidadania e diversidade cultural do Ministério da Cultura, é preciso criar uma política de memória no País. “É importante conformar um local de acolhimento para as pessoas se reunirem, encontrarem conforto, terem uma roda de conversa, interagirem e trazerem o registro de testemunhos com ensinamentos que alimentem a esperança, a busca de superações e a cura emocional após traumas individuais e coletivos”,
“A pandemia mostrou o quanto temos que avançar com o nosso complexo industrial e tecnológico, com os nossos sistema de informação. Além de avançar e amadurecer enquanto sociedade: estarmos unidos quando o nosso inimigo é comum”, destacou ainda Hisham Mohamad Hamida, presidente do Conasems (Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde).