Por Iolanda Ventura, da Redação
MANAUS – Nas eleições municipais deste ano o número de abstenções tende a ser maior que em 2016, segundo o cientista político Helso Ribeiro. De acordo com o analista, os motivos seriam o desgaste da democracia representativa provocado por falsas promessas e escândalos de corrupção, aliados a um novo agravante: a pandemia de Covid-19.
Números disponíveis no site do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) mostram que em 2016, ano da última eleição municipal, eram 1,26 milhão de eleitores aptos a votar em Manaus. Desse total, 1,15 milhão compareceu às urnas, o equivalente a 91,41% de taxa de comparecimento. Outros 108 mil se abstiveram, correspondente a 8,59% dos eleitores.
No segundo turno votaram 1,13 milhão em Manaus, 90,5% dos eleitores. A abstenção ficou em 9,5%, equivalente a 119,4 mil votantes que não participaram do pleito. Para este ano, o TSE contabilizou 1,33 milhão de eleitores aptos a votar em Manaus.
Helso Ribeiro explica que o absenteísmo é uma tendência mundial e atribui isso a um ‘desgaste da democracia representativa’. “O eleitor está cansado da democracia representativa que nós temos. São muitas promessas que não são cumpridas e aí ele não vai. Ele prefere pagar a multa do que ir se submeter a fila e tal, sabe que é muita enganação e não vai”, diz.
“No mundo inteiro a abstenção tem aumentado cada vez mais. Se você for pegar uma eleição na Holanda você vai ver que a abstenção lá é grande. E lá não é obrigado a votar e as pessoas não vão”, afirma.
Os casos de corrupção contribuem, mas as promessas que não saem do papel ainda pesam mais, avalia Ribeiro. “Eles (escândalos de corrupção) aumentam esse desgaste, as pessoas não fazem questão de votar”, diz. “O cara promete, ele nem se corrompeu, mas ele prometeu muito e não fez nada. Então a população se cansa disso e acaba não indo”, completa.
Neste ano, o fator que vem para se unir aos anteriores é a pandemia de Covid-19, que impôs restrições contra aglomerações para evitar o contágio. “Este ano, mas ainda é futurologia porque não ocorreram as eleições, eu acredito que a abstenção vai ser grande por todos esses motivos, mais a Covid. Porque o Estado determina que não pode aglomerar e quer que a pessoa vá votar? Toda eleição tem um acúmulo. Então eu acho que a abstenção vai ser maior ainda esse ano”, prevê Ribeiro.
Apesar disso, o especialista afirma que se comparadas às eleições nacionais e estaduais, as municipais têm menos faltosos. Um aspecto que contribui para isso é a proximidade da realidade do eleitor com quem irá atuar para resolver o problema.
“É uma eleição muito próxima, a cidade onde a gente mora, o bairro que a gente mora é real. O Amazonas é ficção. O que é o Amazonas? É uma junção de vários municípios, então é uma ficção. Tu nunca vai dizer ‘eu moro no Brasil’. Não, eu moro na Cidade Nova, é o real. Então isso chama mais a atenção da gente”, diz.
Outro ponto é o contato com os candidatos. “Tem muito candidato a vereador próximo da gente. É uma tia, um amigo, um vizinho, o colega de trabalho. Já para deputado não, você não conhece tanta pessoa assim. Então isso faz com que a gente vá votar mais do que para senador, governador, por aí”, afirma Ribeiro.
“Você conhece dez candidatos a vereador pelo menos, mas você não conhece presencialmente dez candidatos a presidente. Então tem sempre uma abstenção maior nas eleições nacionais”, diz.