O Brasil vive um momento decisivo em sua história, pois aquilo que durante muitos anos foi uma forte suspeita agora ganhou o status de verdade inconveniente e irrefutável: somos um país predominantemente corrupto. E antes que alguém brade palavras de ordem contra um partido ou outro, aconselho a se conter e entender que este é um mal que vai além de uma sigla partidária. Aliás, vai além do sistema político; é algo sistêmico. O que temos hoje é uma sociedade corrompida em seus valores.
Em uma visão estreita pode-se entender a corrupção como algo restrito aos escândalos que saem no noticiário, contudo, esquece-se de práticas que se não são tão graves por conta dos valores envolvidos, são igualmente condenáveis do ponto de vista moral. É o agrado que se dá a um funcionário público para fazer um processo andar, é o “gato” na luz, é o “esquema” para destravar todos os canais da TV a cabo, é o sinal de wi fi usado do vizinho sem ele saber, é a propina para o agente de trânsito “esquecer” uma multa, enfim, são práticas que fazem parte do nosso cotidiano e que não são encaradas como corrupção. Pelo contrário, há quem se vanglorie de coisas desse gênero nas rodas mais intimas, passando para os outros a ideia de alguém esperto, inteligente e sagaz.
Em nossas escolas não é diferente, tanto públicas quanto privadas. Nestes anos como professor, coordenador, diretor e consultor, já vi coisas de gelar a alma. Presenciei pais que ensinam (e até motivam) seus filhos a colarem nas provas, ou mesmo são indiferentes quando sabem que o filho colou, afinal, o que interessa é o resultado: a nota. Em casos mais graves já vi adolescentes tentando subornar digitadores, fiscais de prova e até, pasmem, o professor (neste caso, eu mesmo).
É claro que essas práticas que ocorrem ainda na vida escolar podem ter consequências catastróficas na personalidade do aluno quando ele atinge a vida adulta. Portanto, é necessário que a escola discuta sobre corrupção, mas não somente aquela do noticiário que nos indigna com a classe política, mas esta corrupção cotidiana que abre a porta para outras maiores assim que a oportunidade surge. E, é claro, este diálogo deve envolver também a família, pois na reprodução de algumas práticas dos pais está a explicação para o comportamento corruptor de alguns alunos.
E para encerrar, gostaria de parabenizar a Controladoria Geral da União (CGU) pela sétima edição do seu concurso de desenho e redação, para estudantes da educação básica. Este ano o tema é “Pequenas corrupções – Diga não”, segundo a própria a CGU “o objetivo da iniciativa é despertar nos estudantes o interesse por assuntos relacionados ao controle social, à ética e à cidadania, por meio do incentivo à reflexão e ao debate desses temas nos ambientes educacionais”. As inscrições vão até o dia 30 de junho e podem ser feitas pelo site: http://www.portalzinho.cgu.gov.br/concursos/7.o-concurso-de-desenho-e-redacao-da-cgu
Como se vê, a corrupção precisa ser debatida na escola, desde cedo. A CGU já entendeu isso, faltam as escolas também internalizarem esta necessidade. Talvez assim possamos vislumbrar mudanças futuras, ao invés de ficarmos apenas lamentando.
Agradecimento
Agradeço ao editor deste espaço pelo convite para poder escrever uma coluna sobre educação. Desta forma, estaremos semanalmente abordando algum aspecto relevante desse tema de fundamental importância para a sociedade.
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George Castro é diretor executivo da Macedo de Castro consultoria educacional
Supervisor do Pacto pelo Fortalecimento do Ensino Médio – PNEM/MEC
Ex-diretor do Ensino Médio e Educação Profissional do estado do Pará