Por Luiz Guilherme Gerbelli, do Estadão Conteúdo
SÃO PAULO – O setor da construção civil é o que apresenta a maior rotatividade de mão de obra no Brasil. Nos 12 meses até agosto, a taxa foi de 65,66%, de acordo com um levantamento realizado pela consultoria Tendências. É um número bem maior do que o apurado para toda a economia brasileira (34,74%).
“No setor da construção, a rotatividade é maior porque há um número elevado de postos temporários”, diz Lucas Assis, economista da Tendências e autor do estudo.
O levantamento da consultoria considera os dados de setembro de 2023 a agosto deste ano do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados ), que apura o emprego com carteira de trabalho assinada em todo o país.
A segunda maior rotatividade foi observada na agricultura (50,57%), também marcada por uma mão de obra temporária. Na sequência, apareceram os setores de comércio (35,39%) e serviços (32,05%).
Grande empregador, o setor de serviços tem cenários distintos de mudança de emprego quando é analisado em detalhe. Em serviços domésticos, a rotatividade é de 60%. Mas é de 17,4% na administração pública.
No recorte regional, a taxa de rotatividade é bastante parecida entre os Estados. Ela supera o patamar de 40% em três locais: Mato Grosso, Goiás e Espírito Santo. E é menor no Distrito Federal (28,47%) por causa da participação relevante do setor público no emprego.
“Estados como Mato Grosso e Goiás têm uma rotatividade acima da média nacional. E isso está associado ao setor da agropecuária”, afirma Assis. “A proporção dos setores econômicos distribuídos pelo território nacional influencia nessas taxas de rotatividade dos Estados.”
No Brasil, a troca de trabalho sempre foi elevada. E é pró cíclica. Ou seja, aumenta nos momentos em que emprego está forte – como é o cenário atual. A elevada rotatividade dos profissionais resulta num custo em diversas dimensões. Para as empresas, significa que anos de conhecimentos sobre a rotina da companhia foram embora no momento do desligamento do trabalhador. Numa ótica mais ampla, a economia brasileira perde em produtividade.
“Um desligamento pode custar até 1,5 vez o salário anual de um funcionário”, explica o diretor da empresa de recrutamento Robert Half, Lucas Nogueira. Segundo ele, mesmo quando há o pedido de demissão por parte do empregado, a empresa terá, por exemplo, o custo de um novo processo de seleção e recrutamento e o pagamento de horas extras para quem fica e tem de fazer o trabalho a mais. “Há um custo financeiro envolvido nesse processo”, diz o executivo.