Por Felipe Campinas, da Redação
MANAUS – O comandante-geral da Polícia Militar do Amazonas, coronel Ayrton Norte, determinou o afastamento, a suspensão das remunerações e a abertura de processo disciplinar contra os policiais Salomão Alencar Faria, Waldson Francisco da Silva, Antônio Ferreira Dantas e Jardey Monteiro de Oliveira.
Os PMs são acusados pelo MPF (Ministério Público Federal) de compor milícia privada que protegia pecuaristas integrantes de organização criminosa responsável pelo desmatamento ilegal de florestas no Sul do Amazonas. Segundo o MPF, o esquema envolvia servidores do Ibama.
De acordo com o MPF, os milianos prestavam serviços para os fazendeiros Sebastião Gardingo (o Tonzinho), José Lopes (o Zé Lopes) e Adamir Hosoda Monteiro.
O afastamento dos PMs consta na Portaria nº 058/DPA-5/JD/PMAM, assinada no dia 28 de janeiro deste ano, mas publicada no DOE (Diário Oficial do Estado) na edição do dia 24 de março. O comandante-geral da PM considerou decisão do juiz Hiram Armênio Xavier Pereira, da 7ª Vara da Justiça Federal do Amazonas.
Milícia
De acordo com o MPF, em troca de dinheiro, gado e carro, os PMs expulsavam posseiros e extrativistas de terras públicas, faziam a segurança de trabalhadores e equipamentos usados para o desmatamento ilegal e cobravam os devedores dos seus patrões no ‘Arco do Desmatamento’, região Sul do estado.
O ‘modus operandi’ dos milicianos da Amazônia compunha a engrenagem de organização criminosa descoberta pela Operação Ojuara que atuava nos estados do Amazonas e Acre, na qual, além dos PMs, pecuaristas e servidores públicos do Ibama garantiam a exploração predatória de recursos naturais em larga escala e em prejuízo a pequenos agricultores e coletores.
De acordo com o MPF, a organização criminosa atuava mediante o uso de violência, pagamentos de propina, lavratura de autos de infração em nome de ‘laranjas’ e realização de defesas administrativas pelos próprios servidores do Ibama sob o comando do superintendente Carlos Francisco Gadelha.
Os milicianos foram presos em operação da Polícia Federal e MPF no dia 8 de maio do ano passado com outros quatro envolvidos. No dia 21 de janeiro deste ano, eles tiveram o pedido de revogação da prisão preventiva rejeitado pelo juiz Lincoln Viguini, da 7ª Vara Federal Ambiental do Amazonas.
De acordo com o Portal da Transparência, até março deste ano, Salomão recebeu normalmente o salário de R$ 13 mil, bem como os PMs Waldson (R$ 11 mil), Jardey (R$ 5,9 mil) e Antônio (R$ 7 mil). Segundo a SSP-AM (Secretaria de Segurança Pública), eles são investigados pela Corregedoria Geral por prestarem supostos serviços para fazendeiros e são alvo de outra investigação que segue em caráter sigiloso.
Declarações de moradores da região colhidas pelo MPF confirmaram a existência da milícia, segundo o órgão de controle, que ameaçava extrativistas, expulsava pessoas e fazia a segurança de desmatamentos dos latifundiários, conforme o MPF. Na prestação dos serviços para os fazendeiros, o grupo usava armas e fardas da PM do Amazonas.