Da Redação
MANAUS – Com as restrições no transporte fluvial e terrestre intermunicipal para prevenir contra a contaminação pelo novo coronavírus, produtores de guaraná no interior do Amazonas enviaram a produção a Manaus por aviões.
O uso de aeronaves foi autorizado porque o guaraná está inserido dentro da cadeia de alimentos e bebida e é considerada um serviço essencial. Os barcos, muito utilizados no transporte da fruta entre as 14 cidades que compõem o programa Olhos da Floresta, da Coca-Cola Brasil em parceria com o Imaflora, e a capital tiveram o uso proibido durante o período de lockdown.
Apenas um dos embarques com a produção pôde ter o acompanhamento presencial de técnicos da organização. Os demais embarques, foram adaptados e passaram a ter todo o acompanhamento realizado pelo Imaflora à distância, com o auxílio da tecnologia.
Criado em 2016, o Olhos da Floresta está presente em cem comunidades e envolve 300 famílias de agricultores no Amazonas.
“Trabalhamos com o georreferenciamento (localização de áreas pelas coordenadas geográficas e imagens de satélite) das áreas produtivas de guaraná de cada produtor e as informações são utilizadas para a rastreabilidade da produção”, diz Philippe Schmal, engenheiro florestal e coordenador de projetos do Imaflora.
Parte da safra do guaraná vem de Unidades de Conservação (UCs) como Maués. São áreas em que as famílias mantêm a floresta em pé e são incentivadas a produzirem em harmonia com a mata.
Segundo Philippe Schmal, devido à diminuição no número de festas, eventos, funcionamento de bares e restaurantes decorrente da pandemia, foi registrado um menor consumo do guaraná.
A aquisição da produção pelo fabricante de refrigerantes contribuiu para a manutenção da renda dos produtores. Maués entregou cinco toneladas de guaraná produzidos pela Aspafemp (Associação de Produtores Agroextrativistas da Floresta Estadual de Maués). Em Apuí e Novo Aripuanã, a Asprog (Associação dos Produtores Rurais de Guaraná Sustentável) comercializou 28 toneladas.
Internet
Jahnny Gonçalves, diretora da Agriguarani, da cidade Parintins, conta que a cooperativa, que reúne 90 produtores rurais, precisou se adaptar e passou a fazer uso do serviço de internet móvel, já que os dados passaram a ser transmitidos por e-mail, serviço de mensagens ou SMS.
A primeira fase do processo envolveu a ida às casas dos produtores para o levantamento da estimativa da produção. O deslocamento foi feito por rabeta – uma canoa com um motor na popa, vencendo uma distância entre a cidade e a zona rural de três horas de barco, passando pelos rios Uaicurapá, Andirá e Mamuru.
Toda a logística entre o recebimento da produção na cooperativa, na comunidade de Marajó, até o embarque para Manaus durou cinco dias. Na semana seguinte, foi decretado novamente o lockdown.
“Mesmo com todas as dificuldades conseguimos fazer as orientações dos produtores. Todos colaboraram na entrega, usando máscaras”, conta Jahnny.
Com isso, a remessa das sete toneladas de guaraná prometidas para o programa Olhos da Floresta pôde ser realizada. “Fizemos capacitações online para os agricultores, para garantir o bom funcionamento de todas as etapas do embarque”, complementa Philippe.