
Por Iolanda Ventura, da Redação
MANAUS – Com um efetivo de três policiais civis no município, o delegado-geral adjunto da Polícia Civil do Amazonas, Orlando Amaral, disse que não havia como evitar a invasão à delegacia de Fonte Boa (a 677 quilômetros de Manaus), onde moradores lincharem suspeito de estupro.
Ronald Gomes Borges, 28, preso por estupro de uma criança de 10 anos, foi retirado da cela, levado para a rua, esquartejado e as partes do corpo queimadas. “Se a polícia fosse reagir além do que reagiu para evitar esse resgate desse preso o prejuízo teria sido até maior para a população”, disse. A delegacia e viaturas da polícia foram depredadas.
“Foram deslocados policiais militares de Tefé para lá. Esses não conseguiram chegar a tempo, mas nós tínhamos policiais lá. Não muitos, mas tínhamos. Mas a quantidade da população era muito grande. ”, disse Amaral.
Em entrevista na manhã deste sábado em Manaus, Orlando Amaral informou que ainda não há detalhes de como os populares entraram no posto policial. “Detalhes de como eles entraram, quebraram cadeado e se renderam policiais acho que isso aí está sendo apurado e vai ser apurado com a chegada dos policiais lá hoje. Mas o fato é que realmente retiraram o preso. Não tem policiais feridos”, disse o delegado.
Amaral explicou que embora o preso tenha cometido um crime hediondo, a polícia não pode compactuar com outro crime. “Nós sabemos que eles mataram um criminoso, que estuprou uma criança de 10 anos. Mas o estado não pode permitir que a população promova essa desordem, o estado tem que se posicionar”, disse.
Através das imagens divulgadas na internet, os envolvidos serão identificados e presos, segundo o delegado. “Se tiver que efetuar prisões em flagrante de quem praticou isso nós vamos efetuar a prisão em flagrante. Ou se não identificarmos hoje podemos trabalhar com prisão preventiva”, afirmou Amaral.
De acordo com Amaral, o episódio não é uma questão de falta de segurança ou a quantidade de policiais. “Eu não digo nem a fragilidade, é porque o efetivo do interior é de acordo com a população daquele município. Fonte Boa é um município que não tem tantas ocorrências, nosso efetivo lá é pequeno, mas é o necessário para aquela localidade”, disse.
Entretanto, assume que há problemas. “Hoje nós temos uma dificuldade inclusive de efetivo. Estamos colocando um efetivo no interior na medida do que a gente tem”, afirmou o delegado.
Na invasão, duas pessoas ficaram feridas e os policiais militares e civis que se encontravam na delegacia ficaram acuados, disse o Coronel Negreiros, chefe de Estado Maior da Polícia Militar. “Nós tivemos que agir na defesa do patrimônio, na defesa das vidas que ali estavam porque os policiais militares e civis estavam acuados dentro da delegacia”, afirmou Negreiros.
De acordo com Negreiros, um dos populares estava armado e o policial militar precisou fazer uso da força na mesma proporção. “Um está em estado grave e o outro me parece que está em estado estável”, disse o coronel. Doze policiais militares de Tefé, cinco guardas municipais, três policiais civis e 30 policiais de Manaus foi enviados ao município.
Lei do Talião

Para Negreiros, o cenário em algumas cidades do interior do Amazonas é de que a justiça deve ser feita com as próprias mãos. “Infelizmente, no interior do estado essas ações são uma cultura me parece de alguns municípios como foi relatado aqui. Mas independente do quantitativo do efetivo há aquele ânimo de se juntar e acabar que uma turba toma conta”, disse.
Apesar de afirmar que o senso de justiça na população é capaz de levar a revoltas como a registrada em Fonte Boa nesta sexta-feira, Negreiros admite que é possível que um número maior de agentes de segurança poderia evitar o ocorrido. “Talvez, aí nós vamos entrar no campo da conjectura, se tivéssemos mais policiais teríamos evitado. Talvez sim, porque o número de policiais vai desencorajar uma ação mais firme da população. Mas eu quero dizer para vocês que uma população que se junta com violência as pessoas começam a perder os sentidos”, afirmou.
O maior prejuízo é a própria população, lamenta o Coronel Negreiros. “Agora a população está desassistida no município porque nós temos três viaturas danificadas, uma delegacia, um quartel parcialmente danificado e quem vai ficar prejudicado pelo trabalho da polícia pelo sistema de segurança vai ser a população do município”.
(Colaborou Alessandra Taveira)
