Por Soraia Joffely, do ATUAL
MANAUS – O Amazonas registrou em apenas 10 dias deste mês de outubro 2.684 focos de calor. O número supera em 78% os focos de calor registrados em todo o mês de outubro do ano passado, quando foram registrados 1.503, segundo dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) publicados na terça-feira (10).
Os incêndios neste mês também representam um recorde histórico de queimadas no estado para o mês de outubro. Em 2009, o recorde histórico havia sido de 2.409 registros.
De acordo com o Inpe, municípios localizados no sul do Amazonas, como Lábrea (344 focos de calor), Boca do Acre (263) e Novo Aripuanã (245), lideram o número de queimadas. Esses três municípios representam 32% dos incêndios registrados no Amazonas neste início de outubro.
Como efeito dessas queimadas que atingem o estado, na manhã desta quarta-feira (11), Manaus acordou coberta por uma fumaça densa. A qualidade do ar na capital amazonense, conforme o Selva (Sistema Eletrônico de Vigilância Ambiental), foi classificada péssima em vários pontos da cidade.
O aumento de focos de calor ocorre no momento de maior seca dos rios e altas temperaturas na região. O fenômeno El Niño é um dos principais causadores da mudança de temperatura e falta de chuvas nesta época do ano.
Para Marcos Castro, doutor em geografia humana pela USP (Universidade de São Paulo), os processos de queimadas são notoriamente disparados no período de estiagem devido à seca da vegetação, o que facilita a rápida propagação do fogo.
“Os focos de incêndio vão ser de ação antrópica (humana). Embora tenha fatores naturais, ainda é menos provável, porque 90% das razões das queimadas são ação humana. Já a fumaça, é gerada em consequência e é levada pelos ventos. Então quase nunca, o foco do incêndio fica só ali no entorno, ele é dissipado. E aí, as cidades, dependendo das posições dos ventos, arcam com esse ônus das queimadas que estão em seu entorno”, disse o geógrafo.
Marcos Castro também explicou que com o prolongamento da estiagem e a falta de chuva na região, a fumaça continuará por um longo período no Amazonas.
“Esse período tem que ser monitorado. Os fenômenos são sempre previsíveis. Então, se são previsíveis, eles são passíveis de planejamento prévio, de ações. E as ações nesse período de julho até o fim de outubro, deveria ser monitorado de forma mais previdente”, disse.
Segundo Castro, existe também a probabilidade da fumaça impactar os amazonenses até o fim do El Niño, previsto para terminar apenas no primeiro semestre de 2024.
“Os ventos têm uma trajetória que pode mudar muito pouco. E isso pode nos causar muito problema até o fim dessa estiagem. Por isso, é importante fazer uma política intensa de fiscalização para que não soframos os efeitos danosos dessa fumaça no organismo. Ou seja, é um problema também de saúde pública e de planejamento”, ressaltou.
Em nota, a Prefeitura de Manaus afirmou que nos dias 9 e 10 de outubro, foram registrados 504 focos de queimadas no Amazonas. Somente o município de Autazes (a 111 quilômetros de Manaus) registrou 105, o que representa 20,8% do total registrado no estado.
Para Manaus, a gestão municipal informou que neste mesmo período foram registrados três focos de queimadas. Segundo a prefeitura, essas queimadas foram detectadas na zona rural, sendo dois nas proximidades da BR-174 (Manaus-Boa Vista/RR), e o terceiro, próximo à comunidade Nossa Senhora de Nazaré, no rio Amazonas.
Faculdades paradas
Em razão das condições insalubres do ar que assolam a capital nesta quarta-feira, a UEA (Universidade do Estado do Amazonas) suspendeu todas as atividades nas seis unidades. Enquanto isso, a Ufam (Universidade Federal do Amazonas) determinou aulas remotas para todos os estudantes da sede, localizada em Manaus.