Por Iolanda Ventura, do ATUAL
MANAUS – A volta da coleta seletiva em casa e uma publicidade maior sobre os Postos de Entrega Voluntária (PEVs) nos supermercados são medidas necessárias para a adesão à reciclagem em Manaus, afirmam especialistas ouvidas pelo ATUAL.
Cristine Rescarolli, supervisora da coordenadoria de Cidades Sustentáveis, do Programa de Soluções Inovadoras da FAS (Fundação Amazônia Sustentável), considera que muitas vezes os pontos de entrega voluntária dos supermercados não estão em local de fácil acesso ou visualização.
“Acredito que é necessária uma campanha de conscientização para que a população crie o hábito de procurar e usar esses PEVs. Como feira de trocas ou brindes para quem usar corretamente esses locais”, sugere.
A ambientalista Erika Schloemp, formada em Ciências Biológicas pela Universidade Santa Úrsula (RJ) e com mestrado em Ciências Florestais pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da USP (Universidade de São Paulo), descarta material reciclável em um supermercado próximo à residência e deixa um saco de 100 litros uma vez por semana.
Na avaliação da ambientalista, os contêiners de descarte deveriam ser mais atraentes e ficar mais visíveis nos supermercados. “Vejo muitos deles praticamente escondidos, atrás da entrada do estabelecimento, e alguns sem telhado para proteger da chuva. Essa responsabilidade de divulgar e educar também deveria ser passada para os supermercados e estabelecimentos”, afirma.
A Prefeitura de Manaus disponibiliza 38 pontos de coleta seletiva de lixo. Funcionam segundo o horário dos supermercados, geralmente, de segunda-feira a sábado, das 7h às 22h, e aos domingos e feriados, das 7h às 18h. Os endereços constam AQUI.
Também há pontos de coleta para entrega de outros materiais (óleo de cozinha, pilhas, remédios, dentre outros) que não podem ser descartados nos PEVs. Acesse clicando no link AQUI.
Coleta seletiva em casa
Erika Schloemp conta que adotou a coleta seletiva após a prefeitura oferecer o serviço “porta-em-porta” através de um caminhão que passava onde ela mora. “Foram pelo menos 10 anos participando. Quando esse serviço acabou deu até desespero, pois não queria descartar as coisas no descarte domiciliar. O manauara precisa ser educado a entender que esse material tem valor e que representa a sobrevivência de pessoas que vivem da venda dele”, diz.
Cristine Rescarolli afirma que a população manauara ainda recorda do tempo em que havia coleta seletiva porta a porta. “Nesse tempo a separação do resíduo reciclável e não reciclável acontecia com maior frequência, pela facilidade de separar o seu lixo e este ser levado da porta da sua casa, como acontece com a coleta comum atualmente. Além disso nem todas as pessoas têm a possibilidade de levar o seu resíduo até os PEVs de supermercados ou mesmo os instalados pela FAS”, explica.
Ações
Para Cristine Rescarolli, o retorno da coleta seletiva porta a porta pela Semulsp (Secretaria Municipal de Limpeza Urbana) é o ideal. Ela afirma que algumas cooperativas e associações oferecem esse serviço por um valor acessível.
“Além disso, campanhas de sensibilização quanto aos locais dos PEVs e a forma correta e simplificada de como destinar corretamente o seu resíduo podem ajudar na criação da consciência para a utilização destes locais”, acrescenta.
A FAS tem oito pontos de entrega voluntária em oito bairros de Manaus. Também promoveu oficinas de educação ambiental com catadores de cinco bairros, que receberam a doação de triciclos para a coleta do material reciclável e destinação à indústria de reciclagem. Isso reduz o menor número de intermediários e faz com que o valor da venda seja revertido diretamente a quem coleta.
Erika Schloemp propõe campanhas massivas de divulgação, em redes de comunicação, seguindo as orientações do PNRS (Política Nacional de Resíduos Sólidos) na educação, como parte da grade escolar.
Iniciativa privada
Ações de reciclagem podem ser iniciativa de empresas do setor privado. Na última quarta-feira (14), ExxonMobil, empresa global do setor de óleo e gás, anunciou apoio ao modelo YouGreen de Cooperativa em Manaus. Com um aporte de R$ 340 mil, o objetivo é garantir a coleta e a destinação correta de resíduos recicláveis, com foco no plástico, na capital.
A Ecocoperativa poderá adquirir a infraestrutura, maquinário e acelerar a recuperação do plástico coletado. Realizará a gestão de resíduos de grandes geradores em Manaus, com a possibilidade de fazer parcerias com estabelecimentos para a instalação de pontos de entrega voluntária.
A cooperativa integrará uma central de serviços compartilhados, com consultoria jurídica, departamento comercial e uma área de treinamentos para os catadores. O trabalho consiste na coleta, classificação, enfardamento e destinação à indústria recicladora.
A estimativa é de que a implementação ocorra em um ano e que, em até 32 meses, sejam recicladas 100 toneladas por mês, com 35 cooperados e uma média de faturamento de R$ 100 mil mensais revertidos para a cooperativa.