Da Redação
MANAUS – Uma cirurgia, realizada pela primeira vez na Fundação Centro de Controle de Oncologia do Estado do Amazonas (FCecon), salvou um paciente da amputação de seu braço esquerdo. O procedimento cirúrgico de alta complexidade, realizado em janeiro deste ano na Fundação, que é referência no tratamento de câncer na região Norte, é o mesmo já feito em grandes centros de oncologia, como o A.C. Camargo, de São Paulo.
O paciente é um homem de 61 anos, piloto de moto e até de avião, que foi diagnosticado com carcinoma escamocelular do ombro, um tumor de pele que invadiu a clavícula e a escápula. A função dos dois ossos é servir como um elo entre cada membro superior e o tronco.
Para este tipo agressivo de tumor, a amputação do ombro e do braço é o tipo de cirurgia mais rotineira. No entanto, um procedimento chamado Tikhoff-Linberg foi a opção escolhida pelo cirurgião oncológico da Fundação Cecon, Manoel Jesus Júnior, de modo a preservar o braço do paciente e dar a ele mais qualidade de vida.
“A grande dificuldade e raridade da cirurgia foi que a doença comprometia uma grande área de pele. Foi feita uma rotação de retalhos, que foi pegar tecidos de outras áreas, e fechar essa área de maneira complexa. Essa cirurgia foi idealizada justamente para oferecer ao paciente uma qualidade de vida muito importante”, explica o cirurgião Manoel Jesus Júnior.
O procedimento – A cirurgia Tikhoff-Linberg é realizada para tumores do úmero proximal, escápula e clavícula. É um procedimento raro, tanto que na literatura médica são poucas as séries de casos publicados. No Amazonas, não há registro da cirurgia nos hospitais públicos e privados.
A cirurgia consiste na retirada do terço proximal do úmero, da escápula e da clavícula, preservando o feixe vasculonervoso do braço, ou seja, veia, artéria e nervo que vão fazer a irrigação, drenagem venosa e inervação do braço.
O método é considerado difícil e já foi realizado em grandes centros médicos do país, como o A.C. Camargo Cancer Center, em São Paulo, e o hospital do Inca (Instituto Nacional de Câncer), no Rio de Janeiro. Na FCecon, a cirurgia, considerada de grande porte e alta complexidade, durou seis horas e meia e contou com uma equipe de 15 profissionais, entre médicos, residentes e equipes de anestesia e enfermagem.
“A cirurgia realizada aqui dentro da Fundação Cecon é muito gratificante para todos os profissionais da instituição e mostra que temos equipe capacitada para grandes desafios. O Cecon é o único centro oncológico na região referência em alta complexidade como é o caso dessa cirurgia”, afirma o diretor-presidente da Fundação, mastologista Gerson Mourão.
Qualidade de vida – O paciente que passou pela cirurgia Tikhoff-Linberg na FCecon vai conseguir manter até 70% dos movimentos de amplitude do cotovelo esquerdo e 100% do movimento da mão.
“Foi desafiador, do ponto de vista cirúrgico, e muito gratificante, porque nós conseguimos preservar o braço do paciente, conseguimos fazer com que ele seja funcional e, ao mesmo tempo, conseguimos fazer com que o defeito anatômico fosse todo sanado. A recuperação do paciente, a volta dele para o seu meio social é muito mais rápida do que se só tivéssemos tirado a doença e deixado o defeito anatômico cicatrizar por ele mesmo”, destaca Manoel Jesus Júnior.
Números – A FCecon realizou 4.156 cirurgias no ano de 2019, num aumento de 13,55% em comparação a 2018 (3.660). O Centro Cirúrgico da Fundação dispõe de nove salas, onde são realizadas mais de 20 cirurgias por dia nas mais variadas especialidades, como Oncologia, Cabeça e Pescoço, Mastologia, Vascular, Tórax, Urologia, Plástica, Ginecologia, Ortopedia, Pediatria e Neurologia.