Por Iolanda Ventura, da Redação*
MANAUS – O município de Barcelos (a 401 quilômetros de Manaus) é a cidade que mais perdeu água no Brasil. Seis municípios do Amazonas estão entre os 20 que mais sofreram redução na chamada “superfície de água” de 1990 a 2020. O dado consta na pesquisa do MapBiomas, rede colaborativa formada por ONGs, universidades e empresas de tecnologia que anualmente monitora as mudanças ambientais no Brasil.
Barcelos teve uma perda de 340.681 hectares de superfície de água em 30 anos, o equivalente a 3.406 quilômetros quadrados ou 477 campos de futebol. Na lista também aparecem Coari, São Gabriel da Cachoeira, Novo Airão, Tapauá e Manacapuru.
O estudo mostra que Barcelos é também o município com maior superfície de água no país, 400.487 hectares. Outras cidades do Amazonas aparecem no ranking: Presidente Figueiredo, Coari, Parintins, Itacoatiara e Borba. Segundo o monitoramento, 70% dos municípios do país tiveram redução na superfície de água nas últimas três décadas.
A pesquisa mostra que a retração da superfície coberta com água no Brasil foi de 15,7% desde 1991, caindo de 19,7 milhões de hectares para 16,6 milhões de hectares em 2020.
De acordo com o MapBiomas, embora essa área seja equivalente ao estado do Acre ou quase quatro vezes o estado do Rio de Janeiro, a perda de 3,1 milhões de hectares em 30 anos equivale a uma vez e meia a superfície de água de toda região Nordeste em 2020. O Brasil possui 12% das reservas de água doce do planeta, constituindo 53% dos recursos hídricos da América do Sul.
O bioma com a maior área coberta por água no Brasil é a Amazônia, com mais de 10,6 milhões de hectares de área média, seguido pela Mata Atlântica (mais de 2,1 milhões de hectares) e pelos Pampas (1,8 milhão de hectares). O Pantanal ocupa a quinta posição, com pouco mais de 1 milhão de hectares de área média, atrás do Cerrado (1,4 milhão de hectares).
O estudo mostra que todos os biomas tiveram redução da superfície de água: Amazônia (-10,4%), Caatinga (-17,5%), Cerrado (-1,3%), Mata Atlântica (-1,4%), Pantanal (-68%) e Pampa (-0,5%).
Carlos Souza Jr., coordenador do MapBiomas Água, explica que há vários fatores que provocam a redução de superfície de água no Brasil. “A dinâmica de uso da terra baseada na conversão da floresta para pecuária e agricultura interfere no aumento da temperatura local e muitas vezes altera cabeceiras de rios e de nascentes, podendo também levar ao assoreamento de rios e lagos”, diz.
“A construção de represas em fazendas para irrigação, bebedouro ao longo de rios diminui o fluxo hídrico; e, em maior escala, as grandes represas para produção de energia, com extensas superfícies de água sujeitas a processos de evapotranspiração que leva a perda de água para atmosfera”, acrescenta.
As consequências são o aumento de queimadas, impacto na produção de alimentos, na produção de energia e o racionamento de água nas cidades.
Mapeamento
O mapeamento de superfície de água é realizado através de imagens de satélites. As cenas são processadas para calcular a probabilidade de ocorrência de superfície d’água. Os dados permitem a análise dos tipos de corpos hídricos, suas transições e tendências.
No Brasil, 76,26% das áreas dos corpos hídricos são naturais, 5,96% são de reservatórios, 17,7% de hidrelétricas e 0,08% de mineração.
Leia a pesquisa completa AQUI.
* Com informações do MapBiomas