Por Bianka Veira, Da Folhapress
SÃO PAULO – Adaptar novas tecnologias ao contexto brasileiro de produtividade é o grande desafio para o país com os avanços da indústria 4.0. Entre as requisições desse novo cenário, está a reformulação do sistema de qualificação profissional e da educação básica para que o trabalhador possa desenvolver novas habilidades.
“Mudanças tecnológicas são históricas, disruptivas e sempre acontecem. Não está sendo diferente dessa vez e não temos evidências para crer que, no futuro, o emprego desaparecerá”, disse André Portela Fernandes de Souza, professor da FGV-EESP e coordenador do Centro de Microeconomia Aplicada da instituição, em mesa do debate do seminário O Futuro do Emprego e o Emprego do Futuro.
O evento, que teve patrocínio do Senai e apoio do Sebrae, foi promovido pela Folha de S.Paulo, nesta sexta-feira, 30, em São Paulo. Segundo Portela, com a entrada de novas tecnologias na indústria, novos perfis de trabalhadores são requeridos para executá-las. O problema enfrentado no Brasil, no entanto, é a falta de recursos educacionais e profissionalizantes para especialização da mão de obra. “Pode ser que nem as empresas consigam implementar essas tecnologias”, afirmou.
Para Rafael Lucchesi, diretor de educação e tecnologia da CNI e diretor-geral do Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial), a quarta revolução industrial exige novas competências socioemocionais, bem como maior capacidade de colaboração, comunicação, criatividade, interpretação de dados e trabalho coletivo. Reformas na educação, fortalecimento do ensino profissional e ampliação do ensino à distância são boas alternativas de alcançar a mudança comportamental desejada, segundo os especialistas.
“No Brasil, 8% dos jovens fazem formação técnica. Nos países emergentes mais bem-sucedidos, acima de 50% dos jovens fazem cursos técnicos. Nós temos de mudar essa distorção que temos na matriz educacional brasileira”, afirmou Lucchesi.
Segundo Regina Madalozzo, professora do Insper especialista em economia do trabalho e questões de gênero, a potencialização do novo modelo de indústria e de características como flexibilidade de local e jornada de trabalho fornecem possibilidades para que as mulheres sejam incluídas de forma mais igual que no passado.
O problema, de acordo com Madalozzo, é fazer com que meninas percebam, desde cedo, que terão espaço em profissões predominantemente ocupadas por homens.
“Poucas mulheres optam pelo ensino técnico. E, no ensino superior, apesar de termos uma formação muito grande de mulheres, em profissões de ciência, tecnologia, matemática, engenharia e computação há poucas delas”, disse.
Não saber exatamente quais habilidades serão requeridas no futuro desafiam, hoje, gestores do setor público e privado -problema contornável com o auxílio de alguns questionamentos-, de acordo com André Portela. “Se eu vou me preparar para migrar, o que é que eu levo comigo? Se eu não sei o que me espera no novo mundo de trabalho, quais habilidades podem ser úteis para qualquer lugar que eu for?”, indagou.