Por Daisy Melo, da Redação
MANAUS – Realizada pela primeira vez no Amazonas, a eleição suplementar para governador do Estado, no dia 6 de agosto, tem como maior diferencial o tempo curto tanto para apresentação dos candidatos e planos de governo quanto para o mandato. Nesse cenário, a conquista de mais tempo nas mídias para expor as propostas ganha um peso ainda maior. Para analistas políticos, ser um candidato mais conhecido do eleitorado tem vantagens e desvantagens.
Com as convenções partidárias até o dia 16 deste mês, o período para apresentação da candidatura pode ser considerado traiçoeiro. Em uma eleição convencional, o período de exposição das chapas é de cerca de cinco meses. “É muito pouco tempo que os candidatos terão para se apresentar. O Amazonas é imenso e eles precisam se mostrar o mais rápido e abrangente possível a todo Estado. Terão chances maiores os que já são conhecidos porque é muito pouco tempo para apresentar programas e pessoas novas”, disse o cientista político Helso Ribeiro.
Para o sociólogo e professor da Ufam (Universidade Federal do Amazonas) Luiz Antônio Nascimento, ser um candidato de conhecimento dos eleitores poder ser também uma desvantagem. “Por ser conhecido, nós sabemos do que eles são capazes, inclusive, com o envolvimento com corrupção poderosa, as denúncias estão colocadas aí para serem apuradas”, afirmou.
A corrida para fechar alianças considera mais do que nunca a busca por maior tempo de propagandas nos meios de comunicação. “A questão das alianças é muito pragmática, eles vão priorizar acima de tudo o tempo de televisão e de rádio, já que a eleição se dará em curto prazo e o período de propaganda é mais curto ainda”, afirmou Helso Ribeiro.
Sobre o aspectos dos programas apresentados, a expectativa do cientista político é de que sejam similares. “Devem ser muito parecidos, como sempre é, nada de tirar coelho da cartola, devemos ver um pouco do mesmo”, afirmou.
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Decisão sobre o voto
Luiz Antônio Nascimento avalia que mesmo com o grande número de candidatos e o período inferior para exposição das propostas, é suficiente para o eleitor definir o voto. “Não compromete o voto. A França fez eleições recentemente num intervalo de tempo parecido como o nosso, com recursos menores do ponto de vista do financiamento de campanha, a responsabilidade do eleitor é se informar para fazer a escolha dele. A pauta não é grande, é de relevância gigantesca, mas numericamente pequena”, disse.
Sobre essa responsabilidade, o cientista político afirmou que o eleitor deve pesquisar sobre os candidatos antes de tomar a decisão. “Tem alguns que são históricos enganadores, daquela tradição do ‘roubo mais faz’, o eleitor tem que evitar esse tipo de candidatura”, disse.
Ribeiro ressalta que é necessário acompanhar o mandato dos políticos, “É preciso exercer a cidadania ativa não apenas na hora do voto, mas ter um critério de fiscalização após as eleições isso é o que a gente espera e isso demanda um educação política que ainda está incompleta”.
Com uma nova eleição após a cassação da candidatura do ex-governador José Melo, eleito em 2014, os especialistas concordam que o eleitor possa estar desestimulado a votar, mas destacam a importância do ato. “O voto é sempre uma escola para o País, quanto mais votarmos melhor, é sempre um exercício da democracia que deve ser estimulado”, afirma Ribeiro.
Na mesma linha, Nascimento afirma que a cassação estimula a reflexão sobre o voto. “Faz o eleitor avaliar melhor o seu voto, o voto é sagrado, é mais seguro que a vontade individual, que a vontade do autoritário”, frisou.
Mandato
Outra questão a ser considerada pelos candidatos, além do curto espaço de tempo, é convencer o eleitorado de que conseguirão cumprir as promessas durante o mandato com curta duração. “O desafio vai ser mostrar que pode fazer alguma coisa dentro do prazo pequeno, no mandato de um ano e dois, três meses, mostrar credibilidade, vai ser um desafio para os marqueteiros sintetizar isso para população, que já anda desconfiada dessa democracia representativa”, disse Ribeiro.
Luiz Antônio Nascimento afirmou que o mandato, mesmo curto, é uma oportunidade para o candidato eleito. “Terá um ano e meio, será reavaliado de novo em 2018, se fizer um bom mandato poderá ser reconduzido”, disse. Segundo o sociólogo, o curto mandato traz também a possibilidade de experimentar novos candidatos. “Temos vários nomes comprometidos com o Estado e que sempre foram desconsiderados nas urnas. Será que eles farão um bom governo ou não? Não sei, mas o que eu sei é que os outros não fizeram, desviaram dinheiro público, mentiram, sonegaram”, disse.