A Campanha da Fraternidade de 2018, promovida pela Igreja Católica, iniciou nesta quarta-feira de Cinzas. O tema deste ano é Fraternidade e Superação da Violência. O lema é “Vós sois todos irmãos” (Mt. 23,8).
Em Manaus, o lançamento foi feito pelo Arcebispo Metropolitano, Dom Sérgio Castriani, na Praça da Matriz, onde ele fala do desafio de lutarmos contra todas as formas de violência que atingem a sociedade e do compromisso de assumirmos que somos todos irmãos e irmãs diante de Deus.
O objetivo da CF (Campanha da Fraternidade) deste ano é “Construir a fraternidade promovendo a cultura da paz, da reconciliação e da justiça, à luz da Palavra de Deus, como caminho de superação da violência”. A CF acontece no período da quaresma, tempo de penitência e de mudança de vida. É a preparação para Páscoa. Todos podemos mudar a nossa vida e a sociedade, com mais justiça e solidariedade.
A violência tem múltiplas formas. Por isso, é necessário discutir o tema da segurança e a distância do Estado em enfrentar a criminalidade. Segundo o Atlas da Violência do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), em 2014 o Brasil chegou ao topo do ranking de homicídios, com 59 mil mortes.
A violência está no cotidiano de nossas vida. As pessoas têm medo de serem assaltadas, roubadas, agredidas e assassinadas. Muitos jovens nem saem de casa devido à tanta violência. Mas há também a violência institucional e a desigualdade social que são igualmente injustas e cruéis. Famílias sem casa, crianças sem escola, fome, miséria, desemprego são tipos de violências que atingem muitas pessoas ao mesmo tempo.
Há também a ‘violência cultural’, que banaliza atos de vingança, mortes e atos criminosos por motivos fúteis, vigorando a indiferença a essas situações.
A violência é parte da história do Brasil, desde a escravidão dos índios e dos negros (estes por mais de 300 anos) até os dias modernos, com a exploração dos trabalhadores e com a exclusão social dos mais pobres.
A CF denuncia a violência política e a corrupção. Têm muitos políticos que defendem abertamente a violência, com o armamento da população, condenações sumárias e o fim do direito à ampla defesa.
A corrupção é a expressão de que o dinheiro está em primeiro lugar e que a dignidade das pessoas e o bem público estão em segundo plano. A corrupção trai a justiça e a ética social, comprometendo o funcionamento do Estado, confundindo o público e o privado. Além de levar ao descrédito das instituições públicas e à não participação do povo na política. A corrupção de recursos públicos enfraquece as políticas sociais e marginaliza os pobres.
Muitas são as vítimas da violência no Brasil e a violência por motivo racial é uma das que mais atinge a população. De 2003 até 2016 houve a diminuição de 26% de pessoas brancas vítimas de homicídio. No entanto aumentou em 46% as pessoas negras vítimas desse crime. Os jovens são as maiores vítimas. Em 2011 foram 52 mil homicídios, sendo 52% de jovens e desse percentual, 71% eram negros, sendo 93% do sexo masculino.
Também é preocupante a violência contra as mulheres, as crianças e a violência doméstica. O SUS registrou em 2011 que 71% das agressões contra as mulheres ocorreram dentro de casa.
A CF denuncia ainda a exploração sexual, o tráfico humano, a violência contra os trabalhadores rurais, indígenas e povos tradicionais. E também a violência causada pelo narcotráfico, as drogas, a dependência química e as mortes no combate ao tráfico.
Devido a sensação de insegurança e o medo , cresce também a repressão do Estado. Mas se critica a eficiência das instituições públicas. A cada dia o povo confia menos na polícia, no Judiciário e nos governos.
Também há a crítica aos meios de comunicação que, em alguns casos, estimulam a violência, a intolerância e o fanatismo religioso que desrespeitam a livre manifestação da fé de cada pessoa. A CF lembra ainda da violência no trânsito que, em média, ceifa a vida de 40 mil pessoas por ano no Brasil.
Muito atual as palavras de Jesus: “ O que sai da pessoa é que a torna impura. (…) Pois é de dentro, do coração humano, que saem as más intenções: imoralidade sexual, roubos, homicídios, adultérios, ambições desmedidas, perversidades, fraude, devassidão, inveja, calúnia, orgulho e insensatez. Todas essas coisas saem de dentro e são elas que tornam alguém impuro” (Mc. 7,14-15).
A CF lembra, por meio de seu lema: “Todos vós sois irmãos”, que a fraternidade é fundamento para a paz e leva ao reconhecimento de cada pessoa humana como igual em dignidade e em direitos.
O que podemos fazer para superação a violência? Certamente cada pessoa tem o seu papel, portanto, pode fazer algo. A responsabilidade do cidadão e do cristão é enorme. Mas os poderes públicos, os que assumem cargos, eleitos ou não, contratados ou concursados, todos têm deveres e certo poder para fazer a diferença.
Boa Campanha para todos e todas!
José Ricardo Wendling é formado em Economia e em Direito. Pós-graduado em Gerência Financeira Empresarial e em Metodologia de Ensino Superior. Atuou como consultor econômico e professor universitário. Foi vereador de Manaus (2005 a 2010), deputado estadual (2011 a 2018) e deputado federal (2019 a 2022). Atualmente está concluindo mestrado em Estado, Governo e Políticas Públicas, pela escola Latina-Americana de Ciências Sociais.
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nao resolveu nada fdm