Por Valter Calheiros, especial para o ATUAL
MANAUS – Construir a fraternidade, promovendo a cultura da paz, da reconciliação e da justiça, à luz da Palavra de Deus, como caminho de superação da violência. Com esse objetivo a Campanha da Fraternidade completa 54 anos de reflexão e ações concretas em respostas às questões políticas, sociais, educacionais, religiosas, presentes na realidade do povo brasileiro.
A CF-2018 tem como tema “Fraternidade e superação da violência” e o lema “Vós sois todos irmãos” (Mt 23,8). A Campanha acontece de 14 de fevereiro a 25 de março, período litúrgico da Quaresma até a Páscoa. Aos católicos, é tempo forte de penitencia, mudança de vida e inserção nos mistérios de Cristo.
As ações da CF-2018 são promovidas pela CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil); seu lançamento em nível nacional acontece na quarta-feira de Cinzas (14/02). Em Manaus, a celebração será às 8h30, na Igreja Matriz. Em nível Arquidiocesano, a formação com a temática da CF-2018 para as Paróquias e Áreas Missionárias acontece nos dias 15 e 16 de fevereiro no Auditório da Faculdade e Colégio Dom Bosco no Centro. Na zona leste de Manaus, a Paróquia de São José Aleixo realizará formação aos agentes das pastorais no dia 18 de fevereiro (domingo) a partir das 8h30.
Diante das múltiplas formas de violência, propomos aqui fazer uma reflexão sobre a violência como resultado da desigualdade econômica e social que produz a morte de muitos cidadãos brasileiros. A narrativa nasceu a partir de um registro fotográfico que nos leva a refletir a realidade de homens e mulheres que tiveram suas vidas roubadas a partir de Direitos Humanos negados.
Negligencia promovida pelas diversas esferas de governo, pois muitos de nossos gestores públicos, mesmo dentro de suas competências, não se sentem incomodados ou responsáveis por centenas de crianças, jovens e adultos que vivem ao relento nas esquinas e praças de nossa cidade.
O cidadão que vive nas ruas de Manaus convive diariamente com toda forma de violência promovida pelo tráfico de drogas, prostituição, desemprego, falta de saúde e alimentação adequada. Para esses brasileiros não lhes é assegurado nenhuma das garantidas firmadas na Constituição Federal de 1988 – considerada Cidadã, pois, o recurso público não os alcança, mas, sua condição de exclusão certamente é somada aos dados estatísticos oficiais para justificar ações e embasar discursos.
O que se constata é que a maioria dos recursos do orçamento público alcança tão somente um número reduzido de brasileiros que estão diretamente representados e conectados ao poder econômico, político ou nas esferas do Judiciário. A essas pessoas ou empresas convêm permanentemente incentivos e isenções fiscais, recursos financeiros destinados a auxílio moradia, alimentação, paletó, transporte, educação, saúde, aposentadorias milionárias e tantos outros benefícios. Assim, podemos afirmar que este modelo de sociedade, em muitos casos alicerçados na corrupção, perpetua privilégios e contribui diretamente para levar a cada dia mais cidadãos ao mundo da violência e a ter suas vidas roubadas.
Como construtores da paz e gestores da fraternidade, mantemos viva a esperança que a CF-2018 venha contribuir para superação de toda forma de violência. Nessa perspectiva, oferecemos a narrativa VIDA ROUBADA aos educadores sociais, agentes de pastorais, religiosos e religiosas e a todos que se dedicam ao ofício de ir ao encontro de pessoas para restituí-las a vida!
VIDA ROUBADA
O tempo grava memórias, histórias, saudades
No passado reencontramos amores, infância, paragens
Retorna pensamentos, sentimentos, dores e vitórias
Na busca incessante ao gozo da vida.
A cada tempo trilhamos novos caminhos
Buscamos ter, poder, estar, conhecer, viver
Cada qual na sua lida e meio, seu feito
Até se encontrar ou se perder.
Uma imagem esquecida à lente ampliou
Certo homem nas ruas da Manaus dita Moderna
No semblante um socorro a implorar
Sem horizontes murmura piedade, caridade.
Filho do mesmo Pai, é gente indigente
Desencontrado, passam as horas, os dias
Nem percebe que mudam os lugares e as lentes
Vida roubada sem Direito a Recursos paga dura sentença.
Ao longe o olhar mira amizades perdidas
Quem sabe alguém lhe dê atenção
Toque as mãos, abrande o pulsar do coração
Que ao menos em nome de Deus lhe dê um pão!
*Valter Calheiros é Educador Social e Ambientalista do Movimento Socioambiental SOS Encontro das Águas.