Do ATUAL
MANAUS – Com o espetáculo “Cabaré Chinelo”, a companhia de teatro Ateliê 23 denuncia o tráfico de mulheres no Amazonas na Belle Époque (bela época), no início do século 20. O musical é inspirado em pesquisa do historiador Narciso Freitas.
Na busca pelo histórico de sua família, de origem judaica, Narciso Freitas se deparou com a história de prostitutas que viveram em Manaus na época da borracha registrada em jornais do período entre 1900 e 1920. O espetáculo é produzido em parceria com a companhia de teatro argentina García Sathicq.
Segundo o diretor do Ateliê 23, Taciano Soares, a ideia do espetáculo foi desmistificar o ideal romantizado que ainda existe sobre o período da borracha em Manaus. “Na verdade, a belle époque foi um produto de alguns poucos homens que detinham poder e dinheiro na época da borracha e que fizeram com que a cidade fosse uma espécie de cartão postal, quando por trás disso, havia muito suor e sangue”, afirma.
“Essa é a história real que, inclusive, perpetua até hoje, visto que temos, no Centro, ruas ao redor do Hotel Cassina onde era o Cabaré Chinelo, que ainda sustenta uma subvida: mulheres prostituídas em condições sub-humanas, herança direta daquele período e do modo pelo qual homens trataram corpos e vidas de mulheres como se fossem mercadorias”, disse.
A pesquisa identificou quanto cada uma mulher valia em ruas como Epaminondas, Dez de Julho, Itamaracá, Lobo D’Almada e Saldanha Marinho e Porto de Manaus. “Os jornais da época foram fundamentais para entender como tudo se dava, porque é através das manchetes que temos acesso aos nomes das mulheres, as personalidades e a histórias muitos tristes”, disse Taciano.
“Outra questão dessa pesquisa são as ISTs, infecções sexualmente transmissíveis vinculadas a presença das prostitutas e registradas em fichas de cadastro de saúde, que também vamos distribuir para a plateia. São documentos que constam nomes, origem e o termo deflorada para se referir a primeira vez dessas mulheres”, disse o diretor.
O material foi fundamental para entender como o esquema ocorria e conhecer os nomes das mulheres, das personalidades e suas respectivas histórias.
A companhia Ateliê 23 completará dez anos em agosto de 2023. Desde março de 2015 já apresentou 17 espetáculos de teatro e dança. A principal característica do coletivo é trabalhar com histórias reais, objeto da tese de Doutorado “Bionarrativas Cênicas”, defendida por Taciano Soares na Universidade Federal da Bahia.
Entre obras de sucessos de público crítica estão “Helena”, selecionado para a mostra “A Ponte: cena do teatro universitário do Itaú Cultural e indicado ao Prêmio Brasil Musical”; “Sa Silva” e “Ensaio de Despedida”, indicados para o projeto Palco Giratório, do Sesc; “Vacas Bravas”, “Persona – Face Um” e “A Bela é Poc”.
A nova temporada estreia nesta terça-feira (8), às 20h, no Teatro Gebes Medeiros, no Centro de Manaus. O espetáculo será as terças e quartas. A classificação indicativa é de 18 anos e os ingressos antecipados estão à venda pelo site do Sympla.
Nos dias de apresentação, os ingressos serão vendidos a R$ 50 (inteira) e R$ 25 (meia), na bilheteria do teatro.