
Por Feifiane Ramos, do ATUAL
MANAUS — Buracos e falhas no asfalto de vias movimentadas de Manaus, como a Avenida Djalma Batista, aumentam significativamente o risco de acidentes, sobretudo para motociclistas que são mais vulneráveis devido à menor estabilidade do veículo. No domingo (22), a estudante de biomedicina Geovana Ribeiro, de 29 anos, grávida de sete meses, morreu quando o marido passou em um buraco, perdeu o controle do veículo e os dois caíram.
O especialista em engenharia de tráfego Manoel Paiva explica que “qualquer falha no pavimento de uma via onde existe uma demanda muito grande de veículos, como é o caso da Djalma Batista, da Constantino Neri e da Coronel Jorge Teixeira, efetivamente vai fazer com que aumente o risco de acidentes, principalmente para motocicletas”.

Segundo ele, as motocicletas representam 34% da frota em Manaus com 400 mil veículos registrados e “efetivamente a probabilidade de acontecer acidente ocorre como vem acontecendo nos últimos cinco anos, ou seja, primeiramente são com as motocicletas, depois são com pedestres”.
Dados do IMMU (Instituto Municipal de Mobilidade Urbana) mostram que entre 1º de janeiro e 17 de junho de 2025, Manaus teve 112 mortes no trânsito, uma redução de 19,42% em relação ao mesmo período de 2024, quando ocorreram 139. Mesmo com essa queda, os motociclistas são as principais vítimas, representando quase metade (47%) dos casos, com 53 mortes.
As quedas, como a que causou o acidente fatal com a estudante Geovana Ribeiro, subiram 366% no período — saltando de 3 ocorrências em 2024 para 14 em 2025. Os casos de colisão caíram 38,71% (de 62 para 38), e os choques tiveram redução de 35% (de 20 para 13). O número de atropelamentos se manteve estável, com 42 casos em ambos os anos.
Manoel Paiva diz que diversos fatores contribuem para os acidentes como “a velocidade desenvolvida, a falta de sinalização, a pista molhada, as condições de trafegabilidade, ou seja, as condições de manutenção da via”.
Ele defende a necessidade de que “a Prefeitura de Manaus e o governo do Estado façam a manutenção constante, não só no pavimento, mas também na sinalização, na geometria da via, melhorando a segurança, melhorando a iluminação e as condições de trafegabilidade”.
O especialista em trânsito e mobilidade urbana Rafael Cordeiro acrescenta que para um trânsito mais seguro é necessário um conjunto de ações em educação, fiscalização e engenharia. Ele cita o Plano Nacional de Redução de Acidentes, conhecido como Pena Trans, que visa identificar e enfrentar problemas no trânsito brasileiro.
“O Pena Trans estabeleceu seis pilares, dentre eles um que chama atenção justamente para vias seguras, ou seja, as vias seguras contribuem diretamente para termos um trânsito mais seguro em nosso país, em nosso estado e em nossa cidade. Portanto, vias devidamente planejadas, vias em boas condições, vias com perfeita manutenção têm a capacidade de contribuir para diminuição do número de acidentes e, obviamente, sejam vítimas lesionadas ou até mesmo vítimas fatais”, afirma.
Rafael observa que a atuação do poder público normalmente é reativa, “ou seja, primeiro esperar acontecer, primeiro ocorrer, para depois intervir”. “E no trânsito é importante que as ações sejam o oposto, ou seja, sejam proativas, identificar o problema, sanar o problema para que nós não tenhamos aí mais acidentes na nossa via, na nossa cidade”.

Responsabilidade
O especialista reforça que a atuação do poder público no trânsito precisa ser preventiva e não apenas reativa, ou seja, agir depois que o acidente tenha ocorrido, o que, segundo ele, ocorre em Manaus. “No trânsito é importante que as ações sejam o oposto, ou seja, sejam proativas, identificar o problema, sanar o problema para que nós não tenhamos aí mais acidentes na nossa via, na nossa cidade”.
Rafael também cita a importância da manutenção das vias e da sinalização adequada para evitar acidentes fatais, como o que ocorreu com Geovana Ribeiro. Ele alerta para a necessidade de identificação de pontos críticos na cidade.
“De forma imediata, o que a sociedade, o que todos esperamos como usuários da via, é um trânsito seguro. E para isso é importante que a Secretaria de Infraestrutura faça a identificação de pontos, trechos, locais em que exista um alto grau de risco, principalmente para o grupo dos motociclistas que são hoje o grupo mais vulnerável no contexto do trânsito […] para que realmente nós não tenhamos cada vez mais ocorrências, como nós tivemos ontem, em que a senhora Giovana acabou perdendo a sua vida, assim como a da sua filha, da sua bebê”.

Por fim, ele diz que cabe ao poder público concentrar esforços em ações integradas e na conservação das vias. Segundo ele, “ter vias devidamente pavimentadas, sinalizadas em perfeitas condições vai contribuir para que não tenhamos que estar diariamente noticiando perdas, vidas sendo interrompidas no nosso trânsito”.
Segundo o especialista, a responsabilidade em casos de acidentes causados por buracos envolve principalmente a atuação proativa do poder público na identificação e reparo dos trechos mais perigosos das vias.
“Bom, inicialmente é bom destacar que a Constituição Federal estabelece a responsabilidade objetiva para ações ou omissões do poder público. Nesse caso, é perfeitamente possível que quem quer que seja prejudicado por uma ação do poder público ou, no caso, uma omissão, possa buscar na justiça uma reparação cível, sim, dos órgãos responsáveis por tal serviço”, cita o especialista.
Consciência sobre riscos
Por um olhar de quem vivencia o trânsito diariamente sobre duas rodas, o jornalista Cleber Oliveira, motociclista há 25 anos, cita os principais riscos gerados pelos buracos nas ruas de Manaus. Ele diz que “os buracos nas ruas de Manaus geram dois riscos: o de queda ao perder o controle da moto caso passe na saliência em velocidade acima da permitida na via e o de ser atingido por outro veículo ao frear para evitar cair na cavidade da pista.”
“O bom motociclista é prevenido. Sabe os trechos das vias pelas quais costuma trafegar e adota o cuidado necessário para evitar se acidentar. Sei onde há buracos e me posiciono no lado da pista onde não há as fendas. Trafegar em baixa velocidade também é essencial”, diz Cleber.
Ele também detalha técnicas para evitar quedas: “Acidentes como motociclistas ocorrem em função da alta velocidade e da falta de cuidado com a segurança no trânsito. O motociclista pode se erguer do banco ficando em pé nas pedaleiras ao passar em um buraco. Esse procedimento proporciona o controle da moto tornando o corpo uma extensão do sistema de amortecimento do veículo. É como andar em uma trilha de barro e pedra”, acrescenta.
Apesar dos riscos, Cleber reforça a responsabilidade dos condutores: “Motociclistas não podem alegar que a culpa é somente do buraco. Devem ter consciência da boa condução da moto. Afinal, o veículo só tem duas rodas. Cair faz parte da engenharia da moto. O condutor é o pêndulo que mantém a moto em pé”.
Lamento
Em nota, a Prefeiturta de Manaus lamenta a morte de Geovana Ribeiro e atribui os buracos às chuvas, mas que intensificou os serviços de reparação nas ruas e avenidas. Confira a nota na íntegra.
“A Prefeitura de Manaus, por meio da Secretaria Municipal de Infraestrutura (Seminf), lamenta profundamente a morte da jovem Geovana Silva, de 29 anos, vítima do acidente ocorrido na noite do último domingo (22) na Avenida Djalma Batista. Neste momento de dor, toda a solidariedade da gestão municipal está voltada aos familiares e amigos, prestando assistência e amparo no que for preciso.
Em relação às condições viárias, a cidade enfrenta, há meses, as consequências de um dos períodos chuvosos mais rigorosos dos últimos anos. Desde o fim do mês de maio, com a chegada do verão, a prefeitura intensificou o trabalho de recuperação viária. No dia 27 de maio, foi iniciado o Mutirão nos Bairros, começando pelo Alvorada, onde 106 ruas já receberam manutenção.
No Tancredo Neves, foram 45 ruas atendidas. No Mutirão, outras 50 vias. Na Colônia Antônio Aleixo, 37 ruas, e o trabalho segue em andamento. Paralelamente, as ações nas vias principais também foram intensificadas.
Há cerca de duas semanas, a própria avenida Djalma Batista entrou no cronograma de manutenção, incluindo o trecho do acidente. O buraco em questão surgiu neste período e foi corrigido na manhã desta segunda-feira (23).
As frentes de trabalho permanecem ativas diariamente, com equipes atuando desde cedo em importantes corredores como Torquato Tapajós, avenida Timbiras e Cosme Ferreira. A prefeitura mantém o compromisso de agir com celeridade e responsabilidade diante de cada nova demanda que surge.
A prefeitura reforça, ainda, que a segurança no trânsito é um esforço conjunto, que depende do compromisso e atenção de todos os condutores. E reafirma o compromisso de seguir presente, com trabalho diário e permanente, enfrentando os desafios que uma cidade dinâmica como Manaus requer.