Brasília não é só um mar de lama. Nesta semana, tornou-se um lixão daqueles que a lei que criou a Política Nacional de Resíduos Sólidos tentou extinguir e não conseguiu. Tudo exala mau cheiro do Palácio do Planalto ao Congresso Nacional. Nos bastidores da capital federal todos, oposição e situação metem a mão no chorume para tentar salvar a própria pele.
O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB), encrencado até o pescoço com a corrupção na Petrobras revelada pela Operação Lava Jato, ameaçou a todos, com a frase que se tornou comum entre os corruptos no Brasil: “Se eu cair, levo todos comigo”. E todos, com exceções raras, se mobilizam para mantê-lo no cargo de presidente do Parlamento brasileiro.
Lula e o PT, que por 20 anos pregaram a ética como bandeira, agora dão um golpe na moral e nos bons costumes, numa tentativa desesperada de manter o mandato da presidente Dilma Rousseff. A política brasileira afunda numa crise sem precedentes. Quem acompanhou o impeachment de Fernando Collor de Mello lembra que àquela altura o Congresso Nacional tinha o respeito e o apoio da sociedade, que queria ver novos rumos para o País. O Congresso Nacional da era Dilma é uma instituição em frangalhos. O presidente do Poder Legislativo, senador Renan Calheiros, é investigado também no âmbito da Operação Lava Jato. O presidente da Câmara dos Deputados, que na linha de sucessão poderá assumir a cadeira de presidente da República interinamente, tornou-se um animal acuado, diante das provas que pesam contra ele de desvio de recursos públicos em benefício próprio e da família.
Em qualquer país do mundo, Eduardo Cunha já estaria longe do Poder Legislativo, talvez estivesse na cadeia se deputado fosse em um país em que a instituições prezam pela moralidade. No Brasil, ele fala grosso, ameaça expor a corrupção praticada por outros, e todos recuam. A oposição ávida por tirar a presidente da República da cadeira, topa qualquer negócio, e começa a se esfacelar. Como boa parte dos oposicionistas de hoje são os corruptos de ontem, sobra pouca credibilidade para levantar a voz. Os discursos não tem qualquer reverberação na sociedade. Aécio Neve, o líder da oposição, não tem o apoio nem do próprio partido, e alguns já começam a pular do barco tucano, antes do grande naufrágio. A oposição vai além: prefere negociar com o corrupto para tentar, com ele, no futuro, comandar o Estado-Nação.
Não há luz no fim do túnel para a política brasileira. Brasília vive seu momento mais cinzento da história. Os homens e mulheres que comandam ou que fazem oposição perderam o senso de responsabilidade, perderam a vergonha na cara e jogaram a locomotiva no abismo. Sobraram poucos para tentar puxar a corda e recolocá-la nos trilhos. Quem poderá comandar essa máquina na hipótese de um impeachment? O PMDB? Todos esqueceram que a Petrobras, onde nasceu os escândalos contemporâneos, foi comandada por esse partido, desde o primeiro governo de Lula. O partido que sempre se comportou como parasita ou como a grande prostituta no bordel de Brasília, não tem a moral necessária para governar o País.
O que preocupa é que não há mobilização no sentido de limpar a sujeira que espalha o odor. Pelo contrário, chegam cada vez mais sujeira para ser colocada debaixo dos tapetes dos nobres salões de Brasília e dos gabinetes dos que tem o poder de decisão.
Valmir Lima é jornalista, graduado pela Ufam (Universidade Federal do Amazonas); mestre em Sociedade e Cultura na Amazônia (Ufam), com pesquisa sobre rádios comunitárias no Amazonas. Atuou como professor em cursos de Jornalismo na Ufam e em instituições de ensino superior em Manaus. Trabalhou como repórter nos jornais A Crítica e Diário do Amazonas e como editor de opinião e política no Diário do Amazonas. Fundador do site AMAZONAS ATUAL.
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