Da Agência Câmara
BRASÍLIA – O governo federal poderá apresentar em breve propostas para o desenvolvimento sustentável da Amazônia brasileira. A expectativa é do vice-presidente da República, Hamilton Mourão, que também é responsável pelo Conselho Nacional da Amazônia Legal. Ele informou, nesta sexta-feira, 11, que o colegiado se reunirá no próximo mês para discutir o assunto, devendo comunicar decisões posteriormente aos governadores da região e à sociedade civil.
“O Brasil tem de se apresentar para o resto do mundo como uma potência agroambiental. Então, a bioeconomia passa pelo mapeamento dos produtos que temos lá, como açaí, castanha e cacau, e pelo incentivo à piscicultura dos peixes amazônicos e seus produtos”, afirmou Mourão. “Precisamos trabalhar o financiamento, seja por recolhimento de taxa da indústria [estabelecida na Zona Franca de Manaus], seja pela criação de um fundo de biodiversidade, um fundo que tenha uma governança bem estruturada.”
Hamilton Mourão participou de seminário virtual sobre oportunidades de inovação e de negócios na Amazônia, promovido pela Frente Parlamentar Mista da Bioeconomia.
O presidente da frente, deputado Alexis Fonteyne (Novo-SP), destacou a importância de se discutir “o lado bom da Amazônia, que é a oportunidade de negócios”. “Cada vez mais intenso é o debate do desenvolvimento sustentável, baseado na bioeconomia, em uma floresta produtiva permanente, com preservação dos recursos renováveis”, comentou.
Áreas ocupadas
O vice-presidente não descartou a existência de áreas já ocupadas por pecuária e lavouras. “Temos que restringir a agropecuária a essa região. Obviamente necessitamos avançar na regularização fundiária, de modo que os produtores rurais entrem no século 21, deixem de ter práticas arcaicas, aumentem sua produtividade e não precisem avançar sobre a floresta. E, ao mesmo tempo, regenerar áreas degradadas”, disse Hamilton Mourão.
“No restante da Amazônia, os 84% que estão preservados, temos metade desse percentual que são áreas obrigatoriamente preservadas, que são unidades de conservação e terras indígenas, e mais uma grande parte de terras públicas que não foram ainda colocadas à disposição para exploração”, informou. “Compete, então, ao governo federal envidar todos os esforços na sua proteção e preservação.”
Instituto de tecnologia
A sugestão do cientista e climatologista Carlos Nobre é que se crie um instituto de tecnologia para a Amazônia, semelhante ao Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), com o objetivo de investir em pesquisa na região e reverter o atual quadro de queimadas e desmatamento. “Já desmatamos, em toda a Amazônia, 1 milhão de quilômetros quadrados e 200 mil na Amazônia brasileira nos últimos 50 anos”, contabilizou Nobre.
Nas décadas mais recentes, continuou o cientista, a pesquisa esteve subfinanciada para a Amazônia, mesmo que hoje se saiba que um hectare de sistema agroflorestal produzindo açaí, cacau e castanha tem rentabilidade entre cinco e dez vezes maior que a da agropecuária convencional na região.
“Um instituto de tecnologia para a Amazônia deve reunir os melhores e mais brilhantes cientistas do Brasil. Deve ser inserido em uma política de apoio mais ampla”, reforçou Carlos Nobre.
Hamilton Mourão respondeu que as ideias estão colocadas e, agora, o governo tem a responsabilidade de induzir para que elas aconteçam. “Criar o ambiente de negócios, as facilidades, a colocação de um ITA par a Amazônia, eu vejo que vamos começar devagarinho”, declarou o vice-presidente.
Indústria
Da iniciativa privada, vieram exemplos de como a produção sustentável pode gerar emprego e renda sem destruição.
A diretora de Sustentabilidade da Natura, Denise Hills, por exemplo, disse que a ucuubeira era uma espécie ameaçada de árvore que, derrubada, era vendida por R$ 10. No entanto, a redescoberta do conhecimento ancestral de seu uso como cicatrizante deu origem a um novo ciclo, a partir da criação da manteiga de seu fruto, a ucuuba, que repara áreas secas da pele. Essa cadeia atualmente, declarou Hills, sustenta 1,1 mil famílias.
“Uma ucuubeira com 15 anos, derrubada, vale R$ 10. No entanto, a produção de uma saca de ucuuba rende R$ 100 por árvore. Preservar a floresta dobra a produção da ucuubeira. É isso que o trabalho de conservação da comunidade vai garantir”, explicou Denise Hills.
Por sua vez, o diretor no Brasil do The Good Food Institute, Gus Guadagnini, defendeu a indústria de proteínas alternativas à animal diante do “desafio global de alimentar quase 10 bilhões de pessoas em 2050 de maneira sustentável, saudável, eficiente e segura”. Ele acredita que se trata de uma oportunidade de negócios para a Amazônia e que o Brasil tem condições de avançar no setor.
“Temos capital intelectual único para competir. A gente tem a maior biodiversidade do mundo, que pode gerar inúmeros ingredientes e soluções tecnológicas de alto valor agregado, com produção sustentável e socialmente justa. Também já temos capacidade logística e experiência na distribuição de alimentos em todo o mundo”, listou Guadagnini.
Turismo
Coordenador da Frente Parlamentar Ambientalista, o deputado Rodrigo Agostinho (PSB-SP) defendeu que se interrompa o ciclo de desmatamento, ao mesmo tempo em que se lançam alternativas de desenvolvimento econômico para a região.
Ele citou, como oportunidade, a indústria do turismo organizado que tem interesse na floresta em pé. “Vamos transformar as nossas unidades de conservação em grandes centros de pesquisa e centros de atração de turismo em massa e organizado”, sugeriu.
Também o deputado Paulo Ganime (Novo-RJ) destacou que o Brasil pode ser líder no uso sustentável dos ecossistemas para o bem do País e de todo o mundo. “Quando a gente considera que o ser humano é parte integrante do meio ambiente, a gente consegue fazer com que a utilização dos recursos naturais seja para enriquecer a sociedade e garantir a preservação desses recursos”, afirmou.
Ganime foi o primeiro presidente da Frente da Bioeconomia. Lançada em junho de 2019, o colegiado tem o objetivo de aprimorar a legislação referente ao tema.