Da Folhapress
SÃO PAULO – A Venezuela anunciou o fechamento total de sua fronteira terrestre com o Brasil nesta quinta-feira, 21, em uma tentativa de impedir a entrada de ajuda humanitária pelo estado de Roraima, em operação prevista para o sábado.
O fechamento aconteceria a partir das 21h, informou o ditador da Venezuela, Nicolás Maduro. O governador de Roraima, Antonio Denaruim (PSL), chegou afirmar que a divisa foi fechada às 15h, mas o Palácio do Planalto não confirmou a informação. “Mais vale prevenir do que lamentar”, disse o ditador venezuelano ao anunciar a ação.
O Planalto trata o ato do presidente venezuelano como uma retaliação à autorização, dada por Bolsonaro nesta semana, para que opositores ao governo de Maduro usassem território brasileiro para fazer chegar ajuda à Venezuela.
Interlocutores do presidente ouvidos pela reportagem afirmaram que o objetivo de Maduro é desencorajar o governo brasileiro a levar o plano adiante.
Após uma reunião com os ministros Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), Onyx Lorenzoni (Casa Civil) e Santos Cruz (Governo), o presidente Jair Bolsonaro decidiu manter a missão.
O porta-voz da Presidência da República, Otávio Rego Barros, informou que os produtos serão mantidos nas cidades de Boa Vista e de Pacaraima, em Roraima, até que meios de transporte de cidadão venezuelanos busquem os suprimentos na região de fronteira. A questão é se os venezuelanos conseguirão buscar a ajuda com a fronteira fechada.
“Nós estamos disponibilizado os meios para a operação e nos quedamos aguardando a vinda dos caminhões de transporte dirigidos por venezuelanos”, disse.
Segundo ele, os alimentos não são perecíveis e o prazo de validade dos medicamentos é longo, o que permite o armazenamento por um longo período.
Contrária à operação, a cúpula militar do governo defendia a suspensão da operação, em uma tentativa de reconstruir o canal de diálogo do Brasil com a Venezuela, sobretudo com as forças militares do país.
O núcleo político, no entanto, entendia que o país deveria manter a iniciativa, nem que seja para manter os mantimentos na fronteira. A ideia é que, assim, o governo venezuelano seja pressionado pela própria população venezuelana, que passa por uma crise de escassez.
O chanceler Ernesto Araújo permaneceu no Itamaraty e, portanto, não participou da reunião com o presidente. O anúncio ocorreu dois dias antes do plano do líder da oposição e presidente interino Juan Guaidó de fazer entrar no país a ajuda humanitária enviada pelos EUA, a partir de pontos na Colômbia, em Roraima e em Curaçao.
Maduro diz que o plano é um “show” e um pretexto para uma intervenção militar americana no país. Maduro afirmou que também avalia o fechamento total da fronteira com a Colômbia. Há toneladas de suprimentos estocados na cidade colombiana de Cúcuta, na divisa.
Na quarta, Maduro já havia determinado a suspensão do tráfico aéreo e marítimo com Curaçao, onde está armazenada ajuda enviada de Miami. Maduro foi reeleito em maio de 2018 para um novo mandato de seis anos, em um pleito quase que totalmente boicotado pela oposição e considerado fraudulento por observadores internacionais.
Por isso, a Assembleia Nacional, de maioria opositora, não reconheceu o novo mandato do ditador e considerou que à Presidência estava vaga. Assim, indicou Guaidó para ocupar interinamente o cargo até que novas eleições livres sejam realizadas –o opositor se declarou presidente interino da Venezuela em 23 de janeiro.
Guaidó partiu em uma caravana rumo à fronteira venezuelana com a Colômbia, num percurso de 900 km. “Estamos rodando”, afirmou Guaidó, que lidera um conjunto de caminhonetes. Guaidó anunciou que as brigadas de voluntários irão buscar a ajuda em vários pontos dos estados de Táchira e Bolívia, no sul, limítrofes com a Colômbia e com estado brasileiro de Roraima, e também a Puerto Cabello e La Guaira.
Em alguns pontos da fronteira, houve confrontos entre simpatizantes de Guaidó e as forças de segurança. Partiram também do leste de Caracas ônibus com um grupo de deputados da Assembleia Nacional, de maioria opositora.
“Temos um compromisso, que é chegar à fronteira”, afirmou a deputada Mariela Magallanes. “Ajuda humanitária não é um capricho de um punhado de deputados, é uma necessidade.”