No começo do mês, fora publicado no jornal New York Times um texto que alerta sobre uma possível nova crise do capitalismo global, como aquela que atingira o sistema financeiro em 2008 e que impacta a economia mundial até os dias de hoje. Com pelo menos, a princípio, uma grande e importante semelhança entre ambas, tanto a da década passada, como possível próxima, não têm qualquer possibilidade de previsão cirúrgica, pelo menos não de maneira a evitá-la.
Mesmo que o jeito de se tratar crise econômica no jornalismo mainstream faça parecer esse fenômeno uma eventual e infortuna virose num corpo absolutamente saudável – que supostamente é o capitalismo –, para muitos, mais sóbrios, não é novidade alguma que a crise é parte fundamental do próprio funcionamento interno do capitalismo. É algo dado. Não existe capitalismo sem crise.
No artigo do jornal norteamericano, Desmond Lachman, o autor do texto, denuncia que, apesar de vários índices econômicos estarem mostrando aparente saúde e recuperação do sistema, os preços de ativos se dinamizam cada vez mais, num valor acima do ideal. Considera então, por tudo, que está a ser criada mais uma, entre várias, grande bolha – e o destino de todas bolhas que se inflam é estourar.
Até Martin Wolf, comentarista do Financial Times – diante de uma ainda singela recuperação, e diversos riscos assombrando os capitalistas – comenta que há um grande risco de colapso na cooperação global, acirrando conflitos entre países, ameaçando a razoável estabilidade que a todos atinge.
A fim de exemplo, na crise de 2008 houve, como uma das principais causas, uma bolha imobiliária que acabou quebrando os bancos – que por sua vez quebraram outros pelo mundo a fora, e que por fim foram salvos com investimento estatal astronômico. Já no cenário atual, nessa semana fora divulgado que, no mesmo EUA, pessoas já hipotecam a casa para comprar bitcoins, a moeda digital, que muitos apontam como uma outra bolha. E que, hoje mesmo desabou em mais de 30% em seu valor.
Para além de debater, por agora, quais seriam os possíveis rumos do modo de produção capitalista nos anos posteriores a essa provável crise, é, também por agora, muito mais importante que se questione aonde estará países “em desenvolvimento”, tal como o Brasil, nesse provável e próximo cenário. Se no último colapso “apenas uma marolinha” fora sentida no Brasil, nas palavras de Lula, as “commodities” não estão bombando como na época, e portanto, não segurarão nossa economia da mesma forma.
Pelo contrário, calcula-se que países subdesenvolvidos e dependentes terão um impacto drástico se não se prepararem. Da mesma maneira que países do centro – até mesmo os EUA de Trump – realizam medidas protecionistas, se países do chamado terceiro mundo não reformarem suas economias, invariavelmente assistirão as potências transferindo os efeitos da crise para o lado de cá da polaridade da dependência.
Ademais, o que aparace de maneira clara e crescente na dinâmica do capitalismo “financeirista” é a incompatibilidade com a democracia. Isto é, a demanda do mercado financeiro por uma cada vez mais brutal acumulação de capital gera uma contradição fundamental com os princípios de poder popular que são, pelo menos em tese, os guardiões da democracia. Isso gera uma insatisfação generalizada latente, ainda pré-consciente. Quando o sistema requer margens de lucros maiores, será capaz de passar por cima de qualquer coisa para fazê-la. Continua…
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