Por Cézar Feitoza e Ana Paula Branco
BRASÍLIA – O presidente Jair Bolsonaro (PL) pediu nesta quinta-feira (9) para empresários de supermercados reduzirem o lucro sobre a cesta básica com o objetivo de conter a alta dos preços sentida pela população.
O pedido foi feito durante evento da Abras (Associação Brasileira de Supermercados), do qual participou virtualmente.
“O apelo que eu faço para os senhores, para toda a cadeia produtiva, é para que os produtos da cesta básica obtenham o menor lucro possível, para a gente poder dar satisfação a parte considerável da população, em especial os mais humildes”.
Bolsonaro ainda disse que “em momentos difíceis, entendo que todos nós temos de colaborar”. “Sei que a margem de lucro tem cada vez diminuído mais. Vocês já têm colaborado nesse sentido, mas colaborem um pouco mais na margem de lucros dos produtos da cesta básica”.
O presidente destacou que os preços do óleo de soja, ovo, leite, açúcar e café são considerados por ele os atuais “vilões” da cesta básica. “Se for atendido, agradeço muito; se não for, é porque não é possível”, concluiu.
Apesar do apelo, as empresas pedem soluções para conter os preços. O presidente da associação de supermercados Abras, João Galassi, defendeu mais no mesmo evento que a nova tabela de preços da indústria para o varejo fique só para 2023.
“Considerando que não incide impostos federais sobre a cesta básica, como podemos oferecer os itens da cesta básica a menor custo? Não podemos ficar de braços cruzados aguardando uma solução”, disse.
“Após nossa primeira sessão temática, que será justamente a redução de custos através da reforma tributária, peço às autoridades e líderes que nos debrucemos para solucionar a urgência do momento. A sociedade precisa da cadeia nacional de abastecimento. Quero lançar um desafio: nova tabela só em 2023”, disse Galassi no Fórum da Cadeia Nacional de Abastecimento.
A escala dos preços é uma das principais preocupações de Bolsonaro na corrida eleitoral.
A inflação oficial do Brasil, medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), desacelerou para 0,47% em maio, informou nesta quinta o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Apesar da desaceleração, os preços do grupo alimentos e bebidas continuam aumentando. A alta foi de 0,48% em maio, depois de uma variação de 2,06% em abril.
De acordo com o IBGE, os preços de alguns alimentos, como a cenoura (aumento de 116,37% em 12 meses), subiram muito e têm a base de comparação muito alta. Já valores como o do leite continuam subindo devido ao período de entressafra, com pastagens mais secas, e à inflação de custos com a elevação dos preços de commodities como milho e soja, usadas na ração animal.
Por outro lado, houve quedas em tomate (-23,72%), batata-inglesa (-3,94%) e cenoura (-24,07%). O trio vinha de fortes altas em meses anteriores, devido a restrições de oferta geradas por temporais ou seca em regiões produtoras.
Bolsonaro chegou no início da tarde desta quinta-feira (9) aos Estados Unidos, onde se reunirá com o presidente americano Joe Biden e participará da Cúpula das Américas.
Isenção de impostos
A Abras (Associação Brasileira de Supermercados) afirmou na tarde desta quinta-feira (9) que propôs ao governo Bolsonaro a isenção de impostos dos produtos da cesta básica e a desoneração da folha de pagamentos.
A representante de mais de 50 varejistas do país diz que irá a repassar ao consumidor qualquer redução que houver na cadeia produtiva.
A manifestação veio em resposta ao pedido do presidente Jair Bolsonaro (PL) e do ministro da Economia, Paulo Guedes, para supermercados reduzirem o lucro sobre a cesta básica como forme de conter a alta dos preços.
O pedido é absurdo e incompatível para um chefe de estado, afirma o coordenador de IPC (Índice de Preços ao Consumidor) da FGV (Fundação Getúlio Vargas), André Braz.
“Todo supermercado vive pelas leis de mercado, da oferta e da procura. Ele é um revendedor, praticamente não fabrica nada. Se compra uma mercadoria mais cara, por culpa de outros fatores que não têm a ver com o lucro dele, ele também não pode vender mais barato do que ele compra”, diz Braz.
“O supermercado também é responsável pela geração de empregos e renda. E um negócio desses não funciona comprando caro e vendendo barato”, afirma o economista.
O economista Leandro Rosadas, dono de dez mercados em cinco estados, diz que a solução é ter algum tipo de incentivo às indústrias e ao agronegócio, para que na cadeia produtiva o produto chegue mais barato ao supermercado.
“Os supermercados hoje não estão repassando todos os aumentos que estão vindo da indústria. Só para ter uma noção, em alguns lugares do país o leite já está chegando a R$ 5,30. Como que o supermercado vai conseguir vender a quatro e pouco? É impossível. O supermercado vai vender a R$ 5,99 e, mesmo assim, com uma margem infinitamente baixa”, afirma Rosadas. “Inclusive os consumidores que conseguirem achar leite mais barato, estoquem, porque o item vai ficar mais caro”, diz o empresário.
Essa não é a primeira vez que o presidente, pressionado pela inflação, repassa a cobrança ao setor.
Em setembro de 2020, um dia após os supermercados alertarem sobre uma alta de 20% no preço dos alimentos que compõem a cesta básica e demandarem uma solução do governo, Bolsonaro pediu “patriotismo” aos varejistas para evitar o repasse ao consumidor.
O primeiro apelo não surtiu efeito. A inflação dos alimentos continuou a subir e, mesmo com o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) apresentando ligeira desaceleração em maio deste ano, os preços do grupo alimentos e bebidas seguem em alta.
Conforme divulgado pelo IBGE nesta quinta, entre os 377 produtos e serviços que compõem o índice, a maior alta mensal foi a da cebola (21,36%). Já a cenoura e o tomate tiveram queda intensa nos preços, após a disparada nos primeiros meses de 2022, o que elevou a base de comparação.