Por Felipe Campinas, da Redação
MANAUS – O presidente Jair Bolsonaro afirmou que o ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sérgio Moro tentou negociar a troca no comado da Polícia Federal com um cargo de ministro do STF (Supremo Tribunal Federal). Bolsonaro também disse que a PF de Moro se preocupou mais com o caso Marielle Franco do que com a tentativa de assassinato dele por Adélio Bispo nas eleições de 2018.
“O senhor Sérgio Moro disse para mim: ‘você pode trocar o (Maurício) Valeixo, sim, mas em novembro, depois que o senhor me indicar para o Supremo Tribunal Federal’. Me desculpem, mas não é por aí. Reconheço suas qualidades e que chegando lá, se um dia chegar, pode fazer um bom trabalho. Mas eu não troco”, afirmou Bolsonaro.
O pronunciamento do presidente ocorreu na tarde desta sexta-feira, 24, em resposta as declarações de Sérgio Moro. O ex-ministro entregou o cargo após a exoneração do diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo, ter sido publicada nesta madrugada no DOU (Diário Oficial da União).
Sobre as acusações de que queria interferir na Polícia Federal com a troca do comando da corporação, Bolsonaro disse que “não tem que pedir autorização para ninguém” para fazer as alterações. Ele disse que Moro se preocupou mais com caso Marielle Franco do que com Adélio Bispo, que o tentou matar com uma faca.
“Será que é interferência quase que exigir, implorar ao ministro Sérgio Moro que apure quem mandou matar Jair Bolsonaro? A PF de Sérgio Moro mais se preocupou com Marielle do que com seu chefe supremo. Cobrei muito deles. Não interferi”, disse Bolsonaro.
O presidente afirmou que, entre o Caso Marielle e o Caso Adélio Bispo, o segundo está “muito menos difícil de solucionar”. “Afinal de contas, o autor foi preso em flagrante delito, mais pessoas testemunharam, telefones foram apreendidos, três renomados advogados em menos de 24 horas estavam lá para defender o assassino. Isso é interferir na Polícia Federal?”, disse.
“Sinal verde”
Bolsonaro afirmou que quando convidou Moro para compor o governo prometeu “autonomia no seu ministério”, mas, segundo ele, “autonomia não é sinal de soberania”. Bolsonaro disse que “o dia em que eu tiver que me submeter a um subordinado, deixo de ser presidente da República”.
“A todos os ministros, e a ele também, falei do meu poder de veto. Os cargos chaves teriam que passar pelas minhas mãos e eu daria o sinal verde ou não. Para todos os ministros foi feito dessa maneira. Mais de 90% desses cargos que passaram pelas minhas mãos eu dei o sinal verde”, disse Bolsonaro.
O presidente disse que Marcelo Valeixo foi escolhido por Moro para o cargo de diretor-geral da Polícia Federal e que, apesar de a indicação para o tal cargo ser “exclusivamente do presidente da República”, abriu mão de sua prerrogativa porque confiava no ex-ministro Moro.
“Abri mão disso, porque confiava no senhor Sergio Moro. Ele levou a sua equipe aqui para Brasília. Todos os cargos-chave são de Curitiba, inclusive a Polícia Rodoviária Federal. Lógico, me surpreendeu. Será que os melhores quadros da PF todos estavam em Curitiba? Mas vamos confiar, vamos dar um crédito… E assim começamos a trabalhar”, disse Bolsonaro.
Bolsonaro disse que sempre abriu o coração para Moro e duvidou que o ex-ministro tenha feito o mesmo. O presidente afirmou que “uma coisa é você admirar uma pessoa, outra conviver com ela” e que nunca pediu a Sérgio Moro para que a Polícia Federal o blindasse “onde quer que fosse”.
“Moeda de troca”
Minutos após o pronunciamento do presidente, Moro negou a acusação de Bolsonaro. “A permanência do Diretor Geral da PF, Maurício Valeixo, nunca foi utilizada como moeda de troca para minha nomeação para o STF. Aliás, se fosse esse o meu objetivo, teria concordado ontem com a substituição do Diretor Geral da PF”, escreveu Moro em rede social.
Moro também disse que o ex-diretor da PF Maurício Valeixo “estava cansado de ser assediado desde agosto do ano passado pelo presidente para ser substituído” e “não houve qualquer pedido de demissão”. “Nem o decreto de exoneração passou por mim ou me foi informado”, disse o ex-ministro.