Da Redação
MANAUS – Ao anunciar a saída do governo Bolsonaro, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, afirmou que o presidente “queria uma pessoa (no comando da Polícia Federal) que ele pudesse ligar, que ele pudesse colher informações de inteligência” e que no governo petista a Polícia Federal tinha autonomia.
“Falei com o presidente que seria interferência política, e ele disse que seria mesmo. Presidente me disse mais de uma vez expressamente que queria ter uma pessoa do contato dele, que ele pudesse ligar, ter informações, colher relatórios de inteligência. Seja diretor, seja superintendente, não é papel da Polícia Federal prestar esse tipo de informação”, afirmou Moro.
“Imagina se durante a própria Lava-Jato, ministro ou diretor-geral, ou a presidente Dilma ou o ex presidente Luiz (Lula), ficassem ligando para o superintendente…. Autonomia da PF é valor fundamental. Grande problema não é quem entra, mas por que alguém entrar. Eu fico na dúvida se vai conseguir dizer não (a Bolsonaro) em relação a outros temas”, disse Sérgio Moro.
De acordo com o ex-juiz federal, Bolsonaro disse que tinha “preocupação com inquéritos em curso no Supremo Tribunal Federal” e que a troca seria oportuna nesse sentido. Para o ministro, “não é uma razão que justifique, pelo contrário até gera preocupação”, afirmou o ministro.
Moro também disse que sempre teve “receio constante de uma intervenção do Executivo na Polícia Federal, como troca de superintendente”, mas na gestão anterior do governo federal, na gestão petista de Lula e Dilma Rousseff, foi garantida a autonomia aos trabalhos da PF e que isso permitiu o avanço da Lava-Jato.
“Na Lava Jato, eu sempre tive um receio constante de uma intervenção do Executivo na Polícia Federal, como troca de superintendente. Mas isso não aconteceu e foi fundamental a manutenção da autonomia da PF para que os resultados fossem avançados”, afirmou Moro.
“É certo que o governo da época tinha inúmeros defeitos, aqueles crimes gigantescos de corrupção, mas foi fundamental a autonomia da PF para que fosse realizado esse trabalho. Seja de bom grado, seja pela pressão da sociedade”, disse o ex-juiz.
Moro disse que a Operação Lava Jato, que iniciou em 2014, no governo Dilma Rousseff, “mudou o patamar de combate à corrupção no país”. “Aquela grande corrupção, que em geral era impune, esse cenário foi modificado”, afirmou.
‘Carta branca’
Sérgio Moro disse que quando foi convidado para integrar o governo Bolsonaro foi prometido a ele ‘carta branca’ para nomear os assessores. Ele decidiu entregar o cargo nesta sexta-feira e deixar o governo após a exoneração do diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo, ter sido publicada nesta madrugada no Diário Oficial da União.
“Foi me prometido na ocasião carta branca para nomear todos os assessores, inclusive dos órgãos policiais, Polícia Rodoviária Federal e Polícia Federal”, afirmou.
O ex-juiz também negou que tivesse exigido um cargo no STF para assumir o ministério. Segundo ele, a única condição que pediu foi um auxílio para sua família caso “algo acontecesse”, pois havia aberto mão de seu benefício da Previdência ao deixar o Judiciário.
“Uma única condição eu coloquei, não ia revelar, mas agora não faz mais sentido escolher. Como eu estava abandonando 22 anos de magistratura, perdia a previdência. Pedi apenas que se algo me acontecesse, que a minha família não ficasse desamparada, sem uma atenção”, afirmou.