Por Gustavo Uribe, da Folhapress
BRASÍLIA-DF – Sob pressão dos Estados Unidos, o presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta terça-feira, 20, que o Brasil deve classificar a organização libanesa Hizbullah como terrorista.
Em entrevista a jornalistas, ele disse que o grupo tem informantes no país na região da Tríplice Fronteira e que, apesar de não serem organizados, são ‘unidos’. “Pretendo fazer isso aí. Eles são terroristas”, disse. “Temos informes que têm pessoas deles por aqui também, (na) Tríplice Fronteira, grupo do crime organizado no Brasil. Eles são unidos. Podem não ser muito organizados, mas são unidos”, ressaltou.
O presidente comparou a atuação da organização libanesa com o MST (Movimento dos Sem-Terra) e a chamou também de “terrorista”. “São grupos terroristas, como o MST, para mim, também é grupo terrorista. Os caras levam o terror no campo aqui”, disse.
Nas últimas semanas, autoridades brasileiras têm estudado como implementar a classificação, o que não é tão simples. A legislação brasileira não prevê que um grupo seja declarado terrorista sem que haja um reconhecimento anterior pelo Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas).
O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente, e o chanceler Ernesto Araújo trabalham para que o Hizbullah seja incluído na lista do governo brasileiro, na qual já estão grupos como a Al Qaeda e o Estado Islâmico.
A
iniciativa, no entanto, enfrenta forte resistência no Ministério da Defesa, na
Abin (Agência Brasileira de Inteligência) e na Polícia Federal.
Nas palavras de um militar, se ceder à pressão dos Estados Unidos nesse tema, o
Brasil criará inimigos que hoje não existem no país e sofrerá uma redução na
sua capacidade de conduzir sua política externa de forma independente de
Washington.
O Hizbullah (partido de Deus, em árabe) surgiu em 1985 como um movimento de resistência a Israel, que àquela época ocupava o sul do Líbano, e é ao mesmo tempo uma organização armada, um partido político e uma organização social.
O grupo, que segue o ramo xiita do islã, tem representantes no governo libanês, é um importante ator político da região e um aliado histórico do Irã e do regime de Bashar al-Assad na Síria.
Há inúmeros atentados atribuídos ao Hizbullah, incluindo o ataque na Argentina em 1994, razão pela qual EUA, Israel e Argentina, esta mais recentemente, descrevem a organização como terrorista. A classificação, porém, é polêmica.
A Alemanha considera a parte militar do Hizbullah como terrorista, mas não suas alas política e social, enquanto Rússia e China não consideram a organização como terrorista.