Por Teófilo Benarrós de Mesquita, do ATUAL
MANAUS – Os discursos do presidente Jair Bolsonaro com ataques a adversários e ao sistema eleitoral nas viagens ao exterior afastam investidores, afirma o sociólogo Luiz Antônio Nascimento, professor da Ufam (Universidade Federal do Amazonas). Segundo ele, o comportamento do chefe de Estado coloca “a democracia brasileira em segundo plano”.
Em meio à campanha pela reeleição, Bolsonaro viajou à Inglaterra e aos Estados Unidos. Ele esteve presente em solenidade do funeral da rainha Elizabeth 2ª e abriu a Assembleia Geral das Nações Unidas. Nos dois países, Bolsonaro praticou atos considerados eleitorais.
Em Londres, apoiadores de seu governo tumulturam o velório da rainha. O presidente afirmou, da sacada da embaixada brasileira, que “nosso Brasil será dessas cores aqui: verde e amarelo”.
Em Nova Iorque, o presidente foi alvo de protestos com projeções nos prédios da ONU (“vergonha brasileira”) e no edifício Empire State Building (“broxonaro”). No discurso de abertura da assembleia da ONU, voltou a atacar o ex-presidente Lula e disse que “o Brasil não poupou esforços para salvar vidas durante a pandemia”, “acabou com a corrupção no país” e criticou adoção de sanções econômicas internacionais contra a Rússia.
“A exposição negativa do Brasil é óbvia. O mundo todo sabe quem é Bolsonaro e o que ele representa na sociedade nacional e internacional. A cada viagem que ele faz para o exterior, ele expõe a imagem do Brasil e nos envergonha”, afirma Luiz Antônio Nascimento.
O professor alerta para os riscos institucionais e econômicos da conduta de Bolsonaro nas viagens a países parceiros. “Claro que esse comportamento do Bolsonaro na Inglaterra e em Nova Iorque não impede que as tratativas econômicas entre o Brasil e esses países sejam realizadas, mas nos deixam envergonhados. Deixa a diplomacia envergonhada, deixa a diplomacia brasileira colocada em segundo plano”, diz.
“Isso impacta e impacta muito, sobretudo do ponto de vista de contratos a serem realizados. O Brasil hoje, quando você olha para os números de forma retrospectiva, é um dos países com maior fuga de capital. Ninguém quer deixar dinheiro no Brasil, porque não se sente seguro e também porque a imagem desses investidores fica abalada quando é associada a um Brasil governado por Bolsonaro”, afirma.
De acordo com o IFF (Instituto Internacional de Finanças), que reúne os 500 maiores bancos do mundo, julho foi o quinto mês consecutivo com fuga de investidores do Brasil.
O professor da Ufam recorre a uma figura metafórica para analisar o comportamento de Bolsonaro em missões internacionais. “Imagina você ir pro casamento da tua filha e você se embriagar na festa. Não vai mudar o casamento; tua filha vai se casar, a festa vai ocorrer. Mas vai ser vergonhoso para a família teu comportamento na festa. É isso que o Bolsonaro faz”.
Em nova referência ao exemplo figurativo, Nascimento diz que “ninguém vai chamar de novo aquele parente alcoólatra para participar de outra festa. O mesmo vale para uma diplomacia brasileira que é chefiada por um troglodita como o Bolsonaro”.
Roteiro de viagens
Jair Bolsonaro fez 22 viagens internacionais como presidente do Brasil. A primeira vez foi em janeiro de 2019, à Suíça, para participar do Fórum Econômico Mundial, em Davos. Na mais recente, fez o discurso de abertura da 77ª Assembleia Geral da ONU, nos Estados Unidos, destino mais visitado, com sete viagens.
Em 2022, antes de estar na Inglaterra e nos Estados Unidos, Bolsonaro vistou Suriname, Rússia, Hungria, Guiana e Estados Unidos (em junho, para participar da 9ª Cúpula das América). Estão previstas mais duas viagens, em novembro: vai à Indonésia, participar de reunião da cúpula do G20 (vinte países mais ricos do mundo) e ao Qatar, para a abertura da Copa do Mundo de futebol.
A maioria dos países visitados têm pouca expressão mundial política e econômica. A visita à Inglaterra foi para velar a rainha. Nos Estados Unidos, para participar de eventos globais sem bilateralidade. Rússia e Hungria enfrentam isolamentos mundiais, a primeira em razão da guerra contra a Ucrânia, a segunda pelo regime de governo ultra-direitista.