Adrian Martin Pohlit é um americano nascido na Pensilvânia e formado na Califórnia, com passagem pelo Vale do Silício. Ele aqui chegou há quase três décadas e por aqui pretende ficar, pelo volume de desafios científicos que tem enfrentado e pela sintonia fina com nossa região. Adrian pode ser considerado mais “caboco” do que muito nativo que ainda não descobriu as maravilhas de sua terra. Com a multiplicação de iniciativas na área de Bioeconomia, uma de suas paixões, ele já incorporou as lições de sua rápida passagem pelo CBA (Centro de Biotecnologia da Amazônia) e tem-se movimentado, nos limites de sua influência, para aproximar pesquisa, desenvolvimento e mercado, ou seja, academia, economia e negócios. Confira!
Follow Up – Nos próximos dia 6 e 7, Manaus vai abrigar mais uma Conferência Internacional sobre Processos Inovativos da Amazônia, para fomentar gestão e oportunidades de bionegócios de nosso banco de germoplasma. Qual a leitura que vc faz dessa e de tantas movimentações em direção à nossa biodiversidade?
Adrian Martin Pohlit – Na semana passada, a reitoria da UEA promoveu o Seminário Brasil-Alemanha de Bioeconomia Plantas Medicinais, ‘Conectando Florestas, Ciência e Negócios’, um evento em que o prof. Cleinaldo (Costa, reitor da UEA) mostrou que está antenado e motivado a integrar este esforço coletivo de promover a bioeconomia no Amazonas. No evento deu para sentir o forte ‘encontrão’ entre culturas científicas e tecnológicas distintas da Alemanha e da Amazônia, culturas que se vão se misturar, provavelmente, como água e óleo se não encontrar um surfactante adequado para criar uma mistura homogênea nanoformulada lucrativa. Surfactante é um agente tensoativo, substância que reduz a tensão superficial do líquido presente nos alvéolos. Esses eventos são significativas e necessários para avançarmos nos desafios de uma nova matriz econômica. Alguns sugerem que seria mais fácil levar as plantas do Amazonas para desenvolvê-las em um local onde se possa plantar sem desmatar. Faltou chamar o pessoal da tão temida área de silvicultura (forestry), Manejo Florestal Sustentável, para mostrar como se pode plantar árvores e ganhar muito dinheiro com a madeira e outros produtos.
FUp – Em sua recente passagem pela gestão do Centro de Biotecnologia da Amazônia o senhor experimentou as dificuldades da burocracia brasileira para flexibilizar os processos de economia florestal. Quais as lições mais importantes que você aprendeu?
AMP – A primeira lição é que, por mais difícil que seja esse diálogo de cientistas, engenheiros e outros profissionais técnicos com as empresas e empresários, dentro das instituições públicas, precisamos ter estruturas técnico-cientificas que identificam e resolvem problemas técnicos das empresas relacionadas a produção e valoração da biodiversidade. Isso é algo urgente para implantar. A segunda lição diz respeito à Inovação incremental (em vez de mirabolante, revolucionária) pois é mais fácil para conseguir resultados na falta de recursos e para gerar competências dentro da academia e na empresas. Acredito que estamos avançando na criação de um novo ambiente de negócios. Temos que multiplicar esses Núcleos de Inovação Tecnológica. Esses NITs seriam os locais onde as instituições de ensino e pesquisa concentrariam seus esforços para promover inovação tecnológica e disponibilizar a tecnologia para a Sociedade. Também, o NIT funcionária como um balcão para promover interações formais com o setor privado. Os NITs no caso de algumas instituições estão ligados a incubadoras de empresas, por exemplo.
FUp – Você é um dos químicos mais destacados do Brasil tanto pela prospecção de conhecimento na Amazônia, descoberta de anti-maláricos, por exemplo. Destaque, também, na insistência de maior aproximação entre academia e mercado. Como você imagina uma estrutura inteligente e eficiente na gestão de novos negócios de Bioeconomia?
AMP – Em primeiro lugar, entendo que precisamos ajustar realmente o comportamento das academias regionais, se quisermos um polo de bioindústria aqui. Precisamos incentivar teses de mestrado, especialização e doutorado que estejam focadas em questões que as empresas precisam resolver. Ou seja, precisamos manter atualizado o cardápio de necessidades das empresas e as pessoas precisam usar a criatividade para gerar publicações de bom nível, com análises rigorosas de questões técnicas. Sem descuidar que somos academia, e temos que manter excelência acadêmica. Por outro lado, o foco dos trabalhos poderia ser a questão que estão impedindo a qualidade dos produtos, as oportunidades e alternativas presentes nas castanheiras, por exemplo, a maneira como as pessoas fazem determinadas escolhas e resultados. Isso tudo poderia ser realmente focado em projetos e estudos acadêmicos para atender as necessidades das empresas, e as empresas deveriam financiar este tipo de estudo dos que tem competência nessa área. Temos um exemplo bem recente, seria bom lembrar da empresa Transire, que é mais conhecida como produção de máquinas que fazem débito e crédito. A empresa inaugurou recentemente em Manaus o Instituto Transire de Tecnologia, para pesquisas em tecnologia e biotecnologia. A empresa investiu R$ 22 milhões para abrir o instituto. E até o final do ano aplicará outros R$ 40 milhões, especialmente na montagem de laboratórios. O dinheiro vem de isenção fiscal, dentro do limite de até 5% da receita bruta da empresa. Eles resolveram investir aqui na região em produtos naturais. Contrataram três doutores recém formados, para abraçar a causa da biodiversidade. Precisamos de mais empreendedores desta envergadura. Precisamos entender que tipo de mercado se pretende atingir e seguir as lideranças, seguir bons exemplos de pessoas que estão fazendo o que nós precisamos, investindo, construindo laboratórios e procurando inteligentemente fazer dinheiro com a biodiversidade.
FUp – O empresário Sérgio Vergueiro plantou mais de 3 milhões de mudas Castanha do Brasil, , Copaíba, Cumaru, Pupunha entre outras espécies de alto valor comercial no município de Itacoatiara. Plantou e está aberto a parcerias de inovação. Que negócios sustentáveis e rentáveis um país empreendedor iria promover nesta amontoado de oportunidades?
AMP – Estive diversas vezes com o empresário Sergio Vergueiro e conheço bem o trabalho que é desenvolvido em Itacoatiara na Fazenda Aruanã. Na verdade, conheço uma boa parte, pois é extensa a área cultivado e essa atividade que sempre achei muito louvável. Inclusive coloquei essa opinião publicamente para as autoridades federais. É um pouco frustrante para mim, porque o foco do Sérgio sempre foi no plantio. Faltou estrutura ou presença das instituições acadêmicas para envolver pessoas interessados em explorar o rico material que não é aproveitado. São muitos insumos além dos frutos da castanheira, a pupunha, o palmito. Interessante seria encostar pessoas que fizessem estudo dos resíduos. Existem recursos para pagar esses estudos para que realmente sejam conhecidos. Que sejam produzidos relatórios sobre o que poderia está extraindo desse material que, a princípio, vai deteriorar. O que fazer com a árvore depois que você tira os palmitos, ou com a madeira da castanheira que tem cascas, folhas, muito produto químico. Estou colaborando no que posso fazer, mas é algo que precisa ser estimulado pelo lado da empresa, das empresas. A academia pode focar nessas questões, mas em algum momento a empresa tem que ter condições de fazer mais do que simplesmente plantar, é preciso inovar, sair um pouco da área de certeza e arriscar junto com os jovens empresários. É o caso de envolver empresas pequenas para explorar resíduos, e ver se é possível fazer dinheiro. Claro que é. Uma parte dessa economia é especulativa, não pode ser apenas concreta, na venda de açaí por exemplo, pode ficar no concreto, mas isso é questão de agricultura. Mais a economia de que se está falando é de bioeconomia. Temos que prospectar, de tomar alguns riscos com coisas que tem mercado, mesmo sem demanda imediata. E então temos que criar essa demanda e usar a capacidade, competência em gerar moléculas de boa qualidade, e mostrar que essas moléculas são ricas e servem para várias coisas, além de serem consumidas pelos seres humanos milênios como parte da tradição local. A Bioeconomia, enfim, avança no Amazonas, ainda bem!