Desembarquei em Brasília no domingo para uma semana de estudos e atualização profissional. Na chegada ao aeroporto, percebi que a temperatura na capital estava acima do comum, bem diferente das outras vezes que aqui estive. Minha impressão seria confirmada no dia seguinte. Brasília teve o dia mais quente do ano, com a temperatura chegando a trinta e seis graus e umidade do ar abaixo de 15%.
Ainda na segunda, bem longe daqui, recebi noticias de que Manaus teve mais um dia cinza e de temperatura alta, com a fumaça das queimadas denunciando nossa insensatez com o meio ambiente e o descaso do poder público com as políticas de combate ao desmatamento irresponsável e criminoso. A natureza também cobra seu preço…
Não parece insano que diante do quadro atual, em que as nuvens de fumaça escancaram nossos equívocos com a natureza, grupos de interesse, sem nenhuma representação social, política ou ambiental queira se manifestar sobre a BR-319? É fato que o povo amazonense tem o direito a uma ligação permanente com o resto do país. Mas precisamos de um amplo debate, sério e equilibrado, não de bravatas ou arroubos oportunistas e eleitoreiros. Esse debate em torno da BR-319 está sendo feito nos fóruns adequados, com argumentos e teses diversas. Isso é levar o desenvolvimento regional e nosso patrimônio ambiental a sério.
Ainda sobre desenvolvimento sustentável na Amazônia, a renomada revista National Geografic publica esse mês o novo mapa da região, fruto de quase cinquenta anos de pesquisa científica séria e confiável.
Dentre as conclusões ali expostas, destacam-se os elogios ao planejamento e execução das obras de instalação das torres do linhão de Tucuruí – acima das copas das árvores – e as obras de instalação dos gasodutos, que foram enterrados e permitem o reflorestamento perene da vegetação. Ambas as obras são resultado de um novo olhar sobre a região amazônica, no qual é possível aliar desenvolvimento e bem estar com preservação ambiental. Mas o estudo também aponta desafios à preservação da região. O aumento das áreas desmatadas, principalmente associadas ao plantio de soja e criação de gado, além dos riscos que acompanham a abertura de rodovias sem o devido planejamento e sem regras claras e efetivas para preservar o entorno. Para exemplificar, o artigo cita o plano de ocupação ao longo da BR-364, em Rondônia, bem planejado mas pessimamente executado, que resultou em enormes prejuízos ao meio ambiente naquele estado.
Por fim, fica a certeza de que a Amazônia é nosso maior tesouro. Pesquisas e muito esforço científico tem sido feito ao longo dos anos para decifrar os caminhos para usar essa riqueza a nosso favor de maneira sustentável e equilibrada. É preciso respeitar as conclusões desses estudos, eles são nosso mapa. Chega de ignorância, cinismo e interesses de ocasião.