O apoio do prefeito Arthur Virgílio Neto (PSDB) terá peso importantíssimo na eleição para o governo do Estado no ano que vem. Com a maioria dos eleitores do Estado concentrada em Manaus, se a atual popularidade de Arthur não for abalada até outubro do ano que vem, ele será o melhor cabo eleitoral para a disputa na capital.
Arthur sabe disso e os pretensos candidatos a governador também. Isso explica, em parte, a atitude do prefeito com o seu vice Hissa Abrahão (PPS). Para tirar Hissa da jogada, Arthur sacrificou aliados históricos, como Pauderney Avelino (DEM), que deveria deixar o cargo só em março de 2014, mas teve que sair neste mês para justificar a demissão de Hissa da Secretaria Municipal de Infraestrutura.
Arthur é arrogante e costuma tomar decisões apressadas, sem ouvir os companheiros. Suas estratégias, às vezes, mostram-se desastrosas, como em 2010, quando ele decidiu salvar a reeleição do filho Arthur Bisneto (evitando alianças) e acabou derrotado por Vanessa Grazziotin (PCdoB) na disputa pelo Senado. A arrogância foi exalada numa frase no episódio da demissão de Hissa: “Se alguém tivesse que ser candidato ao governo, seria eu, que tenho mais experiência”, soltou, ao afirmar que não apoiará o vice em eventual candidatura a governador.
Um velho político acostumado com o processo eleitoral fez a seguinte avaliação na semana passada: “As disputas no Amazonas se organizam em torno de estruturas de poder. Por isso, para vencer uma eleição no Estado precisa-se, primeiro, dessa estrutura.” Até o momento, há duas estruturas montadas para a eleição de governador: a de Eduardo Braga (PMDB), o líder do governo que, certamente, terá o apoio da presidente Dilma Rousseff e do Planalto; e a de José Melo (PROS), que até aqui tem a promessa de apoio do governador Omar Aziz e terá, se Omar deixar o governo para disputar o Senado, a chave do cofre do Estado em pleno ano eleitoral.
Restaria para uma disputa equilibrada, um terceiro grupo, esfacelado nos últimos dias com a querela que se instalou na Prefeitura de Manaus entre Arthur e Hissa. Como o município de Manaus tem poder de fogo, o prefeito poderia pilotar a terceira estrutura de poder, com Hissa, com Serafim ou com outro nome, mesmo que as chances de vitória fossem pequenas.
Os fatos recentes mostram, apesar de Arthur negar, que o prefeito de Manaus está gostando do jogo de sedução dos dois grupos estruturados para 2014 e rechaça a ideia de apoiar alguém que não esteja sob a proteção do governador Omar Aziz ou da presidente Dilma Rousseff (representada por Eduardo Braga).
Em público, Arthur tenta convencer o seu eleitorado que as conversas com Eduardo Braga (mantidas recentemente) ficaram restritas à liberação de verbas para o município. Eduardo Braga, que foi chamado de ladrão por Arthur em uma série de artigos de jornais escritos pelo então senador do PSDB, foi obrigado a perdoá-lo, afinal, nenhum político terá peso tão importante nas eleições em Manaus. Braga sabe que o interior do Estrado estará divido se Melo for candidato com máquina administrativa nãos mãos.
Mas Arthur está mais próximo de Omar Aziz e de Melo do que de Braga. E ninguém mais do que o prefeito de Manaus se deleita com esse jogo. O prefeito já percebeu que a Prefeitura de Manaus de agora é bem diferente da que administrou nos inícios dos anos de 1990. Manaus tem dinheiro e visibilidade nacional, o que faz com que qualquer administrador queira permanecer no cargo. E Arthur já faz costuras para a reeleição, em 2016.
Por isso, tratou de tirar uma pedra do sapato, afastando Hissa, para atender aos interesses de seus apoiadores do momento. O fato narrado pelo vice-prefeito dando conta de que Arthur ficou vermelho e disse: “Você precisa desistir da sua candidatura!” é revelador de que, se não há compromisso fechado, alguém está aguardando a resposta do prefeito. E pelo jeito, a noiva está prometida a mais de um pretendente.
Valmir Lima é jornalista, graduado pela Ufam (Universidade Federal do Amazonas); mestre em Sociedade e Cultura na Amazônia (Ufam), com pesquisa sobre rádios comunitárias no Amazonas. Atuou como professor em cursos de Jornalismo na Ufam e em instituições de ensino superior em Manaus. Trabalhou como repórter nos jornais A Crítica e Diário do Amazonas e como editor de opinião e política no Diário do Amazonas. Fundador do site AMAZONAS ATUAL.
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