Por Felipe Campinas, da Redação
MANAUS – O arcebispo de Manaus, dom Leonardo Steiner, chamou de “absurda” a declaração do presidente Jair Bolsonaro de que o governo federal não tinha competência para mandar oxigênio para a capital amazonense durante crise registrada no início deste ano. As críticas foram feitas em entrevista ao site Tumaméia na segunda-feira, 1.
“O presidente chega a dizer que não é tarefa do governo federal enviar oxigênio para Manaus. Pode uma coisa dessas? É um absurdo. Se percebe que se perdeu o limite da ignorância, se perdeu o limite das ações que vão contra a população. Foram eleitos para cuidar do povo, mas não é isso que está acontecendo”, afirmou Steiner.
O arcebispo comentou sobre o agravamento da situação em Manaus e citou que dois padres morreram por complicações causadas pelo novo coronavírus na segunda onda de casos no estado. O padre Valter Freitas de Oliveira faleceu no dia 11 de janeiro e o padre Celestino Cerretta, no dia 18 do mesmo mês.
“Na Arquidiocese de Manaus, vieram à óbito nessa segunda onda alguns sacerdotes. Mas, também lideranças nossas das comunidades, ministros da Eucaristia e da Palavra também vieram à óbito. É difícil você encontrar uma família que não tenha sofrido com o falecimento de algum ente querido”, disse Steiner.
Steiner afirmou que o sistema de saúde do Amazonas está em colapso e que falta oxigênio e leitos para pacientes com Covid-19. “Usando uma expressão um pouco forte, nós estamos exportando doentes para outros estados. É até comovente perceber como nos outros estados os nossos irmãos e irmãs estão sendo muito bem recebidos”, disse Steiner.
Ao relatar a crise de oxigênio no Amazonas e criticar a declaração do presidente sobre a não competência do governo federal para fornecer O2 para Manaus, o arcebispo lembrou que Bolsonaro indicou o “kit preventivo” contra Covid-19, cuja eficácia não havia sido comprovada cientificamente.
“Como pode alguém que tem uma responsabilidade diante da nação, em vez de se interessar pelas questões de fundo e pelas questões mais prementes – que era o oxigênio, ficou indicando um kit que, realmente, não funciona. Está comprovado que não funciona. É uma questão ética, grave, no meu modo de ver”, disse Steiner.
Crise
De acordo com o arcebispo, trabalhadores da área da saúde relatam um “quadro de imensa gravidade” nos hospitais públicos de Manaus. “Existe filas de pessoas para serem internadas. Há filas de pessoas para serem colocadas em UTI, como também há filas de pessoas para serem levadas para outros estados”, afirmou.
“Os médicos estão exauridos. O esforço psicológico é muito grande de ter que todo dia enfrentar pessoas que estão quase indo a óbito, mas entubar pessoas, deixar pessoas na fila. Imagina pessoas que são dedicadas ao cuidado da vida verem que continuamente está por um fio porque não tem como ajudar”, completou Steiner.
O arcebispo citou o estigma gerado pela nova variante do coronavírus identificada em Manaus. “A situação é grave. Infelizmente, nós até já fornecemos o nome a nova cepa. Estão chamando de vírus manauara. É quase uma injustiça, mas nós estamos estigmatizados por isso”, disse.