Da Redação
MANAUS – O arcebispo de Manaus, dom Leonardo Steiner, disse que questiona os reais objetivos de grupos religiosos que se organizam para chegar ao poder, em debate promovido pelo Comitê do Amazonas de Combate a Corrupção, na última quinta-feira, 8. O arcebispo também disse que “é de se questionar” nomes que são escolhidos para compor órgãos responsáveis por fiscalizar o dinheiro público.
Steiner disse a “corrupção e injustiça social” sempre estão relacionadas aos grupos de interesses. “São grupos econômicos que se tornam grupos políticos, grupos de pressão, que sempre procuram tirar proveito, e isso fazem não de maneira justa e equânime, mas de maneira corrupta, subornando. É um modo quase de conviver, que é o tal do jeitinho brasileiro”, disse o arcebispo.
Steiner citou que o abuso de poder religioso, que é o uso da fé para obtenção de votos, tem sido frequente na política brasileira. Em agosto deste ano, o arcebispo defendeu uma proposta do ministro do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) Edson Fachin de responsabilizar candidatos pelo uso irregular da religião, mas a tese foi derrotada por 6 votos a 1 em julgamento realizado no mesmo mês.
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Para o arcebispo, os reais objetivos desses grupos religiosos devem ser questionados porque nem sempre são transparentes. “Chegar ao poder é para servir ou para fazer o quê? (…) Nós vamos percebendo cada vez mais o abuso do poder religioso e, por detrás disso, tem interesses que nós começamos a perceber que nem sempre são límpidos, são transparentes”, afirmou Steiner.
O líder da igreja católica em Manaus disse que a corrupção também alcança grupos de outros segmentos, como o Meio Ambiente. “São grupos hoje que se organizam economicamente para eleger seus representantes para poder aproveitar das questões do meio ambiente. Isso é o quê? É corrupção. (…) Não existe preocupação com a sociedade, com o Brasil, mas com determinado grupo”, disse Steiner.
O arcebispo citou os partidos políticos como exemplo de grupos de interesse. “Por que tantos partidos políticos? Por trás não é uma concepção de desejo de construção de sociedade, mas um desejo de apropriação da economia. Então, existe, sim, uma relação que nós precisamos despir, trazer à luz, para que a sociedade se dê conta que sem superar a corrupção nós não teremos uma sociedade mais equânime”, afirmou.
Fiscalização
Ao ser questionado sobre a atuação de órgãos de controle, como os tribunais de contas, como instrumentos de combate a corrupção, Steiner afirmou que, às vezes, ele questiona a idoneidade de quem é escolhido para fiscalizar a aplicação de dinheiro público.
“Quanto aos órgãos responsáveis pela fiscalização, é de se questionar, às vezes, quem é nomeado, quem fiscaliza, se eles seguem mesmo aquilo que a lei pede, prevê. Às vezes, eu me questiono um pouco quanto a idoneidade, nesse sentido. Porque são órgãos importantíssimos na fiscalização e também no combate a corrupção”, afirmou Steiner.
O arcebispo de Manaus fez críticas a Operação Lava Jato, do MPF (Ministério Público Federal), que, segundo ele, não contribuiu com o combate a corrupção.
“Infelizmente, a nossa política foi quase desmontada pelos próprios meios de comunicação quando se quis combater a corrupção através da Lava Jato. Eu acho que a Lava Jato não contribuiu muito, não, nesse sentido. Nós desmontamos empresas e estamos vendo agora que as próprias pessoas envolvidas estavam também envolvidas na corrupção”, afirmou Steiner.
Para o arcebispo, a sociedade precisa de um trabalho mais educativo para combater a “cultura da corrupção” e para discutir sobre a ética. “Se é algo cultural, nós só superaremos através da educação, educando, despertando para a ética, para a justiça social, respeitando a necessidade de todos terem oportunidade e vez na educação, na saúde, na própria participação política”, disse.
Steiner lembrou de grupos de advogados, jornalistas e juízes que, segundo ele, ajudam a educar a sociedade levantando debates sobre a importância da democracia. “Me anima muito, atualmente, esse movimentos que nós temos na nossa sociedade. (…) Preservar a democracia tem a ver em superar a questão da corrupção, que desmonta a democracia”, disse.