Da Folhapress
BRASÍLIA – Após identificar ameaças a representante da Igreja Católica em Brasília, o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), fechou a Esplanada dos Ministérios por dois dias -desta terça-feira, 16, até o fim da quarta-feira, 17.
Os setores de inteligência da Polícia Civil identificaram ameaças ao bispo-auxiliar de Brasília, dom Marcony Vinícius Ferreira, por parte de integrantes do grupo armado de extrema-direita 300 do Brasil. A informação foi confirmada pela assessoria do Governo do DF.
O grupo é formado por apoiadores de Jair Bolsonaro e tem como uma das lideranças a ativista Sara Winter, que foi presa na segunda-feira, 15, em investigação que tramita no STF (Supremo Tribunal Federal) sobre protestos antidemocráticos.
O bispo-auxiliar atua no edifício da Cúria Metropolitana, localizado ao lado da Catedral de Brasília, um dos cartões postais da cidade e da Esplanada. O prédio abriga setores administrativos, pastorais, judiciais e de comunicação da Arquidiocese da capital federal.
O decreto de Ibaneis justifica o fechamento da Esplanada afirmando que foram verificadas “aglomerações” nos últimos dias, “perigo de contágio” pelo novo coronavírus e ameaças de alguns manifestantes “aos Poderes constituídos e à Cúria Metropolitana de Brasília”.
Ibaneis diz ainda que é necessário coibir “manifestações de conteúdos anticonstitucionais e outras medidas para contenção de riscos, danos e agravos à saúde pública”.
A medida proíbe o trânsito de veículos e pedestres desde a Rodoviária do Plano Piloto até a Praça dos Três Poderes. Somente autoridades devidamente identificadas poderão passar pelo local.
O entorno da área da Catedral Metropolitana também teve a segurança reforçada por forças de Segurança Pública do DF.
Não é a primeira vez que a Esplanada é fechada nesta semana por conta de atos de manifestantes. No domingo, a área foi interditada. Na véspera, um grupo de manifestantes disparou fogos de artifício em direção ao prédio do STF.
Na segunda-feira, por determinação do ministro do STF Alexandre de Moraes, a ativista Sara Winter foi presa temporariamente num desdobramento das investigações sobre a realização de atos antidemocráticos.
O pedido contra a bolsonarista foi feito pelo vice-procurador-geral da República, Humberto Jacques de Medeiros, na sexta-feira, 12.
“Os pedidos de prisão foram apresentados a partir de indícios obtidos pelo Ministério Público Federal de que o grupo continua organizando e captando recursos financeiros para ações que se enquadram na Lei de Segurança Nacional, objeto do inquérito. O objetivo das prisões temporárias é ouvir os investigados e reunir informações de como funciona o esquema criminoso”, afirma nota divulgada pela PGR.
Depois de ter sido alvo de busca e apreensão no fim de maio no inquérito das fake news, a ativista publicou um vídeo afirmando ter vontade de “trocar socos” com Moraes e prometendo infernizar a vida do ministro e persegui-lo.
Em seguida, no dia 31 de maio, Winter liderou um protesto em frente ao STF acompanhada de manifestantes usando máscaras e carregando tochas.
No sábado, o acampamento do movimento foi desmontado pelo Governo do Distrito Federal. À tarde, liderados pela ativista, um grupo de 20 pessoas rompeu a área cercada no entorno do Congresso e invadiu a laje do prédio.
Em entrevista à Folha de S.Paulo, no dia 12 de maio, Sara Winter reconheceu que alguns membros do movimento estavam armados, embora tenha dito que as armas eram apenas para defesa do grupo e não para atividades de militância.
No domingo, a PGR instaurou uma investigação preliminar sobre o ato da noite de sábado em que manifestantes atiraram fogos de artifício em direção ao STF simulando um bombardeio.
A PF cumpre nesta terça, 16, 21 mandados de busca e apreensão solicitados pela PGR no inquérito sobre atos antidemocráticos. As medidas, que atingem aliados de Jair Bolsonaro, têm o objetivo de instruir o inquérito que investiga a origem de recursos e a estrutura de financiamento de grupos suspeitos da prática das ações.
Entre os alvos estão um advogado e um marqueteiro ligados à Aliança pelo Brasil, partido que Bolsonaro tenta criar desde sua saída do PSL, no final do ano passado.
Uma linha de apuração neste inquérito, segundo a PGR, busca esclarecer se os investigados se articularam com parlamentares e outras autoridades com prerrogativa de foro no STF “para financiar e promover atos que se enquadram em práticas tipificadas como crime pela Lei de Segurança Nacional (7.170/1983)”.