Por Felipe Campinas, da Redação
MANAUS – Após resultado de perícia médica, o juiz Anésio Rocha Pinheiro, da 2ª Vara do Tribunal do Júri da Capital, decidiu que o analista judiciário Rafael Fernandez Rodrigues, acusado de assassinar a Miss Manicoré Kimberly Karen Mota, 22, em maio deste ano, pode responder pelos atos praticados e, caso seja condenado, cumprirá pena e não medida de segurança.
A defesa de Rafael Fernandez pediu a instauração de Incidente de Insanidade Mental, procedimento feito quando há dúvida quanto à integridade mental do réu, alegando que ele apresentava transtornos mentais. O laudo da perícia apontou que Fernandez é, mentalmente, são e pode ser responsabilizado pelo assassinato de Kimberly e o juiz determinou o prosseguimento do processo.
“Conforme determina a Lei, encerrado o incidente e constatada a imputabilidade do acusado ao tempo da infração, consoante Laudo médico-pericial de fls. 58/63, o regular prosseguimento do processo, sem participação de curador, é medida que se impõe”, diz trecho da decisão de Pinheiro, datada do dia 9 de setembro.
Com a decisão, Rafael Fernandez, que está preso desde o dia 15 de maio deste ano, será julgado pelo Tribunal do Júri composto por sete jurados. O julgamento pelo Júri Popular ainda não tem previsão para ser realizado. O próximo passo será a realização de audiências para a instrução do processo, que serão pautadas pela 2ª Vara do Tribunal do Júri.
Nessas audiências serão ouvidas as testemunhas de acusação, de defesa e o acusado. Concluída esta etapa do processo, serão feitas as alegações finais que serão analisadas pelo juiz, que irá proferir a Sentença de Pronúncia, na qual decide se o réu vai ou não a júri popular. Se for pronunciado, o processo será pautado para julgamento em plenário.
Ciúmes
Kimberly Mota foi encontrada morta a golpes de faca no apartamento de Rafael, na Avenida Joaquim Nabuco, Centro de Manaus, na madrugada do dia 12 de maio. Fernandez, que era servidor do TRT11 (Tribunal Regional do Trabalho da 11ª Região Amazonas e Roraima), foi considerado o principal suspeito da morte da namorada e ficou foragido por três dias.
Após ser preso na cidade de Pacaraima, no dia 15 de maio, o analista judiciário confessou que assassinou Kimberly porque encontrou mensagens no celular dela que “o aborreceram”, segundo o delegado Paulo Martins, da DEHS (Delegacia Especializada em Homicídios e Sequestros), em entrevista a jornalistas no dia 17 de maio.
De acordo com a Polícia Civil, Rafael contou que na noite do assassinato, por volta de meia-noite, Kimberly foi ao banheiro e deixou o celular na cabeceira da cama. Ele conseguiu acessar o aparelho celular e viu algumas mensagens no telefone dela que o aborreceram. Em seguida, ele foi até a cozinha e pegou uma faca para cometer o crime.
“Ele foi na cozinha, escondeu a faca atrás, deitou do lado dela na cama, e numa distração dela ele deu a primeira facada nela. Foi essa a versão que ele deu para nós. Ela não esboçou reação, até porque a primeira facada, segundo ele, foi muito violenta, então ela já ficou quase que desfalecida”, disse Paulo Martins.
Ainda de acordo com o delegado, após perceber que Kimberly já estava morta Rafael tentou tirar o corpo de dentro do apartamento para o esconder, mas não conseguiu. “Ele levou ela para dentro do banheiro, lavou ela na tentativa de vesti-la. (…) Como ele estava muito nervoso ele deixou ela dentro do apartamento e fugiu”, afirmou Martins.
O delegado disse que Rafael confessou que após matar Kimberly ficou “atordoado” e “não sabia para onde ir”. Ele ligou para o pai, Nilton Rodriguez, para falar sobre o assassinato e foi aconselhado a se entregar à polícia, mas preferiu fugir. “O pai dele orientou ele a se entregar e ele não obedeceu ao pai. Ele resolveu fugir”, afirmou Martins.
Na fuga, Rafael, que tinha objetivo de chegar a Venezuela, errou o caminho e seguiu pela rodovia AM-010, que liga Manaus a Itacoatiara. “Ele errou o caminho de tão atordoado que ele estava e retornou. No retorno, ele jogou o telefone da vítima fora em uma área de mata e entrou na rodovia BR-174 e foi no sentido de Boa Vista, tentar chegar até a Venezuela”, disse.
O delegado Martins disse que Rafael foi identificado na barreira sanitária, na rodovia BR-174, e seguiu viagem. Antes de chegar no município de Caracaraí, em Roraima, ele capotou o veículo e sobreviveu com lesões leves. Ele foi socorrido por um motorista de caminhão e pegou carona até Boa Vista. Da capital roraimense, ele pegou um táxi para chegar a Pacaraima.
Após a tentativa frustrada de entrar no país venezuelano e receber abrigo de moradores da fronteira, Rafael tentou novamente ultrapassar uma barreira sanitária na Venezuela, mas foi barrado e ameaçado. “Ele disse que quase matam ele. Ele teve que pagar R$ 1 mil para poder voltar para Pacaraima. Caso contrário, os venezuelanos iriam matá-lo”, disse.