Por Felipe Campinas, da Redação
MANAUS – Após bate-boca entre entre senadores e advogados, o presidente da CPI da Covid, Omar Aziz (PSD-AM), suspendeu a sessão desta quarta-feira (29) que ouve o empresário Luciano Hang, que é suspeito de integrar um “gabinete paralelo” que supostamente aconselhava o presidente Jair Bolsonaro sobre assuntos relacionados à pandemia.
Em reunião marcada por fortes embates entre os parlamentares, Rogério Carvalho (PT-SE) pediu a retirada de Beno Brandão, um dos advogados do empresário, por se sentir ofendido com gestos direcionados a ele. Aziz determinou a saída do advogado, o que gerou tumulto entre parlamentares. Em seguida, o presidente da CPI suspendeu a sessão temporariamente.
Luciano presta depoimento como investigado na comissão. Ele é suspeito de integrar chamado “gabinete paralelo”, grupo de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro suspeito de aconselhar o mandatário em relação à pandemia de Covid-19, promovendo ideias sem comprovação científica, como o “tratamento precoce” com hidroxicloroquina e ivermectina.
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Hang compareceu à comissão carregando placas com dizeres de “não me deixam falar” e “liberdade de expressão”, que posteriormente foram entregues a seguranças do Senado por determinação de Aziz. Ele estava acompanhado de senadores governistas, incluindo Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ), que saiu em defesa de Hang em diversos momentos.
A reunião iniciou com a defesa de Hang informando que ele não firmaria o compromisso de dizer a verdade porque estava depondo como investigado. O vice-presidente da comissão, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), concordou com a alegação, mas a medida foi criticada por Eliziane Gama (Cidadania-MA): “Ele pode mentir tranquilamente”.
O empresário disse que a morte da mãe dele foi usada politicamente de forma “vil, baixa e desrespeitosa” contra ele. “Imaginem o quanto é duro para mim. Não aceito qualquer desrespeito à memória de minha mãe. Tenho a consciência tranquila de que, como filho, sempre fiz o melhor por ela”, afirmou Luciano.
Hang tentou exibir um vídeo de uma propaganda de sua loja e citou dados da empresa, mas os senadores reclamaram de “propaganda gratuita”. Fabiano Contarato (Rede-ES) pediu a retirada do vídeo, mas o presidente da CPI disse que autorizou a exibição para evitar discussão sobre questões irrelevantes no início do depoimento.
A decisão de Aziz foi criticada por senadores de oposição e, antes de suspender a reunião, o presidente da CPI disse que não era culpado pelo clima tenso. “Eu tentei iniciar (a reunião) e fui criticado por colegas que estão aqui. Eu deixei passar aquele vídeo para não criar esse clima. Qualquer fato que fosse negado ao cidadão aqui iria gerar isso”, disse Aziz.
Depoimento
O empresário negou que seja negacionista sobre assuntos relacionados à pandemia de Covid-19 e disse que a empresa dele promoveu ações pró-saúde, citando os 200 cilindros de oxigênio doados a Manaus em janeiro deste ano, quando o Amazonas registrou a crise de oxigênio. Hang disse ainda que disponibilizou estacionamentos de suas lojas para vacinação.
Ao introduzir as perguntas, o relator voltou a chamar Hang de “bobo da corte”, como fez mais cedo em entrevista a jornalistas, ao citar que o empresário “vive da sabujice eterna para prestar serviços ao poder e ganhar dinheiro”. A declaração do empresário teve intervenção de Flávio Bolsonaro, que apontou ofensas pelo relator ao depoente.
Hang se recusou a responder “sim” ou “não” aos questionamentos de Renan e alegou a necessidade de contextualização das repostas. O relator perguntou a Hang se ele tinha contas no exterior e ele disse que tinha “duas ou três declaradas na receita federal” e que não tem nada a esconder. Também disse que “nunca financiou fake news”.
Sobre empréstimos, o empresário afirmou que recorreu a instituições privadas na pandemia de Covid-19, mas não procurou bancos estatais para evitar acusações de que estava sendo beneficiado com financiamento com dinheiro público em troca de apoio ao presidente Jair Bolsonaro nas eleições.