Por Daniela Arcanjo, da Folhapress
SÃO PAULO-SP – A cobertura da imprensa sobre o coronavírus é exagerada com o objetivo de derrubar o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), e os governadores têm usado politicamente a pandemia. Essas são duas das opiniões que têm ganhado as contas de influenciadores bolsonaristas em redes sociais nos últimos dias.
A adoção da expressão ‘vírus chinês’ também é recorrente. O termo passou a ser usado após imbróglio do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente, com o embaixador da China no Brasil.
Desde a descoberta do novo coronavírus, o presidente Bolsonaro adotou a estratégia de minimizar os riscos da pandemia. No dia 10 de março, disse que “muito do que tem ali é muito mais fantasia”.
No último domingo, 22, em entrevista à TV Record, disse esperar que não o culpem, no futuro, “pela quantidade de milhões e milhões de desempregados”. “Brevemente o povo saberá que foi enganado por esses governadores e por grande parte da mídia nessa questão do coronavírus”, afirmou.
Críticas aos governadores, especialmente a João Doria (PSDB), têm sido reverberadas nas redes sociais. À frente do estado de São Paulo, o tucano se coloca como possível candidato à Presidência em 2022.
Edson Salomão, presidente do Movimento Conservador, criticou o governador paulista no último sábado (21). Ele é dono de uma das poucas contas analisadas pela reportagem que não tem se referido à doença como ‘vírus da China’. “São Paulo corre perigo! Caímos nas mãos de um ser desprezível que está entregando o nosso Estado para o Comunismo Chinês visando buscar a Presidência da República em 2022! #DoriaComunista #ComunaVirus”, publicou.
Em entrevista por telefone, Salomão disse ver perseguição ao presidente pela imprensa e exagero na repercussão de suas falas. “Sobre qualquer declaração dele, que eu sei que a mídia está distorcendo, eu não vou tecer opiniões”.
“Vários governadores estão querendo tomar medidas como proibir a saída de todo mundo, essa tal da quarentena, que realmente está atrapalhando a economia”, afirma ele, que se diz a favor da quarentena apenas para grupos de risco da Covid-19. “Nós temos uma população ativa de jovens e trabalhadores que poderiam estar continuando no mercado, trabalhando, entregando serviços, abrindo comércios”.
Segundo a médica Mariângela Simão, diretora-assistente da OMS (Organização Mundial da Saúde) para a área de medicamentos e produtos de saúde, a quarentena é a resposta correta. “A medida é para espalhar a curva [de crescimento dos casos] ao longo do tempo até que você tenha uma vacina e um medicamento eficaz”, afirmou ela em entrevista à Folha de S.Paulo no último dia 18.
Em suas redes, Allan dos Santos, dono do canal Terça Livre, tem duvidado da eficiência da medida. “A estratégia agora é a da PROFECIA AUTO-REALIZÁVEL. Como os índices estão DENTRO DA NORMALIDADE, os agentes do caos dirão que tudo está funcionando graças às medidas de contenção, sendo que isso JÁ IRIA ACONTECER. Anotem”, afirmou o blogueiro no domingo.
O presidente do movimento Avança Brasil, Nilton Caccáos, diz não ter visto com bons olhos a postura beligerante que, segundo ele, partiu de Bolsonaro e de governadores. “O que estava faltando era abaixar as armas dos dois lados, tanto dos opositores quanto do governo. Eu vejo que nesses últimos dois dias têm acontecido isso. (…) Os governadores e o presidente mudaram de postura”, afirma.
Caccáos é um dos seguidores de Bolsonaro que se refere ao coronavírus como ‘vírus chinês’. Ao se justificar, diz que adotou o nome apenas porque “o vírus veio da China, e não por preconceito”. Usado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, o termo disseminou-se entre as contas bolsonaristas após briga virtual entre Eduardo Bolsonaro e a embaixada chinesa no Brasil.
Em um tuíte publicado no dia 18, o deputado culpou a China pela pandemia. Em resposta, o embaixador chinês no Brasil, Yang Wanming, afirmou que a acusação era um “insulto maléfico”. “Tal atitude flagrante anti-China não condiz com o seu estatuto como deputado federal nem [com] a sua qualidade como uma figura pública especial”, escreveu ele.
O presidente Bolsonaro disse na terça-feira, 24, que telefonou para o líder chinês, Xi Jinping, e reafirmou os ‘laços de amizade’ entre os países. Conhecido como o guru do bolsonarismo, o escritor Olavo de Carvalho tem investido contra a China. Na última quinta-feira, 19, afirmou que “só quem não gosta dos chineses é o governo chinês”.
Em transmissão ao vivo ao site Brasil Sem Medo, no domingo, Olavo afirmou, sem apresentar provas, que não há mortes confirmadas pelo coronavírus – cuja disseminação pelo mundo ele chamou de ‘suposta epidemia’. “Você não tem um único caso confirmado de morte por coronavírus, porque, para confirmar, você precisa fazer o exame de cada órgão do falecido, e onde que fizeram isso? Nunca fizeram nenhum. É a mais vasta manipulação de opinião pública que já aconteceu na história humana. Parece coisa de ficção científica”, afirmou.
Em seu site, o Ministério da Saúde afirma que o diagnóstico é feito a partir da coleta de materiais respiratórios, que são encaminhadas para o Laboratório Central de Saúde Pública. Até esta segunda-feira, o Brasil tinha 34 mortos e 1.891 casos confirmados de Covid-19.