Por Cínthia Guimarães, Especial para o AMAZONAS ATUAL
MANAUS – O ano de 2015 foi um ano turbulento para a economia brasileira, mas um período que os brasileiros decidiram investir em negócios próprios a fim de buscar uma renda mais flexível e espantar o fantasma do desemprego que já atinge 10% da população – o maior índice dos últimos 24 anos.
No Amazonas – ao contrário das expectativas de especialistas -, o número de empresas que fecharam em 2015 foi menor que em 2014, segundo estatísticas da Jucea-AM (Junta Comercial do Estado do Amazonas). Foram 2.722 empresas fechadas em 2014, enquanto registrou-se 2.641 empresas fechadas, até novembro de 2015.
Por outro lado houve redução de 2,72% no número de empresas constituídas. Em 2014, foram criadas 4.925 empresas, enquanto em 2015, o registro foi de 4.791 empresas – a maioria delas empresas de um dono só (57%), seguida por empresas de sociedade LDTA (29%).
Por sua vez, a Semef (Secretaria Municipal de Finanças, Tecnologia da Informação e Controle Interno) registrou redução na baixa de empresas. Enquanto em 2014 foram fechadas 724 alvarás, em 2015 foram 611, o que significa 15,6% menor. As baixas são de Alvará, já que empresas de serviço pagam ISS (Imposto sobre Serviços de Quaisquer Natureza) ao município.
Empreendedores não desistem
Mas há quem decidiu apostar no empreendimento próprio ao invés de se aventurar no mercado de trabalho formal. O administrador Maurício Rocha, 35 anos, é um deles. Na metade de 2015 ele fechou uma loja de artigos para celulares para abrir um lava-jato e bar no Conjunto Vieiralves, zona Centro-Sul, por acreditar na crescente demanda por serviços de qualidade em Manaus, especialmente na parte de automóveis.
“Meus pais sempre foram comerciantes. Eu tinha uma loja de venda e assistência de celular, então só fiz alteração de contrato para abrir o lava-jato. Para o empreendedor não existe crise, existe oportunidade. Na cabeça do empreendedor, ele está apostando nos serviços por ser menos complicado do que trabalhar com produto. Temos mais oportunidades de ser sucesso. Manaus é uma cidade com muitos carros, por isso decidi apostar no diferencial da lavagem ecológica”, justificou.
O comerciante Luiz Carlos ajustou seus planos, mas não fechou o negócio. Com a crise veio o aumento das despesas em geral, então ele teve que fechar o ponto na rua do Comércio, Parque Dez, onde mantinha um açougue um há quatro anos, para se acomodar em outro local. Foi então que Luiz decidiu vender a própria casa para comprar um novo terreno no bairro da União, com o propósito de construir o ponto comercial perto do antigo, a fim de manter a clientela e tirar o peso do aluguel mensal de R$ 2.300.
“Minhas despesas davam em torno de R$ 5 mil por mês, sendo R$ 2.300 só de aluguel. Vendi minha casa para comprar um terreno numa área mais barata que desse pra trabalhar, recomeçando do zero. Meu açougue funcionou na Rua do Comércio por quatro anos. Primeiro comecei como funcionário, depois comprei maquinário e aluguei o ponto. Mas eu não consegui manter as despesas do ponto. Rodei no bairro União a procura de uma área mais barata e comprei um terreno. Graças a Deus estou me mantendo neste ponto. Vendi minha casa e vim pra cá morando num quartinho nos fundos enquanto reconstruo tudo. Mas estou com esperança que vou me reerguer”, relatou Luiz que conseguiu manter as vendas com serviço de entrega de carne na casa dos clientes.
Jucea ‘sem crise’
O presidente a Jucea-AM, ex-deputado Carlos Souza, explicou que apesar da crise houve um saldo positivo na arrecadação de taxas e abertura de empresas. “Acho que o brasileiro vai à luta, com essa dificuldade de emprego procura alternativas de trabalho para ganhar o pão de cada dia. Com isso abriram muitas microempresas”, disse.
As taxas que formam a receita da Jucea são referentes a mudança de sócio, abertura de empresas e operação de capitais. “Uma pessoa que está desempregada busca alternativa de trabalho. Abre uma butique, um restaurante, essas coisas, como microeemprendedor. Hoje ele pode fazer isso com ajuda do site (da Jucea) em apenas um dia. Antes demorava um mês. Agora uma empresa mais complexa, como sociedade anônima ou cooperativa, precisa passar pelo conselho de vogais da Jucea. Demora mais um pouco”, informou Souza.
A redução da burocracia com a digitalização da Junta Comercial no ano passado também ajudou no balanço positivo, segundo Souza. “Tivemos coragem e ousadia de avançar digitalizamos a junta comercial. Hoje somos um órgão digitalizado e integrador para que você possa resolver todo e qualquer tipo de serviço através do nosso portal. Claro que temos os gargalos, uma vez que toda mudança requer acomodação”, ressaltou.